Recentemente a Western Digital anunciou o WD Passport Pocket Drive, um microdrive USB de 6 GB, que chama a atenção pelo tamanho reduzido. Ele mede 6.1×4.5×0.9 cm e pesa apenas 50 gramas:
O plug USB é retrátil e pode ser girado até 90 graus em qualquer sentido, permitindo que você instale o drive sem bloquear as portas adjacentes. Abrindo o encapsulamento, você encontra um cartão compact flash, contendo o microdrive e também a a placa controladora, baseada num chip CY7C68300.
A princípio, ele concorreria com os pendrives como opção de armazenamento portátil, oferecendo uma opção de alta capacidade para quem não pode abrir mão da portabilidade. O preço até que não é ruim se comparado com microdrives de outros fabricantes. Ele custa US$ 80 na loja da WD e pode ser encontrado por até US$ 60 em algumas lojas online.
O problema é que os pendrives e cartões caíram muito de preço de um ano pra cá. No início de março já era possível comprar um pendrive de 4 GB por US$ 30 no Ebay, com os de 8 GB custando a partir de US$ 60. Ou seja, o preço da memória Flash caiu tanto que o custo por megabyte já é equivalente:
Se você não se importar de ter um desempenho pouca coisa inferior, poderia também comprar um cartão SD no lugar do pendrive. Mesmo incluindo os 3 ou 4 dólares de um adaptador, o cartão SD acaba saindo quase sempre um pouco mais barato.
Note que estou citando apenas os preços no exterior, já que aqui no Brasil a variação é grande demais para fazer qualquer análise de preços. Se você tem interesse em algum destes itens, pesquise o preço atual no Ebay, multiplique o valor pela cotação do dólar do dia, adicione 60% de imposto de importação e mais uns 10 dólares do frete e você terá o valor pelo qual pode comprar o produto legalmente aqui no Brasil.
Para um ítem de 80 dólares, por exemplo, você acabaria gastando cerca de R$ 290 (calculando pelo dólar a R$ 2.10). Não existe muito mistério, basta ter um cartão internacional, criar uma conta no PayPal e em seguida no Ebay e pesquisar pelos vendedores que enviam para o Brasil. O vendedor declara o conteúdo do pacote e o valor e a alfândega usa estas informações para calcular o valor dos impostos.
Para muitos itens realmente vale mais a pena arriscar comprar no Ebay do que tentar comprar pelo ML ou lojas nacionais.
Voltando à questão dos microdrives, a capacidade de armazenamento de um HD é diretamente relacionada ao tamanho da superfície de gravação e, consequentemente, ao diâmetro dos discos. Ao reduzir o tamanho físico do HD, a superfície de gravação fica exponencialmente menor, permitindo gravar menos dados. Apesar disso, os demais componentes continuam custando quase o mesmo (ou até mais, dependendo da escala de miniaturização necessária). Isso faz com que o custo por megabyte cresça, conforme o tamanho físico do HD diminui. Uma exemplo prático disso é a diferença no custo dos HDs de 2.5″ para notebooks e os modelos de 3.5″ para desktops.
A partir de um certo ponto de miniaturização, o custo por megabyte se torna mais alto que o dos cartões de memória flash e os HDs deixam de ser viáveis. O melhor exemplo é o HD de 0.85″ apresentado pela Toshiba em 2005, que tinha como objetivo atender o mercado de palmtops e smartphones. Ele era tão pequeno que podia ser produzido no formato de um cartão SD e possuía um consumo elétrico baixíssimo:
O problema é que ele seria lançado em versões de apenas 2 e 4 GB, com preços a partir de US$ 150. Com a rápida queda no custo da memória flash, logo surgiram cartões de 2 e 4 GB que custavam menos, de forma que o mini-HD acabou não encontrando seu lugar no mercado e foi descontinuado silenciosamente.
A Hitachi chegou a anunciar o desenvolvimento de microdrives de 20 GB, utilizando tecnologia de gravação perpendicular, que deveriam ter chegado ao mercado agora no início de 2007. Eles seriam o “topo de linha” dos microdrives, mas a produção em série parece ter sido cancelada.
Os chips de memória Flash são mais compactos, consomem menos energia e são mais resistentes mecanicamente. O único ponto em que os microdrives poderiam dar combate seria na questão do desempenho e da durabilidade, já que a memória Flash tem sua vida útil medida em ciclos de leitura ou gravação, enquanto os HDs podem resistir a 5 anos ou mais de uso contínuo.
Se compararmos o desempenho de um HD de 3.5″, de 7200 RPM, com o de um pendrive, teremos uma briga apertada. O HD ganharia por uma boa margem em leitura seqüencial; mesmo um HD relativamente barato, como o SAMSUNG SP2504C, de 250 GB, atinge facilmente 60 MB/s ao ler dados seqüenciais na borda do disco, enquanto um pendrive dificilmente passa dos 30 MB/s. Entretanto, o pendrive dá uma surra na questão do tempo de acesso, onde teríamos 12 ou 13 milessegundos para o HD e menos de 100 nanossegundos para o pendrive, mais de 100.000 vezes menos.
É por isso que os pendrives podem ser usados para melhorar o tempo de carregamento dos programas no Vista, através do ReadyBoost. Apesar da taxa de leitura ser mais baixa, eles são muito mais rápidos ao ler arquivos pequenos.
No caso do Passport Pocket e outros microdrives, a comparação seria mais desigual, pois neles os discos giram a apenas 3.600 RPM e o menor diâmetro dos discos faz com que sejam lidos menos dados por rotação do disco, fazendo com que as taxas de leitura sejam ainda menores. O Passport Pocket possui um tempo de acesso de 11 milessegundos (nada mal para um HD), mas a taxa de leitura seqüencial fica em torno de apenas 12 MB/s (nas trilhas externas), o que o deixa atrás até mesmo dos cartões SD mais baratos.
Com relação à vida útil, os chips de memória Flash atuais são, em sua maioria projetados para suportarem até 1 milhão de ciclos, o que é bastante coisa. Mesmo assim, para evitar cenários onde algumas poucas células fossem regravadas continuamente, fazendo com que falhassem prematuramente, os controladores atuais utilizam o sistema wear levelling, onde feito uma espécie de “rodízio” dos endereços mais acessados entre as células do cartão, evitando a fadiga de alguns endereços isolados.
Outra função adotada é o remapeamento dos endereços defeituosos, onde um setor de uma área reservada passa a ser usado em seu lugar. Isto é muito similar ao sistema utilizado nos HDs modernos, onde a controladora também é capaz de remapear os badblocks automaticamente. Grande parte dos cartões de memória Flash já saem de fábrica com alguns setores defeituosos remapeados (assim como os HDs). Isso permite que os fabricantes aproveitem módulos que de outra forma precisariam ser descartados, reduzindo o custo de forma considerável.
Graças a tudo isso, a probabilidade de um pendrive ou cartão falhar depois de alguns anos levando junto todos os seus dados é relativamente remota, menor que a de um HD, que é constituído de componentes mecânicos, que resultam em falhas mais freqüentes e dramáticas.
No caso dos HDs de 3.5″ e 2.5″, a grande capacidade faz com que o custo por megabyte dos HDs seja muito mais baixo. Se você precisasse de 150 GB de espaço para fazer backup dos seus arquivos, por exemplo, tentar usar memória flash seria inviável.
O concorrente mais próximo seriam os SSDs (Solid State Drives), que são unidades de memória flash com uma grande capacidade de armazenamento, produzidas para serem utilizadas diretamente no lugar do HD. Atualmente existem SSDs de até 128 GB, mas o o custo ainda é proibitivo.
Quando falamos em microdrives, a história é um pouco diferente. O custo de produção de um microdrive não é muito diferente do de um HD de 3.5″, mas tanto a capacidade, quanto o desempenho são brutalmente menores. Se a memória flash continuasse custando US$ 100 por gigabyte, como tínhamos a dois anos atrás, os microdrives seriam competitivos, mas com os preços atuais eles são uma presa fácil.
Vendo este cenário, é fácil perceber por que a Apple optou por substituir o microdrive usado no iPod Mini por memória flash e por que o Palm Life-Drive foi descontinuado sem deixar um sucessor.
Para a felicidade de alguns e a tristeza de outros, os microdrives estão sendo riscados do mapa. Produtos como o Passport Pocket da WD estão mais para um último fôlego do que o renascimento do segmento. Nos próximos meses, os microdrives tendem a cair de preço, pois os fabricantes e vendedores farão o possível para se desfazer dos estoques, mas em seguida eles acabarão silenciosamente descontinuados, sobrevivendo apenas em nichos muito específicos, onde, por um motivo ou outro, a memória flash não seja utilizável.
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