Rolling in Mint
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no: distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Há muitas coisas no Linux Mint que me agradam. Para começar, ele não tenta reinventar a roda. O Mint está mais para um aprimoramento do Ubuntu do que para uma distro totalmente independente. Ele está mudando (na minha opinião, melhorando) a experiência do Ubuntu, sem ter que começar tudo do zero. Basicamente, isso significa que a equipe do Mint consegue apresentar novas ideias e recursos aos usuários sem desperdiçar recursos com a base do sistema. Outro ponto a favor do Mint é que em vinte minutos você instala todo o sistema, sem ter que configurar nada nem acrescentar repositórios. É como se você pedisse uma pizza e ela fosse entregue quentinha na sua casa meia hora depois.
Há quem prefira escolher a massa e todos os complementos para ter uma pizza do jeitinho que deseja, mas se você só quer uma boa pizza, agora, sem complicação, o Mint é uma ótima opção. Mas não tem só uma opção não, o usuário pode escolher entre edições com GNOME, KDE, Xfce, LXDE, Fluxbox, OEM e sem software não livre, tanto em 32 quanto em 64 bits. Aparentemente os desenvolvedores (e a comunidade do Mint) decidiram que seria melhor ter mais edições, então a equipe preparou o LMDE (Linux Mint Debian Edition). Ao contrário de outras edições do Mint, baseadas no Ubuntu, o LMDE usa pacotes do repositório do Debian Testing, e pode ser atualizado indefinidamente de uma versão para a outra, sem a necessidade de reinstalação.
De acordo com o site do Linux Mint, o LMDE é compatível com o Debian mas não com o Ubuntu, e é uma experiência para ver como o Mint se sai como “cobertura de outros bolos”, tornando-se mais independente. Como esta ainda é a primeira fase da experiência com o Debian, apenas a versão em DVD de 32 bits com o GNOME do LMDE está disponível. Baixei a ISO do site do projeto e experimentei.
Linux Mint 201009 “Debian” – navegação na internet e multimídia
O live DVD, que tem por volta de 875 MB, começa abrindo uma breve série de telas de texto que levam a um desktop GNOME de tema verde. Há alguns atalhos para pastas no desktop, e um link para o instalador do sistema. A barra de tarefas e o menu de aplicativos ficam na parte inferior da tela. De modo geral, o desempenho do sistema é bom se levarmos em conta que ele está rodando a partir do live DVD.
Testei o “Mintian” em dois computadores físicos e em uma máquina virtual. Nas duas situações o resultado foi bom, e o Mint detectou e usou corretamente todo o hardware tanto no meu laptop HP com CPU dual-core de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel quanto no desktop genérico com CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo da NVIDIA. Até a rede sem fio da Intel, que costuma ser meio problemática no Linux, funcionou sem que eu tivesse que mexer em nada. No ambiente do VirtualBox, o Mint apresenta uma perfeita integração do mouse. Empolgado pelos testes da edição live da distro, iniciei o instalador.
O instalador da edição Debian do Mint é um pouco diferente do instalador da edição padrão. Embora os dois tenham o mesmo estilo e apresentem as mesmas etapas, há algumas pequenas diferenças. Depois de escolher o idioma, o fuso horário e o layout de teclado, chegamos à seção de particionamento. Esta parece ter sido a tela que mais sofreu alterações. Quando optei por editar as partições, o GParted foi lançado. Criei as partições e configurei os pontos de montagem, dando um clique duplo na entrada da partição correspondente. Eu preferia que houvesse um botão bem óbvio para edição das partições, mas o instalador está estreando agora. Com certeza ele vai ficar redondinho conforme as pessoas forem compartilhando suas opiniões. Depois dessa parte chegamos à familiar seção de criação de uma conta de usuário comum e de confirmação do local de instalação do GRUB (é possível optar por não instalá-lo). O instalador copia os arquivos necessários e a instalação é concluída. Basta reinicializar para que o usuário seja levado à tela de login gráfico.
Linux Mint 201009 “Debian” – instalador do sistema
Na primeira vez em que um usuário faz login no desktop, uma janela de boas vindas exibe links para o fórum, o site do projeto e outros locais úteis. Logo depois eu percebi que havia atualizações disponíveis para o LMDE. Na verdade, apenas dois dias após o anúncio de lançamento desta versão, notei que 280 atualizações estavam esperando para serem instaladas. No dia seguinte havia mais cinco, e no outro mais quatro… distros com atualização infinita não são para os que não têm uma boa conexão com a internet.
A primeira leva de atualizações demorou mais do que eu esperava por que eu me afastei do computador depois que o download começou para fazer outras coisas. Quando voltei, as atualizações tinham sido baixadas, mas o sistema aguardava a minha confirmação para fazer a instalação. Depois veio outra pausa, com o aviso de que o GRUB estava tentando ser atualizado mas que não sabia onde deveria ser instalado. A terceira pausa para confirmação veio antes do processo de atualização ser concluído. Depois da primeira coleção gigante de pacotes, as atualizações posteriores foram aplicadas sem problemas. Não sei se o problema do GRUB foi causado por um problema do gerenciador de inicialização, do instalador ou de alguma outra coisa, mas acho que o problema está relacionado às UUIDs do sistema.
Linux Mint 201009 “Debian” – ferramentas de administração do sistema
A edição Debian em DVD do Linux Mint vem com uma boa seleção de software. No menu de aplicativos temos Firefox 3.6.8, OpenOffice.org 3.2, Thunderbird, F-Spot, GIMP, Transmission, Pidgin e MPlayer. O usuário também encontra gravador de CDs, compactador de arquivos, editores de textos, VLC, Rhythmbox e todas as ferramentas de configuração do GNOME. Também há aplicativos para a configuração do firewall, programas para subir ou compartilhar arquivos e o GParted. Como outros membros da família, o LMDE vem com codecs para a reprodução de formatos de mídia populares e com o plugin do Flash para o navegador. Tudo isso funcionou numa boa de primeira aqui nos meus computadores.
Fiquei surpreso em ver o Firefox e o Thunderbird com seus verdadeiros nomes: a equipe do Debian chama seu Firefox modificado de Iceweasel, e o seu Thunderbird de Icedove. As versões desses programas também me surpreenderam, já que a versão do Icedove no Debian Testing é a 3.0, e a do Iceweasel é a 3.5.12. Parece que a equipe do Mint está puxando esses programas de seu próprio repositório, em vez de depender dos pacotes do Debian.
Por falar em pacotes, o LMDE use a habitual família APT de programas para adicionar, remover e atualizar software do sistema. A distro também vem com duas interfaces gráficas: o Synaptic e o Software Manager, dois programas com estilos bem diferentes. O Synaptic é cheio de detalhes e opções, sendo mais adequado a quem está familiarizado à forma como os pacotes funcionam no Linux. Já o Software Manager tem interface simplificada, que abre mão de alguns recursos para ser mais fácil de usar por novatos. Usei os dois programas para instalar e remover programas, e ambos funcionaram sem problemas.
Linux Mint 201009 “Debian” – gerenciamento de pacotes
De modo geral, eu gostei do desempenho do LMDE. De acordo com o site do Mint, esta edição deve ser um pouco mais rápida do que a edição principal do Mint, baseada no Ubuntu; eu não vi muita diferença. O tempo de inicialização foi praticamente o mesmo nas duas edições. Com o desktop aberto, o desempenho e o tempo de resposta também se mostraram quase idênticos no meu hardware. O que eu notei foi que o LMDE consome poucos recursos. Fiz alguns testes com configurações de memória diferentes em um ambiente virtual, e descobri que o LMDE rodava seu desktop muito bem com 512 MB de RAM. Era possível fazer login e abrir aplicativos mesmo com 256 MB de memória, mas aí o desempenho já era pior. Com a partição swap ativada, deu para abrir o GNOME com apenas 128 MB de RAM, mas o desempenho caiu tanto que ficou impraticável usar o sistema.
Por mim, o desempenho do LMDE não foi nem melhor nem pior do que o da edição principal do Mint. O que me leva a pensar: será que se alguém instalasse o Mint comum e o Mint baseado no Debian em dois computadores e eu já os pegasse com o desktop aberto, eu conseguiria diferenciar um do outro? Sem conferir os repositórios utilizados, francamente eu não acho que conseguiria. Os dois Mints têm os mesmos aplicativos, usam os mesmos temas e parecem idênticos. Isso mostra que a equipe do Mint atingiu seu objetivo de tornar a camada do Mint independente da distribuição utilizada. Está provado que o Mint pode trocar sua base se for necessário, ganhando a liberdade de escolher a plataforma mais adequada às suas necessidades.
Tem uma coisa que me preocupa na edição LMDE: o momento em que ela é lançada. A edição com o Debian saiu numa época em que os repositórios do Debian Testing estão relativamente quietos. No momento, o Debian está num estágio em que não são incluídos novos recursos, apenas bugs são corrigidos para que a próxima versão estável seja lançada. Nessa fase, o repositório do Testing (utilizado pela distro) fica relativamente calmo. Mas quando o Debian Squeeze sair, se o LMDE continuar usando o repositório do Testing, os usuários vão ser bombardeados por pacotes migrando do Unstable para o Testing. O sistema aparentemente estável de hoje pode virar uma viagem perigosa amanhã.
Se levarmos em conta que se trata do primeiro teste de uma nova plataforma, esta versão do Mint impressiona. Mas eu fico me perguntando se todo o trabalho investido neste projeto não vai beneficiar a um grupo proporcionalmente pequeno de usuários. Há três pontos chave no LMDE: o repositório do Debian Testing, a camada do Mint e a atualização infinita. Eu acho que quem realmente gosta do Mint e não curte ficar reinstalando o sistema ainda estará melhor servido com a edição principal do Mint, que oferece suporte estendido. Usuários familiarizados com o Debian ao ponto de querer usar o Debian Testing provavelmente vão se sentir mais confortáveis instalando o próprio Debian. Quem usa uma distro de atualização infinita para contar com as tecnologias mais recentes não vai encontrar isso no Debian Testing. Minha conclusão é a de que o LMDE é para quem quer rodar especificamente o Debian Testing, mas quer ter tudo pré-instalado e pré-configurado. Para esses usuários, o Mint talvez ofereça a melhor solução do mercado.
Créditos a Jesse Smith – distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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