Caro leitor você que acompanha o Hardware.com.br a bastante tempo, desde que ele ainda era Guiadohardware.net, ou então você que é um novo por aqui, quantos ciberataques você considera realmente marcantes e que mudaram nossa perspectiva sobre esses tipos de invasões? Confesso a você que fico meio em cima do muro com todo esse discurso que o hacktivismo prega. Termo esse que descreve os hackers que carregam alguma ideologia política, liberdade de expressão, cumprimento de regras, etc e tal. Mas em muitos casos eles seguem a ideologia do CAOS, promovem o ataque a algum serviço que muitas pessoas utilizam apenas porque não gostam de tal posicionamento de determina empresa. Do outro lado temos companhias e nações agindo em conjunto para beneficiar seus próprios interesses em detrimento da população, o que acarreta a “fúria” dos Hacker, Crackers e afins.
Com tudo isso, promovo o seguinte questionamento, estamos diante do embrião de uma grande ciberguerra entre nações, empresas, e hackers? Uma teoria desenvolvida pelo cientista político Kenneth Waltz, chamada Tese da Paz Nuclear, garante que com o advento de bombas nucleares os países se sentem mais receosos a iniciarem grandes conflitos, de acordo com o cientista armas nucleares fazem o custo de uma guerra parecer assustadoramente alto. E com toda a devastação que bombas desse tipo podem causar faz com que a maioria das nações que a possuem cheguem a algum acordo diplomático, com base em conversas e taças de champanhe. Mas e as ciberguerras, será que entram na base da teoria da paz nuclear, com o seguinte adendo, nações que possuem um alto departamento de hackers, irão evitar o conflito com outras nações que também possuam um alto “exército hacker”? Ao que parece somente com as bombas e guerras convencionais essa tese funciona, o vazamento de informações da Sony Pictures foi o cartão de boas vindas da dimensão que uma cibeguerra poderá ter daqui alguns anos. Esse ataque conseguiu movimentar e aproximar de fato nações e empresas para o que conhecemos como guerra. Talvez você esteja pensando agora – não da pra comparar uma guerra movida a bombas, munições e combate corpo a corpo com um servidor ficando fora do ar ou um e-mail falando mal da Angelina Jolie, concordo com você, realmente são dimensões totalmente diferentes, mas e se o alvo do ataque for uma usina nuclear, por exemplo? E se o ataque foi direcionado para um marca-passo, ou então sabotar alguns desses smartcarros que irão inundar o mercado daqui alguns anos?
A tecnologia invisível está reforçando o conceito da ciberguerra, você não apenas irá utilizar um serviço ele fará e em muitos casos já faz parte do seu organismo. Briguinhas de egos entre os grupos hackers podem desencadear uma total subversão de inúmeros serviços que você utiliza. Derrubar a PSN ou XBOX Live é a ponta do iceberg, o toque de recolher mesmo é o que a Coreia do Norte vem enfrentando, com instabilidade em sua internet e até o total cancelamento do serviço por algumas horas.
Há um termo bastante usado que se chama Tecnologia Desruptiva, que é quando algum serviço utiliza alguma estratégia (as vezes ilícita) para causar uma disfunção na tecnologia atual, em vez da inovação. Nos somos enganados por certos produtos ou serviços que se passam por revolucionários, inovadores e preciosos. E porque não podemos considerar a segurança da maioria dos serviços que nós utilizamos como uma segurança desruptiva? Em que pontos as “inovações” em segurança oferecidas pelas organizações protegem você de ataques cibernéticos e até da sua própria nação? Recentemente publicamos um estudo feito por um laboratório de pesquisa que indica que em 2025 a nossa privacidade será apenas uma mera lembrança. Seria bom acrescentar que até 2025 podemos ter ciberataques em proporções nunca inimagináveis, dada a gama de novas tecnologias e gadgets que irão encher o mercado com a explosão da Internet das Coisas. Quer um aperitivo maior para uma ciberguerra do que 50 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo até 2020? Isso é mais do que suficiente para incentivar grupos hackers ligados ou não ao governo para iniciarem ataques dessa categoria.
Em setembro durante uma reunião da alta cúpula da Otan, as potências congregadas na Aliança militar do Atlantico norte incorporaram medidas de ciberguerra ao seu plantel, tudo isso graças ao conflito russo-ucraniano. A Otan elaborou uma nova “politica de ciberdefesa reforçada” (Enhanced Cyber Defense Policy), que significa que um ataque as redes de um pais membro, será considerado como uma ação ofensiva de uma guerra convencional. Lembro-me em 2012 quando Euge Kaspersky um dos maiores especialistas em ameaças virtuais, alertava que a ciberguerra já havia começado. Kaspersky comentava sobre o terrorismo se instalando na ciberguerra, o que permitiria que os ataques tivessem uma nova gama de participantes. Hoje em dia temos uma nova onda de ataques ganhando cada vez mais vítimas que são os Ransonware, malware que sequestra dados e pede um valor para que as informações sejam devolvidas, um dos fundamentos do crime convencional aplicado ao cibercrime. Eu acredito que com a proliferação desse tipo de ameaça esses hackers fanáticos em adquirir fotos íntimas de alguma celebridade, vão preferir muito mais “cobrar o resgate” do que sair repassando as imagens por ai sem nenhuma utilidade aparente. A ciberguerra é isso, conceitos do crime como conhecemos aplicados a tecnologia em escalas que fogem do nosso entendimento.
A grande maioria das pessoas já esperava uma guerra desse porte, isso faz parte da evolução natural dos tempos, passamos de enormes exércitos, para mecanização e agora a era da informação, onde a briga ocorre justamente pela informação, um dos maiores bens que alguém pode ter hoje em dia. Mas mesmo esperando por isso, nunca conseguimos prever à proporção que isso irá ter, até que aconteça. Quase todo mundo desconfiava ou tinha certeza que os EUA vigiavam a todos, mas ninguém tinha ciência de tamanha dimensão até que Edwarn Snowden, nos fez o favor de jogar no ventilador. Até 2010 acreditava-se que o roubo de identidade seria o maior perigo de uma ciberguerra, até que as usinas nucleares começaram a ser alvo de ataques, mas isso é aceitável, Bill Gates acreditava no final dos anos 80 que 640k de memória seriam suficientes para todos. Todos nós em algum momento pecamos em dimensionar para menos as consequências que uma ideia originaria em algum momento poderá ter, e a ciberguerra é uma das maiores. Se você sair perguntando por ai muitas pessoas ainda irão atribuir a ciberguerra a algum computador atacando o outro, ou então uma briga entre dispositivos, mas poucas vão dimensionar realmente a catástrofe que essa guerra pode gerar.
Você deve estar me achando o cara mais pessimista de todos, mas acredite tem alguns bem piores. Um deles é o presidente do instituto nacional de Estudos da Segurança Global russo, Anatoli Smirnov que afirmou no ano passado que podemos estar a beira de uma ciber-Hiroshima, onde teremos cada vez mais hackers tentando resolver problemas de justiça informativa, ou da defesa da soberania informática de algum pais, usando suas próprias habilidades, gerando efeitos parecidos como o de uma bomba, devido ao raio de ação que isso pode desencadear. A Coreia do Norte e a Sony nos ofereceram o passaporte para o embarque a uma nova proporção do que conhecemos como ciberterrorismo, “apertem os cintos” a viagem vai ser longa!
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