Entra ano e sai ano e os números relacionados às ameaças virtuais seguem desanimadores, e até mesmo intimidadores. A AV Test Institute registra mais de 350.000 novos malwares e aplicativos indesejados diariamente, o ransomware, uma das ameaças de mais impacto nos últimos anos, também segue despontando, e com a esmagadora maioria de suas opções voltadas ao Windows. E até mesmo situações tradicionais seguem mantidas. O e-mail ainda é o principal vetor de ataque.
Essas constatações fazem com que alguns termos, como antivírus, siga no imaginário popular e um questionamento também não desaparece: ainda vale a pena pagar por algum antivírus?
Evidentemente há muitas pessoas que jamais gastaram um centavo com algum software antivírus, outra grande parcela trata tais aplicativos como supérfluos, usando o argumento de que ‘sei o que estou fazendo, meu dispositivo não será infectado, mas também há uma parcela significativa que segue entendendo como viável o pagamento por algum programa que prega a mensagem de proteção.
O grande x da questão é que, assim como em muitos outros temas, certos tabus são mantidos mesmo com a evolução e mudança que um determinado segmento passou. Desconsiderando o passado, e a tradição, reforçada pelo hábito, será que ainda é realmente crucial pagar pela licença de algum software antivírus?
Vale pontuar que a discussão aqui é inteiramente voltada ao consumidor final. Quando falamos do meio corporativo, o tópico é bem mais amplo, e as soluções podem (e vão) bem além de um simples antivírus, passamos por uma seara de EDR (Endpoint Detection and Response), que trabalham para que as organizações consigam entender e ser proativos o mais rápido possível em termos de segurança cibernética.
Agora quando falamos do usuário final, daquela pessoa com o seu computador, ou até mesmo outros dispositivos como o smartphones, que faz cada vez mais o papel do PC, com o contato com ofertas de alguma empresa de segurança, que oferece um antivírus, e que enumera a lista de benefícios sobre a aquisição de uma licença paga. Como proceder? Ainda é válido, em termos de segurança? E se a discussão considerar recursos extras?
São abordagens distintas. Vamos passar por ambas.
Segurança
No quesito especificamente da segurança, é interessante pontuar como o mercado de antivírus mudou ao longo dos anos. Foi realmente uma mudança no estilo “água pro vinho”, assim como as próprias ameaças virtuais também mudaram e evoluíram. Nos primórdios dessas pragas, na década de 80, tínhamos um cenário em que vírus era uma forma de irritar os donos das máquinas infectadas, o contexto do roubo de informações ganharia força nas décadas seguintes.
Como nos explicou Fabio Assolini, diretor da Equipe Global de Pesquisa e Análise da Kaspersky para a América Latina, nesta entrevista para o Hardware.com.br, o jeito como se fazia antivírus foi alterado. Passamos de um sistema de assinaturas, com um trecho do código do vírus, para uma abordagem mais ampla e completa, baseado, por exemplo, em detecção genérica, heurística, comportamentais, análises feitas a partir da nuvem, onde o tempo para que uma proteção contra uma nova ameaça seja disponibilizada de maneira muito mais rápida.
Essa abordagem favoreceu todo o mercado, a sensação de segurança que os grandes softwares de antivírus passam aumentou consideravelmente, o que, consequentemente, também potencializou a ideia de pagar por alguma licença que essas empresas vendem.
Em paralelo a isso, assim como em outras situações, foi iniciada uma corrida por uma solução in the house para o Windows e também para o Mac, segundo sistema operacional mais utilizado pelo usuário final.
Tanto a Microsoft quanto a Apple desenvolveram e seguem aprimorando a sua própria solução nativa de segurança. No caso do Windows, o recurso ganhou mais visibilidade, até porque estamos falando de um sistema com uma quota de mercado massiva e consolidada.
A caminhada da Microsoft em entregar uma solução nativa de segurança tem mais tempo do que você pode lembrar. Em 1993. já existia para o DOS o Microsoft Anti-Virus (Msv). Essa solução foi fornecida pela Central Point Software, adquirida em 1994 pela Symantec que integrou a tecnologia a um dos antivírus mais famoso de todos os tempos, o Norton.
A segunda grande fase da Microsoft neste segmento começou a ser desenhada a partir de 2004, quando a gigante de Redmond adquiriu a GIANT Company Software, que fornecia o GIANT AntiSpyware. O software foi rebatizado para Microsoft AntiSpyware. Em 2006 foi feito um redesign e um novo nome oficializado: Windows Defender.
No Windows Vista e no Windows 7, o Windows Defender foi substituído pelo Microsoft Security Essentials, solução de segurança mais completo. A partir do Windows 8 a solução nativa de segurança do sistema voltou a ser conhecida como Windows Defender.
Em 2020, foi renomado para Microsoft Defender Antivírus. A inclusão de uma solução nativa também é uma grande cartada do ponto de vista a incentivar com que os usuários estejam sempre utilizando as versões mais recentes do sistema.
Já que o Windows tem o seu próprio antivírus, gratuito e integrado diretamente ao sistema, fica o questionamento: preciso instalar algum antivírus de terceiros? Preciso do Norton, Avast., Kaspersky, Malwarebytes, entre outros?
Novamente, tratando especificamente do quesito segurança, e considerando o usuário final, a resposta é que, na esmagadora maioria dos casos, o antivírus do Windows já mantém seu computador protegido, e você não precisa pagar por nenhuma solução de terceiros.
O Windows Defender vem evoluindo de maneira impressionante e já é uma solução de segurança completamente confiável, capaz de detectar e mitigar as principais ameaças, incluindo ransomware.
O principal teste focado em soluções de antivírus, conduzida pela AV-Test, deixa isso bem claro. O teste expõe os principais softwares de segurança do mercado a vulnerabilidades zero day e aos malwares predominantes das últimas semanas anteriores a análise.
No quesito de proteção contra ataques zero day, a média da indústria dos softwares de segurança, em termos de detecção, é 99,7%, o Windows Defender conseguiu detectar 100% dos casos, na bateria de testes mais recentes da AV-Test (junho de 2022), o software também conseguiu pontuação máxima na detecção sobre os malwares mais recentes, e também sobre o impacto mínimo que o programa causa diretamente na performance do dispositivo.
O Windows Defender já aparece até mesmo para o concorrente, já há uma versão para o iOS, sistema mobile da Apple, que protege o dispositivo da gigante da maçã contra páginas maliciosas, bloqueando links suspeitos e impedindo a captura de informações pessoais.
Um complemento interessante para a segurança geral do iPhone que já manda muito bem no quesito de fechar o cerco contra ameaças na loja oficial dos apps, realidade que não é tão eficaz quando falamos de Android. O Windows Defender também tem versões para o Android e MacOS.
No caso do MacOS o assunto muda um pouco de figura. A Apple tem meios nativos de segurança para o sistema, como Gatekeeper”, que avisa quando aplicativos sem assinatura digital valiada pela Apple são executados, o XProtect, antivírus, e o MRT (Malware Removal Tool).
Todas elas funcionam de maneira invisível ao usuário e funcionam bem, considerando também que o MacOS é menos visado do ponto de vista do cibercrime, no entanto, como destaca a AV Comparatives, especialistas de segurança consideram viável complementar a segurança do MacOS com alguma solução de terceiros, já que elas podem responder com mais rapidez as ameaças.
Essa dobradinha entre uma solução nativa e uma solução de terceiros sempre esteve por aí, mas nos últimos tempos ganhou mais relevância, justamente pela consolidação de meios nativos de mitigar ameaças digitais. Mas e em termos de recursos extras? Pode ser esse o atrativo que faça com que alguém recorra a uma licença paga.
Recursos extras
Já faz alguns anos que as empresas que fornecem antivírus usam como trunfo recursos extras para chamar a atenção. Como, por exemplo, a questão de funcionalidades ligadas a otimização de desempenho do computador e smartphone, e outras parafernálias, como bloqueador de anúncios, navegação privada, controle parental, gerenciamento do tempo de tela, VPN e até mesmo proteção para sua webcam.
Recursos que são possíveis obter de forma independente, mas você tem o agregado dentro dessa enorme suíte que é o antivírus. Olhando por esse prisma, pode ser interessante, até pelo fator comodidade, que muitos consideram pagar por uma licença que automatiza diversos recursos.
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Mas até mesmo com os recursos extras, é preciso analisar com atenção. Vamos olhar o caso da VPN, sendo um grande chamariz da maioria dos softwares de antivírus. A VPN atua criando um tunelamento para que a navegação e dados transferidos sejam encriptados, isso garante mais privacidade, segurança e pode até mesmo quebrar certos bloqueios geográficos, pela alteração da localização e IP, no entanto, os serviços de VPN podem restringir o total de dados que podem ser tráfegos por dia – similar a uma franquia do seu pacote de dados móveis.
Quando olhamos para alguns serviços de VPN oferecidos por antivírus, o total de dados que podem se trafegados é risível, como é o caso da VPN oferecida pela Bitdefender: 200 MB de franquia por dispositivo e 500 MB com a assinatura Bitfedefender Small Office Securit.
Portanto, a inclusão do recurso não significa que ela atende o seu perfil de uso. É importante, caso você esteja considerando assinar algum software de antivírus, pesquisar se atende o que você espera.
Geralmente, você está pagando por uma seleção de recursos extras, e não pela proteção em si do antivírus.
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