As 4 maiores flamewars do software livre na Internet

As 4 maiores flamewars do software livre na Internet

The top 4 internet flame wars about free software
Autor original: Andrew Min
Publicado originalmente no:
http://freesoftwaremagazine.com/
Tradução: Roberto Bechtlufft

Todo mundo conhece as infames “guerras de flames”, aquelas discussões nada polidas, cheias de opiniões claramente ofensivas sobre um determinado assunto. Cobrindo de sistemas operacionais a editores de texto, passando pelo estilo de indentação do código, essas guerras levam o caos à internet há anos. Os tópicos vão de coisas sérias como religião e tópicos geeks como sistemas operacionais ao estilo de indentação de código. Por isso, hoje vou fazer uma lista de alguns dos tópicos mais populares e lembrar de algumas das batalhas mais… “famosas”.

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Figura 1: Por Dave Fischer(http://www.cca.org/dave/), licenciada sob a CC-BY
Tradução: “Porque estamos nos escondendo da polícia, papai?” – “Porque nós usamos ‘vi’ filho, eles usam ‘emacs'”

Observação: aqui só teremos guerras relacionadas ao software livre. Nada de criacionismo x evolucionismo, aquecimento global x farsa do aquecimento global, religião (ou não-religião) x religião (ou não-religião), ou político do partido tal x político do partido tal.

Linus Torvalds (Linux) x Minix x Andrew Tanenbaum (Minix)

Esta, que é possivelmente a guerra de flames mais famosa, ocorreu em 1992, quando Andrew Tanenbaum, criador do sistema operacional MINIX, atacou Linus Torvalds e seu sistema operacional, chamando o Linux de “obsoleto”. Torvalds não é dos mais moderados (leia mais adiante sobre a infame guerra de flames que ele iniciou contra o GNOME), e caiu dentro. Não é sempre que vemos os criadores de dois sistemas operacionais populares se atacando.

Outras guerras multiplataformas da internet

O embate Torvalds x Tanenbaum não foi a única guerra multiplataforma da internet. A própria Microsoft já esteve envolvida em uma, ao divulgar estudos que afirmam que o “custo total de propriedade” (ou seja, o custo total, não apenas o preço do produto na loja) do Windows é menor que o do GNU/Linux. A Novell, e muitas outras empresas e usuários adeptos do GNU/Linux, partiram para o contra-ataque e contestaram as afirmações (há pouco tempo, a Novell tirou do ar sua página sobre a verdade). É claro que há muitas guerras entre usuários individuais, de ambos os lados, sobre tópicos como segurança, usabilidade, e facilidade de uso. Até o DARPA, a Agência de Pesquisas em Projetos Avançados norte-americana, já se meteu em uma guerra. Claro que a turma do Mac sempre marca presença com seu equilíbrio entre “segurança baseada em UNIX e facilidade de uso”. Acho que você não vai querer perder a chance de conferir a Escala de Fracasso/Sucesso dos Sistemas Operacionais para ter uma visão mais detalhada do nível de excelência/podridão de cada sistema, de acordo com o AltaVista, e a Escala de Fracasso/Sucesso do Linux, para saber o grau de excelência/podridão de cada distribuição.

Linus Torvalds (KDE) x GNOME

Aviso: Sou usuário do KDE. No entanto, isso se deve em grande parte a uma questão de hábito, e não por eu achar que ele é muito melhor que o GNOME ou outro ambiente qualquer.

A segunda guerra mais famosa também envolveu Linus Torvalds. Ele reclamou dos desenvolvedores do GNOME, dizendo que eles estavam criando um sistema para completos idiotas, e que todo mundo deveria mudar para o KDE. O que já parece ruim fica ainda pior, porque ele fez essa crítica na lista de discussão do GNOME. Jeff Waugh, desenvolvedor do GNOME, discordou educadamente. Mas Torvalds atropelou Waugh, chamando os desenvolvedores de “nazistas da interface” e atacando a equipe do GNOME. Uma guerra maravilhosa irrompeu, com direito a Christopher Blizzard dizendo que “m**** deveria ser simples pra c******“, e Christian F.K. Schaller sugerindo que talvez Linus “devesse tentar usar o GNOME por pelo menos um mês ao invés de ficar repetindo essas conclusões equivocadas“. Isso gerou a resposta furiosa de Torvalds: “Quer saber? Ontem à noite eu decidi deixar de papo e partir para a ação. Fiz uma coisa que, pelo visto, é melhor do que qualquer coisa que um usuário do GNOME já tenha feito: eu mesmo escrevi o código para resolver o problema.

Outras guerras entre GNOME e KDE

Mas essa não foi a única batalha dessa épica guerra santa que se desenrola desde 1997. Afinal, o GNOME foi criado em resposta ao KDE, que na época se baseava em bibliotecas Qt, que não eram livres (de lá para cá, o QT virou software livre). Mas hoje em dia, o foco da guerra é outro: é melhor o poder, defendido pelo KDE, ou a facilidade de uso, defendida pelo GNOME (e odiada por Torvalds)? Essas batalhas não terminam nunca, especialmente na arena do Ubuntu, onde muitos reclamam que os desenvolvedores do sistema são focados demais no GNOME e deixam de lado o Kubuntu, a versão KDE do Ubuntu.

vi x Emacs

Aviso: Eu nunca entendi como se usa o Emacs, por isso uso o vi (ou melhor, o Vim). Não pertenço ao Culto ao vi. Na maioria das vezes eu uso o Kate.

A infame guerra dos editores não é apenas uma guerra de flames. é uma guerra santa. De um lado, o grupo do vi, com o apoio do Culto ao vi. Do outro, o grupo do Emacs, liderado por Santo IGNÚcio (vulgo Richard Stallman, criador do Emacs e figura poderosa na comunidade do software livre) e a Igreja do Emacs (que, curiosamente, afirma que o Culto ao vi é “uma tentativa medíocre de copiar a igreja do Emacs”). O Culto ao vi, com membros proeminentes como Tim O’Reilly, argumenta que o vi é melhor porque, de modo geral, não exige o uso de teclas modificadoras, é menor e mais rápido, e porque a Single UNIX Specification (Especificação Única do UNIX) especifica o vi, e não o Emacs. A Igreja do Emacs, com membros proeminentes como Linus Torvalds e Peter Norvig (diretor de Pesquisa do Google) contra-ataca com uma enxurrada de recursos e plugins, com o fato do Emacs incluir o vi (viper-mode), e com o fato de não ter que alternar o modo de operação para editar documentos. Nem preciso dizer que esse pau já quebra há séculos, e deu origem até a um jogo de videogame.

Outras guerras entre editores de texto

O vi e o Emacs não são os únicos editores de texto do pedaço. Os partidários do ed afirmam que até Bill Joy, criador do vi, prefere o ed. Também tem a turma do Pico, um aplicativo não-livre mas que é um editor UNIX muito popular, do nano, um clone livre do Pico, do JOE (Joe’s Own Editor, o editor do Joe), um clone em WordStar/Turbo C, e do mcedit, o editor de texto do Midnight Commander. Algumas das batalhas: Pico x vi, nano x vi, vi x Emacs x Pico e até Emacs x vi x Bloco de Notas. Você não vai querer deixar de conferir a Escala de Sucesso/Fracasso dos Editores de Texto, que mede o grau de excelência/podridão de cada editor de acordo com a internet.

Estilos de indentação: Kernighan & Ritchie (K & R) x ANSI/BSD/Allman

Aviso: Depois de muito pesquisar, descobri que sou um programador do estilo Allman, porque acho mais prático fazer as coisas desse jeito. Mas isso não me interessa tanto a ponto de eu me envolver em uma guerra de flames sobre o assunto.

Quando Kernighan e Ritchie escreveram seu primeiro livro sobre C, sem querer eles deram início a uma grande guerra santa em torno da indentação de código. O estilo de Kernighan e Ritchie deixa a abertura de chaves ({) na mesma linha da declaração de controle, com as chaves de função na linha após a declaração, ambas com a mesma indentação. Os discípulos de Kernighan e Ritchie chamam isso de “The One True Brace Style” (algo como “O Único Estilo de Chaves Verdadeiro”). Mas logo veio a oposição, principalmente do estilo Allman, a indentação padrão dos documentos que descrevem o C padrão ANSI. Esse estilo deixa a chave de abertura na linha posterior à declaração de controle, no mesmo nível de indentação. Essa guerra santa vem desde os primórdios da programação até nossos dias, e não deve acabar tão cedo. Alguns tópicos populares para batalhas são nomenclatura de variáveis, clareza x estilo e legibilidade x tamanho da tela. E claro que, ainda que a questão se resolva, sempre haverá a pergunta: quantos espaços você usa para indentar o código?

Outras guerras de estilo de indentação

Claro que o Estilo Único de Chaves e o estilo de Allman não são os únicos do pedaço. Também temos o KNF do BSD, que é basicamente o K & R com mais especificações, o estilo de Whitesmiths, com a primeira chave indentada na linha após a declaração de controle e o estilo GNU, criado por Richard Stallman, com as chaves na linha seguinte à declaração de controle, indentadas dois espaços, e com o código entre chaves também indentado dois espaços.

Créditos a Andrew Minhttp://freesoftwaremagazine.com/

Tradução por Roberto Bechtlufft <robertobech at gmail.com>

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