Eee Pad Transformer: revolução ou apenas mais um?

Eee Pad Transformer: revolução ou apenas mais um?

Tablets com o Honeycomb e tablets com o Tegra 2 existem aos montes na atual fila de lançamentos. Praticamente todos os grandes fabricantes têm planos de lançar pelo menos alguns modelos. Nesse cenário, como diferenciar o seu produto? A resposta encontrada pela Asus foi um tablet conversível, o Eee Pad Transformer anunciado dois meses atrás, que está finalmente chegando ao mercado:

Plugue-o no dock e ele se transforma em uma espécie de netbook com o Android (os fabricantes têm evitado usar o termo “smartbook”, já que eles acabaram entrando no imaginário popular como uma classe de dispositivos que não deu certo), com teclado e touchpad. Diferente do que temos no caso do Atrix, que roda uma mini-distribuição Linux em paralelo com o Android e mostra um desktop separado quando plugado na base, o Transformer continua a rodar o mesmo Android Honeycomb, mudando apenas o sistema de entrada. Embora o touchscreen continue ativo, o suporte ao mouse no Honeycomb funciona bem melhor do que nas versões antigas, o que combinado com os atalhos de funções no teclado permite que você use confortavelmente o sistema sem precisar tocar na tela. Existem ainda algumas arestas a aparar (para selecionar texto por exemplo, você precisa dar um duplo-clique em uma palavra e em seguida arrastar a seleção até englobar todo o texto desejado, em vez se simplesmente clicar e selecionar como no Windows ou Linux), mas no geral a implementação já é suficiente para uso no dia a dia.

O teclado é basicamente o mesmo encontrado nos Eee PCs com tela de 10″, mudando apenas as teclas de função, que em vez do F1-12 são atalhos para funções do sistema. Ele tem cerca de 90% do tamanho de um teclado regular, mas é ainda um pouco desconfortável de usar.

Uma vez dockeado, o Transformer pode ser aberto, fechado e carregado da mesma forma que um netbook; a tela até mesmo é desligada automaticamente quando a tampa é fechada. A base inclui também um par de portas USB, que podem ser usadas para a conexão de pendrives, bem como um leitor de cartões SD. Entretanto, a compatibilidade com outros dispositivos é ainda bastante limitada, o que limita a utilidade das portas. Por enquanto, elas servem mesmo apenas para acesso a arquivos.

O Transformer mede 271×175 mm, com 13 mm de espessura. Ele tem praticamente as mesmas dimensões do iPad original, mas é menos “denso”, com uma construção plástica em vez de alumínio, o que o manteve relativamente leve, com 675 gramas. Assim como o Motorola Xoom, ele usa uma tela de 10.1 com 1280×800 e é baseado no nVidia Tegra 2 com 1 GB completo de memória RAM. Para armazenamento temos 16 GB internos, que podem ser combinados com um cartão micro-SD de até 32 GB.

O grande atrativo é que apesar de manter a mesma configuração básica, a Asus conseguiu enxugar as margens e baixar o custo para US$ 399, o que o coloca na mesma liga de preço dos netbooks. Pelo menos por enquanto, o Transformer existe apenas em versão Wi-Fi, sem uma versão 3G à vista. Nesse ponto temos uma amostra da diferença de cultura entre os fabricantes, já que a Motorola é uma empresa especializada em smartphones, e que por isso tende a tentar vender seus produtos em parceria com as operadoras (no velho modelo de subsídios e contratos) enquanto a Asus é predominantemente uma fabricante de PCs, com vocação para margens de lucro mais apertadas e venda direta ao consumidor. Com a entrada de empresas como a Acer, HP e Dell no mercado de tablets, os preços tendem a continuarem caindo.

Muitos provavelmente discordarão, mas continuo achando a ideia de incluir transmissores 3G em tablets uma ideia não muito inteligente, já que aumenta muito o custo final e te obriga a pagar por um segundo plano de dados, em vez de simplesmente usar a conexão que você já tem disponível no telefone. É bem verdade que temos opções de planos bastante populares no Brasil e 0,50 por dia ou R$ 12 por mês não vão matar ninguém, mas estes planos têm quotas de dados incrivelmente limitadas (10 MB por dia em um tablet??). Para obter uma quota de dados minimamente utilizável você vai precisar pagar pelo menos R$ 80 mensais e este é o tipo de valor que você não vai querer pagar duas vezes. A menos que você pretenda usar um celular simples e acessar a web apenas no tablet, é mais eficiente combinar o plano de dados e voz no smartphone e ativar o hotspot quando quiser acessar no tablet.

De volta ao tablet, a facada reside no preço da base. Ao contrário do que havia sido previamente anunciado, ela custará US$ 149 nos EUA, e não US$ 99 como se esperava. Esse aumento no preço o tornará um acessório muito menos usado, especialmente no Brasil onde os 149 dólares se transformarão em 500 reais. Para justificar o preço, a Asus criou um acessório mais ou menos bem construído, que oferece uma base parcialmente de metal e uma bateria interna de 24.4 Wh que estende a autonomia e carrega a bateria principal enquanto o Transformer está dockeado. Sozinho, a autonomia em situações reais de uso gira em torno de 9 a 10 horas. Com o dock ela aumenta em cerca de 66%, indo para pouco mais de 15 horas.

A combinação das duas coisas faz com que a base seja relativamente pesada e o Transformer transmita a ideia de que se está usando um netbook “de verdade” e não apenas um tablet dockeado em uma base plástica que pode tombar para trás a qualquer momento.

Graças ao uso do Honeycomb 3.0.1 (em vez do 3.0.0 como na versão original do Motorola Xoom), o Transformer é relativamente estável, uma vez que este é precisamente o aspecto que melhorou neste release. Ele também já vem com o Flash 10.2 pré-instalado. O principal problema é que mesmo com o Tegra 2 a performance do Transformer não é compatível com a que teríamos em um desktop ao executar vários aplicativos simultaneamente, ou, principalmente, ao abrir várias abas simultaneamente no navegador. Funciona bem em páginas simples, mas múltiplas páginas com Flash fazem tudo ficar lento muito rápido. No geral o desempenho não é tão diferente assim do que temos nos netbooks com o Atom: por ser mais leve, o sistema é mais responsível em um boot limpo, mas ele logo começa a engasgar caso muitas tarefas sejam executadas simultaneamente. No geral, funciona bem para usuários normais, que tendem a fazer poucas coisas de cada vez, mas heavy-users vão logo se sentir limitados.

Sozinho, o Eee Pad pesa 675 gramas (mais que o iPad 2, porém menos que o Xoom) porém com a base o peso sobe para 1350 gramas, mais do que a maioria dos netbooks. Isso faz com que a escolha seja difícil. A menos que você realmente goste da interface do Honeycomb, você provavelmente não vai querer utilizá-lo com a base em casa (onde você muito provavelmente já tem um notebook ou PC “de verdade”) e carregá-lo junto com a base também não parece tão atrativo assim, já que ele é mais pesado e mais limitado que a maioria dos netbooks.

Com US$ 550 você poderia tranquilamente comprar um netbook baseado no AMD Fusion, que seria um pouco mais leve e ofereceria um desempenho superior em navegação web e tarefas do dia a dia. Nesse contexto, a única realmente vantagem do Transformer seria a enorme autonomia de bateria, muito mais do que suficiente para um dia inteiro de trabalho. Por outro lado, não podemos esquecer de que a base é destacável e a removê-la o Transformer se transforma em um tablet, pronto para a leitura de um livro ou um filme.

Um dos problemas em colocar um dock com teclado em um tablet é que os controles mais ágeis acabam fazendo com que você abra mais abas, mais aplicativos e faça mais coisas simultaneamente, como faria em um notebook. Isso rapidamente expõe as limitações do hardware, já que afinal o Tegra 2 é muito rápido em um smartphone, mas não é capaz de concorrer com um Core i7 ou mesmo a um Athlon X2 em termos de desempenho bruto. SoCs ARM são muito eficientes em termos de consumo elétrico, mas eles dependem de softwares bem otimizados para que o sistema se mantenha ágil. Ao rodarem um sistema pesado (Honeycomb) com plugins devoradores de recursos (Flash) caímos no mesmo problema que temos no caso dos desktops, onde precisamos de processadores poderosos apenas para dar conta de carregar a gordura do SO e softwares.

Com SoCs ARM quad-core operando na faixa dos 2.0 GHz aparecendo no horizonte, não resta dúvidas de que logo teremos tablets e netbooks ARM capazes de disputar com os processadores x86 low-end e mid-range em termos de desempenho. Entretanto, se nada for feito em relação à otimização dos softwares (que é um problema mais complicado de solucionar, já que otimizar e limpar demanda muitas horas de desenvolvimento, a um custo enorme) corremos o risco de ver uma repetição do que tivemos com o Windows e os processadores x86, com o inchaço dos softwares devorando os ganhos trazidos pela melhoria no desempenho dos processadores.

Outro problema a vista é que mesmo que a ideia das bases com teclado se tornem populares, os fabricantes tendem a utilizar conectores proprietários e vendê-las a custos altos, em vez de oferecê-las junto com os tablets. Com isso, poucos usuários as acabarão comprando, negando o benefício.

Em resumo, o preço relativamente baixo e uma implementação do Honeycomb menos bugada que no Xoom têm tudo para fazer do Transformer um sucesso (pelo menos se comparado a outros tablets com o Honeycomb), o que deve levar a Asus a levar a série adiante. O Google investiu bastante no suporte a netbooks no Honeycomb (o que levou muitos a desconfiarem que estavam planejando arquivar o Chrome OS) o que faz com que a operação com a base funcione bem. Fatalmente a ideia será copiada por outros fabricantes e teremos diversos outros tablets conversíveis no mercado, concorrendo com os netbooks. No final, teremos duas guerras simultâneas: entre o Windows e o Android e entre o formato de netbook e tablet, com o público escolhendo seus favoritos.

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