‘Caiu o sistema…’

‘Caiu o sistema…’

Segunda-feira, 23 de março. Dia tranquilo no trabalho. O sistema caiu umas três vezes e ficou inoperante umas duas horas. Nestes casos, a gente só atende a ligação, informa que não vai poder fazer o atendimento e volta a assistir tevê, comer, conversar, ler. O sistema cai quase todos os dias, mas geralmente fica apenas segundos fora do ar.”

Há tempos estava com vontade de escrever um artigo sobre o assunto. Essa é, certamente, uma das frases mais faladas atualmente, em qualquer ambiente: “caiu o sistema…“. Afinal, o computador está presente na na vida de todo mundo, em vários tipos de recursos.

Certo dia, filosofando sobre a vida, perguntei a um amigo porque tudo hoje em dia deve ser informatizado. Ele, como qualquer outra pessoa responderia, me disse que isso foi feito para tornar as tarefas mais rápidas de serem cumpridas.

Sem dúvida, a informatização trouxe uma série de benefícios ao nosso dia-a-dia: uma conta que, ao invés de ir ao banco, pago pela Internet; um saque de dinheiro, que posso fazer no caixa eletrônico; arquivos de bibliotecas; arquivos-morto de escritórios; formulários; enfim, todo tipo de documentação e tarefa burocrática ficou mais fácil com a chegada da dupla computador e Internet.

Tiro de foco neste artigo o setor das comunicações, que foi largamente beneficiado por esse avanço, e que rende certamente um outro artigo. Excluo do artigo também aqueles problemas devidos à falta de investimentos em redes e seus respectivos equipamentos. Vamos falar aqui da essência do assunto.

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Escritório sem um “sistema”, não é um escritório…

Entretanto, seguindo a onda desse tipo de modernização, até os lugares mais inusitados de terem um computador começaram a ter também, até a mercearia do Joãozinho tem. Porém, será que a informática realmente aumenta o rendimento em todo lugar que ela é aplicada? Ou será que a forma como ela é empregada nos diversos lugares é o ponto principal?

O ápice foi quando minha esposa foi a um órgão emitir uma certa papelada. Ao chegar no local, a atendente pediu à ela para esperar, porque o sistema havia caído. Tudo bem, ela esperou,quando depois que um bom chá de cadeira, o sistema voltou. Maravilha, vamos lá? Não. Um determinado dado dela não está cadastrado no sistema, e só fulano de tal tinha acesso para inserir o dado. Mais um pouco de paciência… Pronto, cadastrado.

Como se não bastasse, depois de mais um tempo… a Internet cai! Mais alguns minutos e… totalizam já quatro horas de espera! Eu disse quatro!

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Só para ilustrar outro caso: estava eu voltando de trem metropolitano, da faculdade para minha casa. Corro para pegar o horário mais cedo possível, e no trem ouço um rapaz ao telefone: “não, não, o salário meu não entrou ainda porque o meu chefe disse que o banco estava sem sistema”. Enfim, consigo chegar à minha cidade por volta da meia noite. Na frente da estação, há uma farmácia 24 horas; precisava comprar umas coisas, e fui lá. Na hora do caixa, adivinhem: cai o sistema. Disse o atendente: “vamos tentar nesse aqui”, se referindo ao caixa do lado. Com o mínimo de conhecimento em redes, era para se imaginar que aquele também não funcionaria. Passados quase 10 minutos, volta o sistema, mas o gerente não consegue liberar o caixa, porque o “sistema não está liberado ainda”. Maravilha, mais 10 minutos, e sistema liberado. E, no final, o caixa começa a imprimir assustadoramente metros e metros de nota fiscal. Enquanto isso, mais dois trens passaram… Parece historinha, mas não é!

A informática hoje está onipresente em nossas vidas. Se você ainda não está convencido disso, vamos pensar: excluindo aqueles ambientes onde se faz realmente necessário o uso de um computador (escritórios, ambientes de desenvolvimento, etc), em nosso dia-a-dia vemos os tais “sistemas” em bancos, supermercados, casas lotéricas, rodoviárias, lanchonetes, despachantes, clínicas, hospitais, etc…

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Quem diria: até para comprar meu pão e leite preciso ver a cara de um computador…

A minha velha máquina de escrever…

Quando o assunto é sistema caído, muita gente vem com a saudosa frase “ah, na época das máquinas de escrever não tínhamos esses problemas!”, e essas pessoas têm razão. O problema só podia ser local, mecânico, então ninguém tinha como escapar. Se algo desse problema, o conserto estava acessível às suas mãos, minimamente.

Nesta época, gozávamos de plena estabilidade nos serviços do dia-dia, ou quase isso. Mas, muito mais que hoje, certamente. Mas não podemos nos esquecer dos benefícios que a informatização e a Internet nos trouxe: mobilidade e flexibilidade, em todos os sentidos. Não vou discutir esse saturado assunto, mas vale lembrar: você prefere estabilidade ou comodidade? Será que os dois não podem caminhar juntos?

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O sistema não caía com minha velha Olivetti.

Qual a desculpa?

Não podia deixar de lado um momento filosófico da situação. Muitas vezes, tenho certeza absoluta que a frase “caiu o sistema” é somente uma “desculpa” para não se fazer determinada ação naquele momento. Afinal, se eu sou um atendente de banco e o sistema cai, eu não posso fazer nada, só os profissionais capazes e habilitados para isso. Enquanto isso, também espero.

Ao mesmo passo, hoje, com a informatização dos sistemas, temos uma velocidade muito maior no processamento dos dados. E, com o sistema rápido, temos que ser rápidos também; é aí que mora o estresse. Afinal, somos pressionados a trabalhar na velocidade da Internet, e isso não é natural ao ser humano.

Depois de todo esse reboliço, chego a pensar às vezes que as quedas de sistema servem como uma pausa necessária, um relaxamento ao cérebro dos operantes da informática. Se os sistemas nunca caíssem, será que hoje estaríamos mais estressados?

Bem, isso pelo lado dos que trabalham com computadores. Aquela fila de banco quilométrica, certamente se estressa muito mais com o “sistema lento”…

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O “oba-oba” da nova tecnologia: a maturidade é o X da questão?

Esses dias levei minha moto para fazer revisão. Ao chegar lá, o atendente disse que eu tinha que fazer o cadastro de novo, porque “trocaram o sistema por um mais novo”. O sistema novo pode trazer uma série de facilidades, mas ficar recadastrando todo mundo constantemente não é algo muito cômodo.

Muitas vezes os empresários ou responsáveis acabam trocando toda a informatização pelo simples motivo de ter sempre tudo do mais novo, é o “oba-oba” da nova tecnologia. E, como todo aplicativo, programas novos trazem uma série de falhas, que permitem ao sistema “cair”. E se investissem o dinheiro na qualidade da rede?

Em grande parte dos casos a maturidade dos sistemas é o X da questão. Muitas redes de hipermercados hoje usam sistemas baseados em DOS ainda, mas são tão estáveis e funcionais que dispensam qualquer atualização. E, na grande maioria das vezes, quem sai ganhando é o próprio consumidor.

Ou seja: ao invés de caminhar sempre na direção dos novos recursos, das novidades, será que os administradores e desenvolvedores não devem tomar um rumo mais voltado à maturidade e estabilidade dos softwares? Certamente, em um banco ou hipermercado movimentado, mais relevante são estes quesitos do que, por exemplo, o visual das aplicações. Não precisamos ter sistemas dinossáuricos, e sim novos que tenham como compromisso a confiabilidade. Aqui pergunto: qual é o momento certo para um estabelecimento trocar seus softwares e equipamentos de rede?

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As novidades e nossa ânsia…

Só fulano tem acesso…

Ao mesmo passo que a informatização trouxe uma desburocratização em diversos pontos, como por exemplo, não precisar ir até um lugar distante e enfrentar uma fila para pagar uma conta, a mão-de-obra deste setor ficou, fica e está ficando cada vez mais especializada, e com isso burocratizada.

Antigamente, quando uma máquina de escrever dava problema, a gente mesmo sabia consertar. Não havia nenhum tipo de login ou comando para desenroscar a fita ou o papel. Hoje, quando uma rede cai, muitas vezes a falha está nos servidores ou nos códigos das aplicações, e eu… o que eu posso fazer? Simplesmente esperar o profissional da área, que sempre está ocupado, consertar o problema. Me lembro muito bem uma vez que um conhecido esperou cerca de duas horas pelo rapaz responsável, para consertar o erro após uma desastrosa atualização – em pleno horário de serviço, claro.

Podemos comparar este caso às novas motocicletas com injeção eletrônica, ou até mesmo os automóveis. Ao invés de qualquer fulano da esquina consertar a moto, ou eu mesmo, tenho que levá-la até a oficina especializada ou na autorizada, que tem o equipamento e software específicos para analisar a injeção eletrônica e verificar o diagnóstico. Ou seja, me torno estritamente dependente de determinados profissionais. Claro que, obviamente, a injeção eletrônica trouxe uma série de benefícios às motos, assim como nossos computadores e nossa Internet.

A grande complexidade dos nossos sistemas atuais necessita de profissionais altamente especializados e qualificados. E, por outro ponto, essa mesma complexidade é a mesma que garante uma certa inteligência na informática, e aquela que permite com que as falhas sejam mais difíceis de correção.

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Só para fechar

Só para finalizar, um amigo meu acaba de me contar que ele e sua esposa não poderão nos visitar hoje, afinal ela fará hora extra para reposição de serviço, pois o sistema da empresa onde trabalha ficou a tarde toda fora do ar…

Vamos nos focar mais na estabilidade? Garanto que os benefícios serão inevitáveis.

A minha frase final é: o mesmo sistema que foi criado para facilitar nossas vidas, é o mesmo que causa nossos maiores atrasos e estresses. É realmente isso o que queremos?

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