Franquia de dados para internet fixa? Seja bem-vindo ao novo trote contra o consumidor

Franquia de dados para internet fixa? Seja bem-vindo ao novo trote contra o consumidor

Atualmente a sensação de ser passado para trás em relação ao governo brasileiro e consequentemente aos serviços que dependemos está em um nível que desagrada até o mais puritano e otimista. E essa sensação continua, e agora caom mais força com a decisão da Oi, Vivo e Net, principais operadoras de telefonia e internet fixa (responsáveis por 85% das conexões de banda larga no país), que decidiram transportar a famosa franquia de dados da internet móvel para as redes ADSL, aquelas que dependem de uma linha telefônica para funcionar.

Talvez você não esteja familiarizado com o termo franquia de dados, mas posso garantir que os efeitos durante a navegação em um smartphone por exemplo é de fácil identificação  A franquia de dados nada mais é do que um convite a se retirar do “playground do streaming e conteúdo multimídia”, já que caso você atinja o limite de navegação de um pacote contratado, uma espécie de kilometragem máxima que você pode percorrer, a sua conexão terá uma redução de velocidade. O corte da conexão não deverá acontecer, já que o Marco Civil, diz que o acesso só pode ser impedido caso a conta não tenha sido paga.

Caso você seja cliente da Oi, Vivo e Net, terá que conviver com uma espécie de “dosador invisível”, para que fique monitorando o consumo de contéudo, já que caso a sua franquia de dados seja alcançada em sua totalidade, a velocidade contratada (que aliás já não corresponde realmente ao que você contratou) será reduzida.

Este tipo de situação será extremamente prejudicial aos usuários que consomem principalmente conteúdo em vídeo , tanto de sites como o Yotube, serviços de streaming como a Netflix e claro os que são vidrados em download, via torrent por exemplo. Caso no local ainda haja um grande número de dispositivos conectados ao mesmo tempo na mesma rede, tanto por cabo como via wireless, a situação se torna ainda mais caótica, já que a franquia será dividida. 

Esse tipo de mudança irá alterar a forma como o usuário lida com a rede e com os serviços que assina. Na Netflix por exemplo há a possibilidade de assinar planos em que o conteúdo em vídeo disponibilizado esteja em SD, HD ou Ultra HD, caso o plano HD  (que consome 3 GB por hora) é o que esteja em uso, será necessário realizar alguns ajustes em relação à configuração para que a banda consumida seja menor, e claro que isso impactará na qualidade da imagem. Isso também se aplica a serviços de streaming de música como o Tidal que oferece as faixas num bitrate altíssimo, proporcionando uma qualidade de áudio superior, mas que também impactará no consumo de banda.

Embora haja todo aquele discurso burocrático das operadoras que dizem que esse tipo de mudança é benéfico para um dimensionamento de rede para todos os clientes, você bem sabe que isso é balela, com essa mudança as operadoras conseguirão implantar uma nova forma de te convencer a adquirir um plano com uma franquia de dados maior e que obviamente será mais cara.

Do lado das operadoras está a própria regulamentação imposta pela Anatel, que diz que a cobrança pode ser feito via franquia de dados. As únicas regras para que seja colocado em prática, é que a operadora disponibilize alguma ferramenta para o monitoramento do consumo de banda, além de emitir alertas para que o usuário seja notificado quando o limite contratado estiver próximo de ser alcançado.

Do lado do usuário, associações como a Proteste, que cuida dos direitos do consumidor, já está arregaçando as mangas para que tal medida seja contornada.  Inclusive já está rolando uma ação civil que tem como objetivo impedir que empresas como a Oi, NetVivo e Claro, limitem o acesso a rede tanto em conexões móveis como fixas. Porém, sabemos como as coisas funcionam no Brasil, até essa queda de braço terminar essa jogada da franquia de dados continuará valendo e prejudicando o consumidor. 

Atualmente a Net é a única que já está com esse novo modelo em prática. Caso o cliente ultrapasse o limite de dados contratado a velocidade de navegação é reduzida para o plano mais básico que gira em torno de 2 Mbps. 

As demais operadoras irão aplicar a barreira da franquia de dados em momentos específicos. a Oi por exemplo já estipulou que a partir do dia 21 de março começará a contabilizar a franquia e caso o valor máximo seja alcançado a velocidade será reduzida para 300 Kbps

A Vivo ainda não estipulou quando começará a adotar este método, mas já deixou bem claro que essa clausula já está em contrato. No mínimo irá aguardar o desenrolar dessa história, que com certeza irá bem longe.

O valor da franquia disponível de dados depende do plano contratado. Vamos a alguns exemplos:

O plano da Vivo de 200 Kbps, o mais básico oferece 10 GB de transferência por mês, o plano de 25 Mbps, a franquia está na casa dos 130 GB mensal.  Já com a Oi os valores são mais restritos aos usuários que contam com velocidades mais altas. Planos com velocidade de até 600 Kbps permitem 20 GB de franquia de dados, já o plano de até 15 Mbps oferece até 130 GB por mês.

Os valores na teoria podem parecer grandiosos numa observação mais superficial, mas caso seja analisado com cuidado é bem fácil ultrapassar esses valores em situações como download por exemplo.

A grande ironia disso tudo é que em plena ebulição de conteúdo em vídeo na mais alta qualidade de som e imagem tenhamos que começar a nos policiar novamente com a forma como navegamos na internet, nos anos 90 a grande preocupação era a velocidade de navegação, que interferia e muito em como iriamos lidar com o conteúdo, e agora numa espécie de efeito nostálgico estamos de volta em um dilema parecido, porém recheados de serviços de streaming, smarphones, sites de Torrent, entre outras coisas. Basicamente corresponde a deixar um chocólatra numa sala com bombons de todos os tipos e marcas e falar: aprecie com moderação.

Continuaremos em cima do desenrolar deste caso, que com certeza terá muitos capítulos. Enquanto isso fique atento ao modo como a sua rede se comporta, dessas companhias que irão adotar este método, e caso não seja cliente você terá esse novo fator a considerar se vale a pena ou não assinar o serviço.

 

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Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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