Hoje em dia existe uma certa polêmica entre comprar um smartphone ou tablet com uma quantidade generosa de memória interna, ou se é melhor pagar menos por um modelo com apenas 8 GB ou menos e complementar com um cartão microSD. Muitos acham que tanto faz, levando em conta apenas o custo e a capacidade, mas na realidade existem sim algumas diferenças a se considerar.
A primeira delas é a relação entre o custo, capacidade e velocidade de transferência. Muitos pensam que os fabricantes pagam menos pelos chips de memória Flash que pagamos pelos cartões, mas na realidade acontece geralmente o oposto. O primeiro problema para os fabricantes é que o custo não cai muito de acordo com a quantidade; o preço que você pagaria por um único cartão ao comprar em alguma loja do exterior não é muito mais alto do que o que o fabricante paga pela mesma capacidade em chips. Outro fator é que como os chips da de memória interna são sempre soldados à placa, o custo de reparo no caso de unidades com defeitos é muito alto para os fabricantes, o que os obriga a investir em chips de melhor qualidade e em um controle de qualidade mais rigoroso, o que aumenta os custos.
Optando por usar memória interna, o custo de desenvolvimento é também um pouco maior, já que o espaço na placa lógica de um smartphone é geralmente muito limitado (a placa precisa ser recortada para dar espaço à bateria, englobando apenas uma pequena fração da área total do aparelho) e o chip de memória Flash ocupa um espaço generoso, frequentemente mais do que o SoC principal, como nessa foto da placa de um Atrix 4G do iFixit (chip NAND em verde):
Outro fator é que os preços da memória Flash caem constantemente e os fabricantes são obrigados a pagar hoje por chips de memória que serão soldados em aparelhos que talvez fiquem vários meses em estoque. Se um fabricante paga US$ 70 por 16 GB de memória interna hoje e ele é efetivamente vendido apenas daqui a seis meses, é bem provável que o comprador já tenha opções de cartões microSD da mesma capacidade por bem menos.
Outro problema são os impostos. Incluindo memória interna, o fabricante é obrigado a embutir o custo no preço de venda e ao trazer os produtos para o Brasil, os impostos são aplicados sobre o total, criando uma bola de neve. Um aumento de 100 dólares no custo, acaba resultando em um aumento de 300 reais ou mais sendo que você poderia comprar um cartão de 16 GB por US$ 30 na DX ou no Ebay, com uma chance muito pequena de ter que pagar impostos. Mesmo no mercado norte americano, onde os impostos não são um problema, existe uma grande disparidade entre o aumento no preço dos dispositivos com memória integrada e o custo de cartões avulsos da mesma capacidade. Este é exatamente um dos motivos de Apple ter optado por não incluir suporte a cartões de memória no iPad e iPhone, para pressionar os usuários a comprarem as versões de maior capacidade em vez de optarem pelos modelos de 8 GB e cartões avulsos.
Naturalmente, existem também algumas vantagens em pagar mais caro por memória integrada. As duas principais são a confiabilidade e a velocidade de acesso. A confiabilidade surge da necessidade do fabricante em manter um baixo índice de defeitos, já que defeitos na memória significariam ter que substituir o aparelho inteiro dentro da garantia, o que é muito mais custoso do que simplesmente trocar um cartão de memória.
A velocidade de acesso é também bem diferente. No caso dos cartões microSD temos cartões classe 2 (mínimo de 2 MB/s de taxa de escrita) class 4 (4 MB/s) e class 6 (6 MB/s). Um cartão class 6 oferece tipicamente em torno de 6 a 7 MB/s de taxa escrita e 9 a 11 MB/s de leitura (por estranho que possa parecer, muitos cartões class 2 e class 4 de 8 GB ou mais também oferecem taxas próximas disso, muito embora nesse caso não existam garantias). O acesso à memória interna por outro lado é quase sempre bem mais rápido, com o Samsung Galaxy S oferecendo 14 MB/s de escrita e 19 MB/s de leitura, por exemplo.
Na prática, o desempenho acaba muitas vezes sendo limitado por outros fatores (ao acessar os arquivos do cartão via Wi-Fi a velocidade vai ser limitada pela rede, por exemplo) mas existem situações onde ela realmente faz diferença, oferecendo um acesso mais rápido através da porta USB, reduzindo o intervalo de gravação da imagem em aparelhos com câmeras de alta resolução e assim por diante.
Finalmente, temos a questão da expansão. No padrão SDHC os cartões de memória podem ter um máximo de 32 GB. Se o aparelho oferece apenas um punhado e memória interna e o slot para o cartão, o limite máximo de armazenamento para ele são os 32 GB. Se por outro lado ele oferece 32 GB de memória interna e mais o slot do cartão, então o máximo sobe para 64 GB (32 GB internos mais 32 GB do cartão), o que é um espaço mais do que generoso, mais do que tínhamos de espaço nos HDs a apenas uma década atrás.
Se, por outro lado, o aparelho inclui apenas a memória interna, sem um slot de expansão (como no Nexus S e no iPhone) a memória interna acaba sendo uma desvantagem, já que você fica limitado aos 8 ou 16 GB internos. Caso os aparelhos com o Windows Phone 7 se popularizem, isso deve se tornar cada vez mais comum, já que eles tendem a usar memória interna, ou cartões microSD inacessíveis devido à forma como o sistema acessa o cartão, usando-o como memória permanente.
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