O futuro é agora?

Quantos aqui já viram o filme “Minority Report”, estrelado por Tom Cruise? Tenham visto ou não, certamente devem ser lidos comentários à respeito de seu ambiente de trabalho, onde um computador controlado por gestos e uma tela transparente linda e enorme exibia imagens de tirar o fôlego! Será que, num futuro não muito distante, as coisas serão assim? Embora estas (e outras) tecnologias ainda não estejam presentes, outras já fazem parte do nosso dia-a-dia, mas parece que não percebemos! Querem um exemplo?

Trailer do filme “Minority Report”.
http://www.youtube.com/watch?v=nQF9aEcLE7o

Aos veteranos (que já passaram da casa dos 30), vamos fazer um teste: tentem se lembrar de algum evento cotidiano qualquer da vida, mas que já tenha ocorrido há mais de 10 ou 15 anos. Para este artigo, vou me basear nos finais de semana em que os almoços de domingo promoviam a única oportunidade de ter as famílias reunidas…

Quando a minha falecida avó preparava o “rango”, ela consultava as receitas que recebia das revistas e jornais que costumavam ler. Lembro-me ainda que muitas destas receitas eram recortadas e colocadas dentro em um caderninho especial, que por sua vez continham uma série de outras dicas colecionadas durante anos, vendo programas de TVs e de rádio especializadas no assunto, como ainda temos hoje.

Embora tivéssemos uma família grande e unida, infelizmente os nossos recursos financeiros eram limitados; mas, não era o caso de alguns vizinhos e amigos. Um deles havia comprado uma câmera filmadora para registrar esses momentos e guardá-los para a posteridade. Aos que não possuíam uma câmera, restavam as boas e já conhecidas câmeras fotográficas. “Só tem mais seis fotos, não vá gastar todo o filme!”, dizia a minha tia…

E a molecada? Já que era praticamente impossível jogar no Master System, com toda aquela criançada esperando a sua vez (sem contar que já tinha “virado” o Sonic um monte de vezes)! Então, me restava ir para o quintal e inventar alguma coisa para me divertir com os meus irmãos e primos. Como não podíamos jogar futebol (para não ficar sujos na hora do almoço), tínhamos que nos contentar com os joguinhos de futebol-de-botão. Era engraçado ver que muitos botões até tinham inscritos o nome de jogadores ilustres da época, embora alguns já tivessem se transferido ou não convocados: Nélio, Marquinhos, Júnior, Rogério, Gaúcho… quem se lembra de que time esses jogadores um dia, pertenceram?

Uma certa vez (entre muitas outras reuniões de família), meu tio veio com uma sacola na mão e chamou alguns dos garotos mais velhos para um terreno aqui, nas proximidades. Quando chegamos lá, eis que nos aparece outra grande surpresa: uma espingarda de chumbinho (e desde então, sempre quis ter uma)! Nos organizávamos para atirar e, quando chegava a vez, rezávamos para que aparecesse um bicho infeliz qualquer para servir de alvo. Quantas largatixas e camaleões perderam a vida naquele dia!

Nem todos da família eram muitos sociáveis. Enquanto alguns “pintavam e bordavam” na presença de primos e amigos que há tempos não viam, outros procuravam os ambientes mais reservados. Lembro-me de um primo meu que se recolhia para o seu quarto e passava o tempo folheando certas revistas proibidas para menores de 18 anos (o que felizmente não era o seu caso). Mas por outro lado, tenho as minhas dúvidas de como é que ele fazia, antes de completar os seus 18 anos…

Infelizmente, nem todos compareciam. Alguns, devido à distância em que se encontravam; outros, devido a compromissos especiais. Em especial, a dificuldade de se comunicar na época era o fator principal. Até deixávamos recados por um amigo ou vizinho que tivesse telefone, mas nem sempre a informação era entregue; entretanto, alguns eram mais espertos e se precaviam, mandando uma carta dias antes. A tia, com a sua agenda e 1/2 dúzia de fichas telefônicas na mão, corria para o orelhão mais próximo e tentava fazer o último contato. Era uma pena que essas fichas não serviam para dar créditos nas máquinas de jogar totó…

Se tem uma coisa que posso dizer é que, em todas as reuniões de família, existem três personagens que sempre irão se encontrar presentes: o tio bêbado, a prima gata e o seu irmão marrento. Alguns até dão sorte de haverem várias concorrentes para ocupar o cargo de “prima gata”, enquanto que outros (como eu) não saberiam eleger quem seria o “tio bêbado” da família!

Eis que o almoço está pronto, anunciava a minha avó, em coro com as suas filhas e noras (que por sua vez, eram as mães da criançada, que logo atendia o chamado)! E em poucos instantes, estão todos em volta da mesa, se servindo das delícias da cozinha doméstica e contando os últimos “causos” da família: fulano que fez isso, beltrano que tomou aquilo. O nosso mundo simplesmente se resumia à vizinhança do bairro.

Quando acabávamos de almoçar, íamos descansar na sala, para “desgastar” a comida. Então, para não ficarmos estressados com os programas tradicionais de domingo, alugávamos alguns filmes em VHS para assistir. Exterminador do Futuro, Mortal Kombat… muitas vezes, nos perguntávamos se determinados recursos “futuristas” (como os hologramas de Star Wars) iam mesmo existir no futuro. Já hoje em dia…

Para muitos, eis um feliz final de semana com a família, numa época em que a tecnologia ainda não fazia parte de nossas vidas. Mas aí, pergunto: têm sido sempre assim? Com tantas novidades e avanços tecnológicos inseridos em nosso cotidiano, os hábitos e as tradições das reuniões de família dos tempos clássicos (se é que isso ainda existe) conseguiriam se manter? Ou ainda, o que mudou desde então? &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>
http://by-darkstar.blogspot.com/

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