Embora os 8 a 32 GB de armazenamento que temos nos smartphones atuais possam parecer muita coisa à primeira vista, basta copiar uma parte generosa de sua coleção de músicas e filmar alguns vídeos longos com a câmera para perceber que eles não são um espaço tão inesgotável assim. Com a popularização das câmeras capazes de gravar em HD o espaço se torna ainda mais escasso, já que uma hora de vídeo gravado pode consumir facilmente mais de 2 GB de espaço.
Mesmo no caso dos modelos com cartões microSD removíveis, é raro que o usuário realmente tire proveito da possibilidade de usar múltiplos cartões, já que desligar o aparelho, trocar o cartão, ligar de novo (e perceber que todos os programas instalados no outro cartão deixaram de estar disponíveis) acaba sendo incomodo demais.
Chegamos então aos dispositivos de armazenamento wireless, mais uma categoria de gadgets que está chegando ao mercado. Diferente de algumas opções que surgiram entre 2007 e 2008, baseadas no lento Bluetooth, esta nova safra se comunica com o host via Wi-Fi, o que garante uma boa velocidade de acesso.
Um bom exemplo é o Kingston Wi-Drive, que existe em versões com 16 e 32 GB. Embora um pouco caro (US$ 99 nos EUA pela versão de 32 GB) ele agrupa o conjunto de memória flash, bateria, transmissor Wi-Fi e SoC em um formato bastante compacto, quase o mesmo tamanho de um iPhone 3:
Ele funciona como a combinação de um servidor de arquivos e um ponto de acesso, aparecendo na lista de redes disponíveis e permitindo que outros dispositivos se conectem a ele via Wi-Fi, ganhando acesso aos arquivos. Ele possui um cliente para o iOS, que gerencia o acesso e a configuração e permite o streaming de arquivos, com uma versão para o Android prometida para breve.
Ele pode ser acessado também diretamente via USB, o que é prático na hora de copiar vários arquivos a partir de um PC.
Naturalmente, acessar o Wi-Drive diretamente é uma boa opção apenas para quando você estiver na rua, já que ao se conectar diretamente a ele você não tem como acessar outras redes wireless, perdendo o acesso à Internet. Isso é resolvido através de um modo wireless passthrough, que permite que você o acesse através de outra rede wireless, combinando assim o acesso ao drive e o acesso à Internet. O aplicativo de acesso permite visualizar diretamente a maioria dos formatos de arquivos (incluindo os formatos de vídeo suportados pelo sistema), bem como copiá-los manualmente:
A grande desvantagem dessa abordagem é que você fica condicionado às plataformas para as quais a Kingston decidir suportar o aplicativo. Mesmo depois que a versão Android estiver disponível, ainda existirão muitos usuários de outras plataformas se acesso a ele e, caso no futuro a Kingston decida eliminar o suporte à plataforma que está usando, seu Wi-Drive se tornará um peso de papel, já que sem o software você não tem acesso ao drive.
Outro dispositivo similar, que compartilha as mesmas limitações é o AirStash que é também por enquanto compatível apenas com o iOS. A principal diferença entre os dois é que o AirStash vem sem memória Flash integrada (você pode usar um cartão da capacidade que quiser e alternar entre diversos cartões):
Outra opção é o GoFlex da Seagate, que oferece uma solução um pouco diferente para o problema, baseado em um HD magnético de 500 GB. Em resumo, você tem mais de 12 vezes a capacidade por menos do dobro do valor (US$ 170 nos EUA) mas em troca tem um drive bem mais volumoso e com uma autonomia de bateria mais limitada:
Apesar de ser baseado em um drive de 2.5″, ele é muito maior que um drive de 2.5″ externo tipico, já que a presença da placa lógica e da bateria, aumentam consideravelmente a largura e o comprimento do drive, além de quase dobrarem a espessura.
A principal vantagem do GoFlex em relação aos outros dois é o fato de ele possuir um servidor web embutido, que permite que os arquivos sejam acessados através de qualquer dispositivo com conexão Wi-Fi, sem necessidade de qualquer aplicativos adicional. O servidor é impulsionado por um SoC TI Sitara, baseado em um processador ARM Cortex A8 de 1.0 GHz e 128 MB de RAM.
Depois de se conectar ao SSID referente ao drive (que também aparece como um ponto de acesso e rede), você acessa os arquivos através do “www.goflexsatellite.com”, que é redirecionado pelo próprio drive para o endereço dele na rede, usando um truque simples no processo de resolução de nomes:
A interface web é um bom seguro contra a obsolescência programada, já que mesmo que o fabricante deixe de oferecer suporte aos dispositivos que você escolher usar, o drive vai continuar sendo acessível através do navegador. Além do acesso via navegador, estão disponíveis também aplicativos para o Android e iOS, que oferecem melhor suporte ao streaming de vídeos.
Além de serem mais uma opção de armazenamento, concorrendo com cartões, pendrives, HDs externos, NASes, servidores de arquivos e assim por diante, estes dispositivos são também mais um sinal de uma mudança que já está a tempos no horizonte: cada vez mais pessoas estão passando a usar ou mesmo a viajar com apenas um smartphone, em vez de levar junto um notebook, como era regra antigamente. Se você leva um notebook junto com você, um drive Wi-Fi externo torna-se uma redundância desnecessária, já que você pode usar o HD do notebook para armazenar sua biblioteca de mídia e copiar arquivos para o smartphone (ou simplesmente assistir via streaming) conforme necessário. A simples existência de um mercado para estes drives mostra como as coisas andam mudando.
Infelizmente, a existência destes drives também expõe uma limitação primária compartilhada pela grande maioria dos aparelhos atuais, que é a falta de suporte a pendrives e dispositivos de armazenamento USB, o que solucionaria o problema de forma muito mais simples, permitindo que você simplesmente carregasse um pendrive para expandir o armazenamento do smartphone. O suporte a dispositivos USB mass-storage está disponível em todas as versões recentes do Android e vem ativado em muitos tablets da China, mas infelizmente não é suportado pela grande maioria dos fabricantes de smartphones, que relutam em arcar com as modestas demandas energéticas de dispositivos como pendrives e teclados e com as chamadas adicionais de suporte.
A Nokia bem que tentou, incluindo o suporte ao USB-on-the-go no Nokia N8 (que permite a ele acessar pendrives e praticamente qualquer outro dispositivo USB com suporte ao mass-storage, incluindo câmeras outros smartphones em modo de transferência), mas com a migração para o Windows phone, todo o trabalho feito em relação a isso no Symbian foi jogado pela janela.
Em uma era em que os fabricantes se especializam em criar produtos de consumo, tendo em cada vez mais baixa estima a inteligência dos usuários, resta-nos a esperança de que alguém eventualmente tenha o bom senso de trazer de volta essa flexibilidade.
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