From Russia with source (Calculate Linux 11.3)
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no: distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Dois de nossos estimados leitores nos pediram que analisássemos o Calculate Linux, uma distribuição russa focada nas pequenas e médias empresas. O Calculate tem três edições para desktops (KDE, GNOME e Xfce) e mais uma para servidores. Enquanto eu preparava este artigo, uma edição para media centers estava sendo desenvolvida. Cada edição está disponível para computadores de 32 e 64 bits. O Calculate é baseado no Gentoo Linux, o popular projeto com foco no código fonte.
Antes de contar como foi minha experiência com o Calculate, preciso ser franco: eu tenho uma tendência a não gostar de distribuições que trabalham diretamente com o código fonte, por três motivos:
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Para a maioria das pessoas que rodam aplicativos comuns em computadores modernos, não há ganhos expressivos de desempenho obtidos pela compilação personalizada do código. Há muitas áreas nas quais a compilação de binários personalizados é útil e até importante, mas para o usuário doméstico ou para um escritório comum não faz muita diferença. Mesmo que o usuário saiba quais opções de compilação ativar ainda vai ser preciso investir muito tempo e energia para um retorno relativamente pequeno.
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A instalação de programas é mais demorada. Em uma distribuição binária podemos baixar e instalar pacotes novos em segundos, e pacotes maiores em poucos minutos. Em distribuições baseadas no código fonte, até uma instalação pequena pode tomar vários minutos de configuração e compilação automatizadas. As grandes podem levar horas.
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A distribuição do código fonte é redundante. A maioria das distros binárias como o Debian GNU/Linux, o Fedora e o Slackware usa binários por padrão, mas oferece o código fonte desses binários. Se precisarmos compilar um programa para melhorar o desempenho, a segurança ou a personalização, esses projetos facilitam as coisas para a gente. Podemos escolher entre conveniência e personalização. Por outro lado, os projetos baseado em código fonte raramente oferecem binários, trazendo os benefícios da personalização, mas não os da conveniência.
Logo, o Calculate já entrou nesta batalha sabendo que ia ser difícil de me vencer.
O site do Calculate tem um visual limpo e profissional. As categorias estão bem organizadas e é fácil encontrar as informações. Há links para contato, fórum de suporte e avisos de segurança do Gentoo. O site também oferece documentação ensinando a realizar tarefas comuns. As imagens de DVD do projeto podem ser baixadas de sites espelhados ou via BitTorrent. A imagem ISO que eu baixei tinha 1,6 GB, e oferecia as opções de carregar o Calculate normalmente, carregar o sistema para a RAM ou inicializar em modo texto. A inicialização normal abre um belo desktop KDE 4.6 azul.
Ao contrário da maioria das distros com o KDE, o Calculate posiciona o menu de aplicativos e o alternador de tarefas no topo da tela. Os ícones do instalador do sistema, da documentação, do gerenciador de partições e do cliente IRC (para assistência online) ficam no desktop. O arquivo de documentação inclui instruções para a configuração de partições, os requisitos mínimos do sistema, os nomes de conta padrão e sobre como acessar atualizações. Foi uma surpresa agradável ver que as traduções para o inglês do texto da ajuda e do site do projeto eram bastante claras. Ao movermos o mouse para a parte inferior da tela surge uma barra de início rápido, com botões para lançar os aplicativos mais usados.
Guia de instalação do Calculate Linux 11.3
O instalador gráfico do sistema é bem feito e intuitivo. Começamos escolhendo nosso idioma favorito e qual disco rígido usar. Caso o particionamento ainda não tenha sido feito, o instalador tem um botão para lançar o cfdisk. Achei um pouco estranho o instalador usar o cfdisk já que há um gerenciador gráfico de partições no desktop… talvez a ideia seja manter a compatibilidade com a edição para servidores. Depois de passarmos pela tela de particionamento, é hora de atribuir pontos de montagem a cada partição. Em seguida vem a escolha de nome do host, fuso horário, ativação de efeitos do desktop, instalação ou não do GRUB e escolha de driver de vídeo. As últimas etapas consistem em definir uma senha de root e em criar uma conta de usuário comum. O instalador começa a copiar os arquivos para o disco local, em um processo que levou quarenta e cinco minutos nos meus computadores.
Comecei testando o Calculate no meu laptop, e como ele tem placa de vídeo Intel, mandei o instalador usar o driver Intel. Depois de carregar a distribuição pela primeira vez o X não abriu, apareceu uma tela preta. Entrei num console de texto, mudei o arquivo de configuração do X para que ele usasse o driver vesa e reiniciei. Dessa vez a tela de login gráfico abriu. Acontece que ao tentar fazer login ocorriam erros, e eu voltava para a tela de login. Foi preciso alternar para um terminal, fazer login e rodar o startx para abrir o ambiente gráfico. Esse problema não se repetiu no meu computador desktop, onde a instalação, a primeira inicialização e o login correram bem.
A instalação padrão ocupa 5,8 GB de espaço em disco, e o menu de aplicativos vem cheio de software. Estão presentes Chromium 10, LibreOffice 3.3, KMail, o navegador web Konqueror e o programa de mensagens instantâneas Kopete. Há uma ferramenta de acesso a desktops remotos, leitor de ebook, leitor de PDF e um programa de agenda. Na área de multimídia temos o Amarok, o gravador de CDs K3b, um player multimídia e o editor de vídeo Kdenlive. O menu de aplicativos inclui ainda o GIMP, o Digikam e o Skype. Para quem acessa a internet via linha discada, o Calculate oferece o KPPP. Há ainda aplicativos gráficos para criptografia e certificados. O habitual conjunto de pequenos aplicativos para edição de textos e compactação/descompactação de arquivos também marca presença. Para completar, temos os utilitários de configuração do sistema do KDE para personalizar o ambiente. Nos bastidores, o GCC e um servidor SSH (que vem rodando por padrão em segundo plano). Os desenvolvedores incluíram codecs multimídia para abrir os formatos de arquivos de mídia mais comum e o plugin do Flash para o navegador. O kernel é o 2.6.36.
Aplicativos em execução no Calculate Linux 11.3
O gerenciamento de software no Calculate geralmente é feito com as ferramentas Portage do Gentoo, mais especificamente com o emerge. Embora o site do Calculate tenha documentação explicando como adicionar e atualizar pacotes, eu recomendo a leitura do Gentoo’s Handbook, que tem mais exemplos e explicações. Não sei bem o que pensar do programa de linha de comando emergedo Gentoo. No tempo em que passei usando o Calculate, o emergefuncionou bem. Ele é estável, flexível e sua sintaxe é fácil de entender. Por outro lado ele é lento, especialmente ao realizar pesquisas e checar dependências. O Calculate tem mais um programa para fazer buscas por pacotes, o eix, que agiliza bastante as coisas. Como eu já expliquei, o Calculate é uma distro baseada no código fonte, e a maioria dos pacotes (e de suas dependências) precisa ser compilada no momento da instalação. Isso torna o processo de instalação de software muito mais lento que o de outras distros. Mas há algumas exceções à regra “só código fonte” do Calculate: OpenOffice, LibreOffice, Firefox e Chromium estão disponíveis como binários.
Rodei o Calculate em dois computadores: um PC genérico com CPU de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo NVIDIA, e um laptop HP com CPU dual-core de 2.5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo Intel. O Calculate detectou e ativou corretamente todo o meu hardware, nos dois computadores. O único problema foi com a placa de vídeo da Intel no meu laptop, quando escolhi usar o driver Intel em vez do driver padrão. O volume do áudio foi configurado em uma altura razoável, as telas ficaram com uma resolução apropriada, a placa de rede sem fio funcionou de primeira e o touchpad tratou toques rápidos como cliques. No computador desktop, deixei ativados alguns efeitos gráficos simples, como a transparência, e o desempenho como um todo foi bom. O Calculate demora mais a inicializar do que algumas das distros mais famosas, mas depois que o sistema abre ele roda direitinho. Também testei a distro em uma máquina virtual do VirtualBox, e ela se saiu bem. O desempenho se manteve bom com 512 MB de RAM.
Navegando na web e usando o LibreOffice
O Calculate me causou impressões fortes ao longo da semana, e a maioria dessas impressões foram boas. De modo geral, o que tirou a minha empolgação foi mesmo a parte do gerenciamento de software. A ferramenta emergemostrou-se confiável, mas muito lenta na hora de resolver as dependências. O bug de login no laptop foi uma surpresa desagradável, e o travamento do X quando escolhi o driver Intel para a minha placa de vídeo da mesma marca também. Por outro lado, o Calculate vem com muito software pré-instalado, sem muita duplicação de funcionalidade. Dá para fazer a maioria das tarefas sem recorrer aos repositórios. O desempenho foi bom, e esta foi uma das poucas distros a detectar e usar todo o meu hardware de primeira. Gostei de ter todos os codecs multimídia instalados por padrão.
O desktop, o menu de aplicativos e o site do projeto são bonitos e bem organizados, e não tive que perder tempo procurando itens ou mudando as coisas de lugar. Tirando uns probleminhas na tradução, a documentação é clara e bem apresentada, e o instalador do sistema permite uma navegação fácil. Com seu modelo de atualização contínua, não sei se o Calculate é a melhor escolha para ambientes corporativos, mas é uma opção atraente para quem quer a flexibilidade de uma distribuição baseada em código fonte sem ter que configurar um monte de coisas logo de cara. Estou fazendo esse rodeio todo para dizer que, apesar de ter minhas reservas quanto ao Calculate, ele me impressionou. É uma distro muito bem feita, e embora não seja perfeita, seus desenvolvedores lançaram um produto forte. Se esperar a compilação dos pacotes não for problema para você, vale a pena conferir.
Créditos a Jesse Smith – distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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