Entendendo o UMPC (Origami)

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Entendendo o UMPC (Origami)

Os fabricantes sempre querem faturar mais. A melhor forma de conseguir isso é simplesmente lançar novos produtos, que levem os compradores a substituir seus equipamentos antigos.

Embora seja uma empresa de software, a Microsoft também se alimenta deste ciclo, pois a maior parte dos PCs e notebooks vem com o Windows pré instalado. Quanto mais são vendidos, mais eles ganham. É neste contexto que chegamos ao Origami, um projeto conjunto entre a Microsoft e vários fabricantes, que propõe uma nova categoria de dispositivos portáteis, o UMPC, ou “ultra mobile PC”:

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O formato é similar ao das webpads, que nunca fizeram muito sucesso. A principal diferença é que agora estão investindo pesado em criar um dispositivo acessível às massas, que seja prático e relativamente barato, muito mais poderoso que um palmtop e mais portátil que um notebook.

Tudo começa com um Pentium M de baixo consumo, que opera a 1 GHz e utiliza um sistema agressivo de economia de energia. A ele acrescentamos um HD de 30 GB, 256 ou 512 MB de memória, placa wireless, USB, bluetooth e uma tela de 7″ (800×480) sensível ao toque. A bateria dura até três horas, de acordo com o uso.

Ou seja, tudo é muito parecido com um notebook ultraportátil, mas não existe teclado embutido. No lugar do touchpad, usamos a tela sensível ao toque, ou um mouse trackpoint embutido no corpo do aparelho.

Embora ele seja um PC completo, que pode, em teoria, rodar qualquer versão do Windows, ou qualquer distribuição Linux compatível, ele originalmente vem com uma versão especial do Windows XP, que possui uma interface voltada para multimídia, com suporte a gestures. Esta é provavelmente a principal novidade com relação à interface. Você pode chamar os aplicativos através de “gestos” feitos sobre a tela. Desenhar um “m” chama o media player, um “h” o leva de volta à tela inicial, e assim por diante. Você pode ver mais detalhes neste vídeo do Cnet: http://news.com.com/1606-2_3-6047223.html?tag=ne.vid .

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A idéia é que, ao invés de carregar o notebook pra cima e pra baixo, você faça a maioria das tarefas usando o UMPC, incluindo navegar na web, checar e-mails, assistir filmes, música, jogos e multimídia em geral. Ele também abriria as portas para algumas aplicações novas, como orientação via GPS (onde já existem algumas soluções baseadas em palmtops. porém quase sempre relativamente caras).

Os primeiros protótipos desenvolvidos pela Intel (como o mostrado no vídeo do link acima) possuem uma vida de bateria muito curta, mas para os modelos finais foi prometida uma autonomia de 3 horas (provavelmente só atingidas ao usar aplicativos leves), ou seja, algo similar ao de muitos notebooks.

Sem dúvida, um dispositivo que permite que você acesse a web andando pela casa ou pelo escritório, usando a rede wireless (ou mesmo no transito, via GPRS ou outro sistema de transmissão de dados via celular), ou assistir seus vídeos deitado na cama, é muito prático. A possibilidade de transportar todos os seus documentos e poder trabalhar neles enquanto estiver em transito também.

Os palmtops são muito limitados neste aspecto, pois a tela tem dimensões muito reduzidas (desconfortável para navegar, ou mesmo ler textos longos, por exemplo) e você não pode rodar programas pesados como o OpenOffice ou MS Office para editar documentos. Você precisa ficar convertendo os documentos para formatos simplificados e convivendo com os recursos limitados dos aplicativos, o que limita muito o uso.

Muitos palmtops possuem transmissores bluetooth, o que permite conectar na web usando o celular. Apesar disso, pouca gente usa este recurso, pois o acesso via GPRS é muito caro (na TIM, por exemplo, custa R$ 5 por MB transferido). A maioria acaba preferindo parar num Cyber ou simplesmente espera até chegar em casa :). Um UMPC resolveria o problema da tela minúscula do palmtop, mas não resolveria o problema do custo do acesso.

Para navegar mais confortavelmente enquanto está em casa ou no trabalho, você pode plugar um teclado e mouse USB e usar o UMPC como se fosse um notebook. Neste caso, porém, um notebook seria melhor, pois já vem com o teclado e mouse e possui uma tela bem maior. Na questão da multimídia, novamente temos um cenário polêmico. Para assistir filmes deitado na cama, um notebook serve perfeitamente, possivelmente melhor que um UMPC, devido à tela maior. Como a autonomia das baterias também não é muito diferente, teríamos, na melhor das possibilidades, um empate técnico.

O problema é que nenhum dos modelos de UMPC apresentados até agora possui drive de DVD, ou qualquer drive óptico. Ou seja, você pode transferir um filme em Divx para o UMPC pela rede wireless e assistí-lo facilmente, mas para assistir um DVD você precisaria ou primeiro ripá-lo no desktop, ou comprar um drive USB externo, o que comprometeria a portabilidade e aumentaria consideravelmente o custo. Para ouvir música, um MP3player leva vantagem, pois é mais barato, muito mais leve e tem uma autonomia de bateria muito melhor. Você não vai querer sair andando por aí com um UMPC na cintura para ouvir música. Mesmo que tenha um, vai acabar preferindo levá-lo na mochila e usar o MP3player de qualquer forma.

Na questão dos games, novamente o cenário não é muito favorável ao UMPC, pois para games pesados você vai sempre preferir usar o desktop, que sempre terá uma placa de vídeo muito mais poderosa e um monitor maior. Além disso, temos o Sony PSP, Nintendo DS e outros consoles portáteis, que em matéria de jogos são muito melhores que qualquer UMPC.

A própria questão do sistema operacional pode se tornar um obstáculo. Muitos dos pontos fortes são justamente facilidades (como os gestures e a interface voltada para multimídia) incluídas na versão modificada do Windows que vem pré-instalada. Ao instalar uma versão completa do Windows ou ao rodar Linux, você perde a maioria dos recursos e fica com basicamente um notebook sem teclado. Chegamos então à questão do preço. Os primeiros UMPC’s que estão chegando ao mercado agora em abril custam em torno de US$ 1000. Os fabricantes pretendem reduzir o preço dos modelos mais baratos para US$ 600 até o final do ano, o que os colocaria na mesma faixa de preço dos notebooks mais simples.

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Como pouca gente tem dinheiro para ter um desktop, um notebook e, ainda por cima um UMPC, na maioria dos casos será uma questão de escolha: ou um UMPC, ou um notebook.

O maior risco para a plataforma é justamente o fato de ficar no meio do caminho. Quem precisa de um sistema completo, vai acabar escolhendo um notebook, quem quer um computador barato, vai comprar um desktop e quem precisa de um organizador pessoal, ou algo muito portátil, vai comprar um palmtop. Isso deixa o UMPC com um público restrito, que vai querer um UMPC como complemento para o notebook ou desktop.

Esta constatação óbvia tem inspirado vários artigos pessimistas, que apontam um final inglório para a plataforma, como este: http://osnews.com/story.php?news_id=14037 .

É muito cedo para dizer até que ponto a idéia vai dar certo, pois não sabemos até que ponto os fabricantes vão conseguir reduzir o preço e aumentar a vida útil das baterias, sem comprometer a portabilidade.

Custando US$ 1000 e tendo menos de 3 horas de autonomia, com certeza a plataforma não iria muito longe, mas se conseguissem reduzir o preço para abaixo dos US$ 600 e aumentar a autonomia para, digamos, 4 ou 5 horas, a história com certeza seria diferente.

Se por acaso um milagre acontecesse e, produzidos em larga escala, eles chegassem a custar substancialmente menos que os notebooks (em teoria poderia ser possível, por usarem telas menores, baterias mais compactas, etc.) a plataforma poderia vir a ser um sucesso.

É possível ainda que a plataforma fracasse nesta introdução inicial, mas reapareça mais pra frente, adaptada para outro segmento. Imagine por exemplo uma versão menor, com uma tela de 4 ou 5 polegadas, ainda capaz de rodar um sistema operacional completo, destinada a concorrer com os palmtops e com o Ipod, ou uma versão mais barata e compacta, mais parecida com o Nokia 770, por exemplo:

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