Porque o Chrome OS não é uma ideia tão ruim assim (ou talvez seja…)

Porque o Chrome OS não é uma ideia tão ruim assim (ou talvez seja…)

No final de 2009, o Google anunciou o Chrome OS, um sistema operacional baseado em Linux destinado a simplificar a experiência de uso dos desktops, oferecendo apenas uma janela maximizada do Chrome e baseando toda a experiência de uso em torno do navegador e da web. Em outras palavras, o Chrome OS foi concebido não como mais um sistema operacional para desktops, mas sim como uma plataforma de acesso à web, sem firulas.

Entretanto, a demora no lançamento e toda a onda de interesse em torno dos tablets fizeram com que o sistema perdesse muito de seu destaque inicial. Muitos que talvez tivessem interesse em um net/notebook com o Chrome OS acabaram mudando de ideia e passando a desejar um tablet ou smartphone.

Contudo, quanto tudo parecia ter esfriado, o Google aparece com o Cr-48, o primeiro notebook comercial baseado na plataforma:

Embora use uma tela de 12″ e um teclado confortável (com uma construção visivelmente inspirada nos produtos da Apple), o Cr-48 é na verdade um netbook baseado no Atom N455 de 1.66 GHz (plataforma Pinetrail), com 2 GB de RAM e um SSD de 16 GB.

Dada a aplicação, as especificações de hardware são bastante satisfatórias, já que o Chrome OS é um sistema relativamente leve, que utiliza o SSD basicamente para armazenar a imagem do sistema e o cache das páginas. A principal limitação é o suporte a vídeos em Flash, que devido ao pouco poder de processamento do Atom ficam limitados a 480p (no youtube por exemplo, as opções de resoluções maiores ficam indisponíveis, mesmo nos vídeos onde ela existe).

Aproveitando que estavam criando uma nova plataforma, os engenheiros do Google puderam fazer algumas alterações no layout do teclado, removendo as teclas de funções (F1-F12, Print Screen, etc.) e até mesmo a tecla Caps Lock e as substituindo por teclas de atalho para maximizar tabs, aumentar e reduzir o volume e assim por diante.

Assim como em outros netbooks, não existe um leitor de mídias ópticas, mas as limitações se estendem também à falta de suporte a dispositivos de armazenamento e até mesmo a impressoras locais, com suporte apenas à impressoras compartilhadas disponíveis através do Cloud Print Service. O Cr-48 possui uma única porta USB, que serve basicamente apenas para a conexão de teclados e mouses, juntamente com um leitor de cartões destinado a ler fotos provenientes de uma câmera digital.

Com tantas limitações, você poderia se perguntar qual seria o motivo para alguém em sã consciência pensar em comprar o Cr-48 ou qualquer outro netbook baseado no Chrome OS, uma vez que ele custa US$ 350 nos EUA, o mesmo valor da maioria dos netbooks.

Bem, apesar e todas as limitações, existem também alguns pontos positivos. O primeiro deles é o fato do sistema oferecer um boot bastante rápido e uma autonomia de 8 horas. Como o sistema dorme automaticamente ao fechar a tampa, a autonomia é mais do que suficiente para durar o dia todo. Para colocar as coisas em perspectiva, 8 horas de uso contínuo para acesso à web é mais do que é possível obter na maioria dos smartphones com o Android.

Se você é do tipo que já tem um computador “de verdade” e usa o netbook apenas para acessar a web quando está fora de casa, o Chrome OS não vai parecer tão ruim assim, já que ele apenas remove os recursos que você não usaria de qualquer forma, oferecendo apenas um terminal de acesso à web. Neste ponto, chegamos a outro ponto digno de destaque, que é o fato do Cr-48 vir com um modem 3G e GPS embutido (baseado no chipset “Gobi” da Qualcomm), e um plano de acesso “gratuito” embutido, que oferece 100 MB de tráfego de dados por mês por dois anos através da Verizon para usuários dos EUA.

Naturalmente, isso não significa nada para quem mora no Brasil, já que a Verizon não presta serviços por aqui, mas sinaliza a possibilidade de planos similares serem oferecidos quando o Google ou algum parceiro decidir lançá-lo por aqui. Apenas 100 MB mensais não são muita coisa (mesmo entre os planos populares, você pode ter 300 MB por R$ 12 por mês pela Claro ou 10 MB por dia por R$ 0.50 pela Tim), mas já são suficientes para atender a quem precisa apenas de uma conexão de backup para ler os e-mails quando não houver nenhuma rede Wi-Fi disponível. Considerando que o plano de dados faz parte do pacote e não custa nada extra, com certeza ninguém vai reclamar. Naturalmente, existe também a possibilidade de trocar o chip SIM e usar qualquer outro plano que quiser.

O Chrome OS oferece também a possibilidade de rodar alguns aplicativos locais, instaláveis através de uma loja de aplicativos, nos moldes do Android Marketing, mas no momento a grande maioria dos títulos são apenas mini-aplicativos que exibem conteúdo e atualizações de sites (Ebay, Facebook, etc.), servindo mais como atalhos para os respectivos sites, mas é provável que as opções logo se tornem mais variadas.

O principal atrativo do sistema é o fato de ele eliminar o problema do sincronismo, já que tudo o que faz é feito dentro do navegador e (a menos que opte por desativar a função) é sincronizado automaticamente com os servidores do Google. Todos os documentos criados estarão automaticamente disponíveis no Google Docs ao chegar em casa, todos os e-mails estarão na sua conta do Gmail e assim por diante. Isso elimina a possibilidade de perda de dados por roubo, perda ou destruição do netbook, uma vez que tudo é armazenado na nuvem. Em outras palavras, você pode perder o hardware, mas dificilmente vai perder dados.

O Google publicou inclusive uma série de vídeos de marketing, tentando apresentar os conceitos do sistema. Eles obviamente mostram apenas o lado bom, mas não deixam de ser divertidos:

Outro ponto importante é que ele elimina o problema da manutenção do sistema (instalar aplicativos, limpar o registro, antivírus, atualizações do apt, etc.) já que o sistema se atualiza sozinho e em caso de corrupção da imagem do sistema ele oferece automaticamente a opção de restaurá-la a partir de uma cópia de backup armazenada no SSD ou de baixá-la novamente via web. Em outras palavras, o Chrome OS é bom no papel de sistema “indestrutível” para PCs destinados a parentes idosos, sogras, irmãos pequenos e outros que não entendam muito de computadores e tenham tendência a lhe ligarem em horas inoportunas quando o PC “dá pau”. Ele é também uma opção caso você já tenha PCs suficientes para tomar conta e quer apenas um terminal de acesso web que não te dê dor de cabeça.

Como o login do sistema é sua conta do Google e ele é solicitado a cada boot (não existe opção de login automático) e existe também um modo guest, ele é também ideal como um netbook “para visitas”, atendendo aos chatos que te visitam apenas para tentar acessar o Orkut…

Como pode ver, o Chrome OS tem seus méritos se usado dentro do contexto que foi concebido. O grande problema é que o Cr-48 custa o mesmo que um notebook regular, o que elimina grande parte do atrativo. Com exceção dos que realmente se sentirem atraídos pelo conceito, a maioria dos compradores vão se sentir mais inclinados a comprarem um netbook ou notebook regular, uma vez que eles servem para muitas coisas (incluindo navegar na web), enquanto o Chrome OS serve apenas para uma coisa (navegar na web…).

Outro ponto a se considerar é que o smartphones estão crescendo como opção de acesso rápido à web e praticamente todo o público-alvo já tem um smartphone ou está pelo menos pensando em comprar um. Uma vez que você já carrega um smartphone com uma tela de boa resolução, não existe tanta urgência em carregar um netbook com o Chrome OS, uma vez que salvo escrever textos longos ou fazer alguma pesquisa extensa em múltiplas páginas, o smartphone vai atender bem à todas as necessidades urgentes.

Como se não bastasse ficar espremido entre os notebooks, netbooks e smartphones, o Chrome OS tem outro problema: os tablets, que são outra categoria intermediária, que se encaixam no mesmo nicho a que o Chrome OS se destina.

Outro problema é que, contrariando as expectativas iniciais, o Chrome OS está por enquanto apenas disponível para a plataforma x86, o que elimina a possibilidade de ele vir a ser usado em netbooks ou tablets de baixo custo baseados em processadores ARM. É muito difícil para qualquer fabricante produzir netbooks ou tablets baseados no Atom abaixo da casa dos 300 a 350 dólares, já que apenas os componentes básicos (processador, chipset, tela, memória, HD, bateria, etc.) já custam acima dos 200 dólares, diferente do que temos no caso da plataforma ARM, onde existem opções de SoCs bem baratos.

A menos que alguma grande guinada aconteça, as chances de sucesso do Chrome OS como sistema stand-alone são pequenas. O principal cenário que vejo é que o Chrome OS passe a ser oferecido em dual-boot com o Windows ou distribuições Linux em notebooks e netbooks, como uma opção de sistema de instant-on, já que isso não demandará mais do que uma partição extra no HD e alguns decalques extras no teclado. Estes híbridos serão bem mais interessantes que o Chrome OS “puro”, já que oferecerão a opção de rodar o Chrome OS nos momentos oportunos, sem abrir mão da flexibilidade de um sistema operacional regular.

Para quem gostou da ideia, já existe a possibilidade de rodar o Chrome OS a partir de um pendrive, usando a imagem do Flow, um build com imagens para pendrives e para o VMware disponível no: http://chromeos.hexxeh.net/

Outra possibilidade é que ele venha a ser portado para processadores ARM e então seja fundido no Android (como previsto pelo criador do Gmail), fazendo com que ganhe a possibilidade de rodar o Chrome “completo” e ser usado em netbooks e outros dispositivos com teclado e mouse.

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X