O fim da arte de fotografar

O fim da arte de fotografar

Sou apaixonado pela arte da fotografia. Mas, ao invés de investir em um caro equipamento profissional, optei por adquirir uma câmera prosumer, que se situa na mais alta posição entre as máquinas da classe amadora. Assim, ao mesmo tempo que possuo uma certa flexibilidade em relação à disponibilidade dos recursos mais interessantes, também faço economia ao ter optado por um equipamento mais em conta. No entanto, venho tendo certas dificuldades em realizar fotografias de melhor qualidade, se comparadas ao modo automático das câmeras digitais compactadas da atualidade…

A nova Canon PowerShot G12: em destaque, a capacidade de tirar fotos HDR.

Existem vários tipos de regulagens que precisam ser consideradas, a saber:

  1. A sensibilidade ISO;
  2. A velocidade do obturador;
  3. A abertura focal;
  4. A distância focal;
  5. A exposição;
  6. Entre outras…

Visão superior da Canon PowerShot G12: em destaque, três os discos responsáveis pelo ajuste e configuração dos recursos essenciais da câmera.

Todos elas geram um grande impacto na qualidade geral das fotos, embora existam outros parâmetros que não chegam a afetar tanto assim. Mais do que isso: tais regulagens influenciam-se mutuamente, onde a definição de determinados valores para cada tipo de regulagem pode afetar radicalmente os demais ajustes. Por exemplo, a sensibilidade ISO e a velocidade de abertura devem ser bem equilibradas, para não afetar a clareza e nitidez das fotos…

A começar pela sensibilidade ISO, quanto maior o valor usado, mais clara ficará a imagem; em contrapartida, perde-se gradualmente a nitidez, devido à apresentação de ruídos excessivos proveniente da exposição do sensor. Pois bem: geralmente, utilizo o valor 100 para ambientes bem iluminados, deixando para usar o valor 200 em condições não tão boas (como os ambientes nublados) e o valor de 400 em condições de pouca iluminação (como em locais fechados). À partir do ISO 400, a qualidade da imagem em geral começará a ser afetada de forma mais agressiva (dependendo do ambiente), o que me obriga a utilizar as demais regulagens para “compensar” estas limitações.

Então, aciono a regulagem manual para definir a melhor velocidade do obturador. Em geral, utilizo velocidades à partir de 1/15, equilibrando-as de acordo com a movimentação da cena: quanto menor for a velocidade do obturador, maiores serão as chances das fotos saírem borradas. Em cenas estáticas (como a pose da família reunida), tenho condições de usar velocidades baixas (1/15), embora um simples movimento possa deixar a foto borrada; mas, em um evento mais movimentado (como uma festa de aniversário), dificilmente utilizo algo menor que 1/30 ou 1/40, deixando de respirar por alguns instantes e concentrando-se ao máximo no melhor momento de apertar o botão. E então… “click”! 😉

Por fim, ao garantir o equilíbrio entre a melhor sensibilidade ISO e a velocidade do obturador, entra em cena as regulagens necessárias para definir a melhor abertura focal. Ela é responsável pelo enquadramento da fotografia, dando a noção desejada de profundidade de campo: quanto maior a abertura (p. ex. f=2.8), o foco se ajusta para uma área maior, aumentando o ângulo de visão, ao passo que o quanto menor for a abertura (p. ex. f=11), o foco ficará concentrado em um determinado ponto, diminuindo o ângulo de visão. Como se não bastasse, a definição do foco também afeta a definição dos objetos no plano de fundo, pois quanto maior for a abertura, mais desfocado tais elementos ficarão. Embora tais efeitos possam ser bastante úteis em fotografias artísticas, eles precisam ser bem definidos para que possamos obter um bom resultado.

A abertura focal também afeta a clareza da imagem: quanto mais aberta, mais clara ficará a foto devido à maior quantidade de luz em que o sensor será exposto, ao passo que quanto mais fechado, ocorre exatamente o contrário. E para complicar toda esta situação, o zoom óptico também afetará nos valores de regulagens da abertura focal: quanto maior for o zoom aplicado, mais a abertura focal tende a se fechar, estreitando as opções de ajustes disponíveis. Por esto (e muitos outros) motivos, as câmeras fotográficas profissionais possuem lentes intercambiáveis: para dar ao fotógrafo, uma maior flexibilidade para definir todos estes parâmetros, bastando apenas que ele escolha a lente adequada para os seus propósitos. Por sinal, tais lentes são tão caras o quanto as câmeras…

Somente em último caso, uso os altos valores de sensibilidade ISO.

Então, perceberam o quanto é complicado definir os melhores ajustes possíveis? E olha que nem comentei da necessidade de definir as exposições certas, pois se definirmos mal tais parâmetros, as fotos poderão ficar escuras (sub-expostas) ou claras (super-expostas), sendo este último caso o mais crítico: uma foto sobre-exposta, detalhes que podem ser importantes em uma fotografia ficam perdidos, pois ao invés do sensor captá-las, teremos apenas uma área totalmente branca (o que chamamos de “estouro”). Para variar, as compensações (seja via hardware ou software) podem trazer situações indesejadas, como um esbranquiçamento exagerado nas fotos ou a perda de naturalidade das cores…

Exemplo de foto super-exposta.

Mas (infelizmente) nem todos os consumidores são aficcionados pela arte de fotografar. Ao invés de explorarem à fundo o tema, eles apenas querem registrar uma imagem dos momentos felizes de suas vidas. Para estes usuários, os fabricantes criaram uma categoria de câmeras chamadas point-and-shot, que em português quer dizer: “apontar e fotografar”. E uma vez que eles possuem poucos conhecimentos técnicos, a capacidade da câmera em registrar as cenas, mas com todas as regulagens necessárias feitas automaticamente, se torna uma característica fundamental para a aceitação dos seus equipamentos. E a cada nova geração, mais refinamentos tecnológicos são feitos, tornando o dispositivo totalmente independente da intervenção manual.

Para variar, as limitações e o comodismo dos usuários levaram os fabricantes a desenvolverem os modos de cena pré-programados, onde com apenas um simples giro em um botão, todas as regulagens necessárias para determinados tipos de cenas são feitos, facilitando ainda mais o trabalho do fotógrafo casual a tirar as suas fotografias. Para se ter uma ideia dos modos existentes, eis uma lista básica da maioria dos modos encontrados nas câmeras digitais:

  1. Animais;
  2. Auto-retrato;
  3. Closes;
  4. Entardecer;
  5. Esportes;
  6. Fogos de artifícios;
  7. Interiores;
  8. Noturnas;
  9. Paisagem;
  10. Pôr do Sol;
  11. Praia / neve;
  12. Retrato.

Não é que isto seja ruim, muito pelo contrário; mas, cadê aquela empolgação e entusiasmo de se esforçar para tirar a mais bela e incrível fotografia?

Aos poucos, a boa e velha arte de fotografar vai sendo banalizada, onde os sites especializados em fotografia recebem mais materiais de pessoas que se interessam em formar comunidades sociais a que a fotografia propriamente dita. Por fim, com a popularização dos smartphones com as suas limitadas câmeras fotográficas (mais ainda que as câmeras compactas tradicionais, por mais que as evoluções tecnológicas tentem contornar o problema), estaremos assistindo a mais uma fase desta triste história…

Estou exagerando? Talvez. Mas tenho certeza absoluta que muitos irão concordar comigo. Ao menos, em parte! &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei [at] hardware.com.br>

http://www.darkstar.eti.br/

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