“Caro Morimoto
Acabei de ler seu artigo migrar para o linux e resolvi escrever para perguntar-lhe, já que está mais familiarizado com as informações tecnológicas e lançamentos, sobre alguns aplicativos para linux.
Eu, como muitas pessoas possuímos um, até então um sonho, de migrar para o linux e deixar o Windows de lado, por motivos singulares que não são notícias para ninguém. Peguei de um amigo, o livro guia do usuário, da conectiva linux para dar uma olhada
sobre tudo e uma pergunta me veio à cabeça:
Atualmente, com o advento da informática, todos fazem de tudo um pouco usando computadores, e para isso usam aplicativos específicos para cada área e função. Sou publicitário e trabalho de sol a sol com a parte gráfica (Corel Draw, PhotoShop, Illustrator,
Autocad, Arqui 3D, Page Maker, Microstation entre outros).
Gostaria de uma informação sua, se não for incomodo: Quais desses softwares, atualmente, existem em versões para linux ??? …São fáceis de se encontrar ??? …como saber mais sobre isso ???
Imagino que muitas pessoas que trabalham e abusam incessantemente dessas maquinas que gerenciam dados só não mudaram ainda para o linux pelo motivo de não saberem da disponibilidade desses, entre vários outros aplicativos que sustentam hoje os mercados.
Será que o linux ainda é meio pobre em relação à essa questão?”
Já existem alguns aplicativos interessantes para Linux, mesmo na área gráfica, como por exemplo o Gimp, que sempre é citado como um substituto à altura do Photoshop. Mas em se tratando de programas especializados como estes, o Gimp ainda é mais uma
excessão do que a regra. A Corel chegou a lançar uma versão do Corel Draw! para Linux, mas o produto foi descontinuado, junto com o Corel Linux na época em que a Microsoft comprou ações da Corel. Como possível substitutos do Corel Draw, daria para citar,
talvez o Star Draw que é provavelmente o mais avançado neste segmento. Ele pode ser usado para aplicações básicas, mas não vai satisfazer um profissional. Quanto ao Auto Cad ou o Illustrator eu não conheço nenhum.
O Linux ainda tem uma oferta de aplicativos bem maior em termos de servidores Internet, sistemas de segurança, desenvolvimento, etc. Mesmo em termos de aplicativos de escritório, que seria uma área básica para a maioria dos usuários, os aplicativos
disponíveis ainda deixam um pouco a desejar em relação ao Office. O mais completo é o Star Office. O Kedit e o Gnumeric prometem para o futuro, já tem uma boa funcionalidade e devem melhorar. Ainda deve demorar um ano ou dois para termos uma suíte de
escritório para Linux que possa bater de frente com o Office. Os que já estão disponíveis contém a maior parte das funções, mas você sempre sentirá falta de alguma coisa.
O grande X da questão sobre programas mais específicos como os que você citou é que eles são usados por uma parcela pequena dos usuários, em comparação com browsers, interfaces gráficas, suítes de escritório etc. Como o número de desenvolvedores dedicados
a produzir software livre ainda é limitado, é perfeitamente natural que eles se dediquem a desenvolver aplicações que serão úteis a um maior número de usuários. Veja por exemplo o KDE e o Gnome, são duas interfaces muito bem feitas, que podem ser
comparadas à interface do Windows em funcionalidade, mas são bem superiores no design (pelo menos se comparados com o Windows 98 e 2000).
Mas, na minha opinião, o mais interessante em se tratando de Linux não são os aplicativos que estão aí, mas a filosofia por trás do software livre. Programas como o Office ou o AutoCAD são desenvolvidos por companhias fechadas. O desenvolvimento do
aplicativo é condicionado à concorrência e à demanda por parte dos usuários. Surge então a velha história de tentar empurrar uma nova versão a cada ano para vender novamente o mesmo software, como temos visto com o Office.
No caso de um software coberto pela GNU, o desenvolvimento pode ser feito por qualquer interessado. Pode ser alguém que sentiu falta de alguma funcionalidade do programa e resolveu implementa-la (ou pagar para algum programador faze-lo), pode ser um grupo
de voluntários, desenvolvedores isolados, ou mesmo uma entidade mantida com contribuições dos usuários do sistema. Parece uma bagunça, mas isso funciona surpreendentemente bem. A chave de tudo é que como os envolvidos estão trabalhando em algo que gostam,
acabam dando o melhor de sí, ao mesmo tempo em que tem a possibilidade de manter contato com várias outras pessoas talentosas com o mesmo objetivo. A troca de informações permite que o software seja desenvolvido muito mais rápido, não é à toa que vários
dos programadores mais talentosos do mundo trabalham no desenvolvimento do Linux e outros softwares livres.
A grande vantagem neste caso é que mesmo que os criadores desistam do projeto, qualquer um poderá continuá-lo. No final da contas, enquanto houver usuários interessados, haverá gente desenvolvendo o aplicativo, pois além dos voluntários haverá empresas
interessadas em desenvolvê-lo seja para uso próprio, seja para incluir em alguma distribuição, seja para fornecê-lo a clientes, etc. A mágica é que graças à GNU, estas melhorias também tornam-se disponíveis para o público. Torna-se uma espécie de troca, a
empresa pode aperfeiçoar um software para seu próprio uso, ao invés de ter de desenvolver o sistema do zero, desde que compartilhe as inovações com a sociedade.
O maior exemplo de como esta troca pode ser vantajosa para as empresas é o caso da IBM, que investirá 1.3 bilhões de dólares até o final deste ano no desenvolvimento de aplicativos para Linux e na popularização da plataforma. Isto não é caridade e sim
estratégia, eles sabem que terão muito mais competitividade rodando seus aplicativos sobre um sistema aberto, do que fazê-lo sobre um sistema proprietário, como o Windows.
Usando Linux eles podem implantar seus sistemas da forma que quiserem, adicionar funções e adaptar o sistema às suas necessidades, ao invés de pagar licenças milionários e ainda deixar tudo à cargo de empresas que amanhã podem estar disputando o mesmo
mercado.
O fato de fazer seus sistemas rodar sobre o Linux, não impede que você cobre o quanto quiser pela sua implantação e ninguém melhor do que você mesmo para dar suporte sobre o que desenvolveu. É o caso da IBM.
Existe também outro ponto importante, que é a popularização da informática. Não é de se esperar que alguém que mal tenha 1500 reais para comprar um PC possa gastar mais quase 2000 reais comprando Windows e Office (sem falar de outros programas). Usando
software livre, ele poderá instalar e testar todos os programas que gostaria de aprender. Mais tarde, já devidamente qualificado, ele pode ajudar de alguma forma no desenvolvimento dos mesmos softwares.
Veja que isto tem um potencial de crescimento muito grande. Aliás já temos visto isto nos últimos anos. Chega a ser impressionante como num prazo de 10 anos, o Linux partiu do nada para tudo o que existe hoje. Se descontarmos a fase embrionária do
desenvolvimento do Kernel, quando eram apenas o Linus e mais meia dúzia de voluntários, podemos contar apenas 7 ou 8 anos.
Como o Linux tem hoje em dia apenas 2% dos usuários é de se esperar que cresça bastante nos próximos anos. Eu arrisco 25% dos desktops num prazo de dois anos, o que seria em agosto de 2003.
Posso estar certo, ou errado, e investir em aprendizado do Linux é justamente uma questão de acreditar, ou não, em tudo que escrevi até aqui. Isso se aplica especialmente a quem trabalha com manutenção ou na área de suporte. Se você não começar a estudar
o Linux agora, eu realmente acertar na minha previsão e o sistema passar a desenvolver-se cada vez mais rapidamente, quem vai ficar sem emprego é você.
Se por outro lado, você resolver dedicar parte do seu tempo a dominar o sistema, você não perderá nada, pois existe um mercado crescente relacionado à plataforma. Na Conectiva mesmo estão precisando de técnicos de suporte.
Você não precisa parar de usar o Windows e os aplicativos de que precisa para trabalhar para fazer isso. Arrume um outro HD e instale o Linux, se você fizer qualquer besteira, basta formata-lo e começar de novo. Seu trabalho estará salvo em outro lugar.
Quando perceber que já existem todos os aplicativos de que precisa, você poderá fazer a sua escolha.
Mas, voltando à pergunta inicial, é provável que um dia tenhamos softwares livres para todas as áreas, mas no caso de programas muito específicos, como o AutoCAD, o mais provável a curto prazo é que as companhias comecem a lançar versões Linux de seus
aplicativos comerciais. Esta idéia vem ganhando destaque atualmente, com o lançamento do Kylix, uma versão do Delphi 6, lançado pela própria Borland, que permite compilar os programas desenvolvidos no Delphi 6 ou no Kylix tanto para Windows quanto para
Linux, sem necessidade de nenhuma alteração no código fonte.
É fácil para o desenvolvedor recompilar sua aplicação para outra plataforma, caso tenha uma ferramenta que facilite a tarefa. O Kylix abriu o caminho para que desenvolvedores que trabalham sobre outras linguagens tenham a mesma facilidade.
Uma segunda possibilidade seria o Wine, um programa que permite rodar aplicativos Windows dentro do Linux. O Wine já roda vários programas, mas ainda está um pouco distante de estar completo. De qualquer forma, não deixa de ser uma esperança, já que o
sistema usado permite rodar os aplicativos dentro do linux com uma performance próxima da que seria obtida dentro do Windows.
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