A guerra da Netflix contra o compartilhamento de senhas

A guerra da Netflix contra o compartilhamento de senhas

A Netflix vive hoje um impasse representativo em sua história. Está conseguindo desagradar acionistas e também usuários. Do lado dos acionistas, a desvalorização do valor de mercado da atual líder do segmento de streaming de vídeo sob demanda causa a ira de quem tem a plataforma como mais um investimento.

Com os usuários, o ponto de “stress” da vez é a mudança de discurso e postura da Netflix em relação ao compartilhamento de senhas.  Desde março, a plataforma vem testando a cobrança de uma taxa extra para quem compartilha a senha da conta com pessoas que estão fora da residência.

Os primeiros países em que essa nova prática está sendo testada são os seguintes: Chile, Costa Rica e Peru. Curiosamente, os três integram a América Central/Sul, regiões que representam um risco menor para que a Netflix possa colocar pra frente esse teste, já que o domínio da empresa em tais mercados é altamente significativo. No Peru, por exemplo, de acordo com dados da Ampere Analysis, o serviço responde por 41% dos usuários de streaming no país.

Essa tática dos testes da Netflix em regiões específicas não é nenhuma novidade. Um caso importante neste sentido aconteceu em 2019, quando a Netflix parou de oferecer o seu famoso período de 30 dias grátis na Espanha, México, Colômbia, Chile, Itália e Argentina.

Esse teste virou uma nova política padrão para todos os países que a Netflix atua. A partir de 2020, os 30 dias de acesso grátis à plataforma deixaram de valer no Brasil.

O mesmo caminho está sendo adotado em relação ao compartilhamento de senhas. Ainda estamos na fase de teste, mas a medida provavelmente será aplicada como uma regra em todos os mercados.

Alguns números ajudam a traduzir essa preocupação da Netflix em relação ao compartilhamento de senhas atrelado às mudanças em relação ao mercado de streaming. De acordo com dados da própria plataforma, cerca de 100 milhões de lares acessam o serviço através de senhas emprestadas.

Em 2019, citando especificamente o mercado americano, a empresa falava que dos 58.49 milhões de assinantes na época, cerca de 16,38 milhões compartilhavam sua senha com outra pessoa. Com essa prática, segundo os dados divulgados naquele momento, a Netflix deixava de faturar US$ 147 milhões por mês, quase US$ 1.8 bilhão ao ano, somente no mercado americano. Portanto, é um tema que a Netflix vem observando há alguns anos. Os prejuízos vêm escalando, assim como o serviço. Há também um forte mercado paralelo e ilegal que revende senhas de acesso ao serviço.

Atualmente, a Netflix é bem maior do que era em 2019, um salto que passa não apenas pelo número de assinantes, mas também no próprio investimento em produções originais, um dos trunfos para seguir relevante no cada vez mais concorrido mercado de streaming. 

Do lado do usuário, o compartilhamento de senhas acaba funcionando como um amortizador da mensalidade, ainda mais para aqueles que assinam diversas plataformas, já que o valor integral da assinatura pode ser dividido entre pessoas que usufruem de um mesmo cadastro base.

No comunicado oficial da Netflix, sobre o início dos testes da cobrança de uma taxa para o compartilhamento da conta, a empresa diz que o compartilhamento sem restrições impacta na “habilidade de investir em grandes filmes e séries”.

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Em meio a essa mudança significativa de planejamento, a Netflix se vê num panorama que não é nada animador. A plataforma perdeu 200 mil assinantes, entre janeiro e março de 2022. Essa foi a primeira vez em 10 anos que o serviço registra uma retração em sua base de usuários. No segundo trimestre a situação pode ser ainda mais tenebrosa. A previsão é que cerca de 2 milhões de assinantes abandonem o serviço.

O Caos

O site Rest of World relata como está sendo recebida essa questão do pagamento de uma taxa pelo compartilhamento de senha no Peru, um dos países que o teste está ativo – a taxa adicional é de 8 soles (R$ 10,24, em conversão direta).  A conclusão é a seguinte: um verdadeiro caos!

Alguns usuários cancelaram imediatamente a assinatura,  outros ignoraram a nova política e seguiram compartilhando a senha, enquanto outros nem foram notificados. Uma consultora ouvida pelo site diz que essa nova prática segue envolta em muitas incertezas. Por exemplo: caso um membro da casa saia temporariamente e queira acessar a Netflix de outro lugar, isso configura um acesso inadequado, considerando a restrição?

Ao acessar o site da Netflix Brasil, na página sobre os planos, é possível observar a seguinte frase: somente as pessoas que moram com você podem usar sua conta.

A Netflix define que apenas as pessoas que compartilham a mesma residência, o mesmo espaço físico, podem ter acesso à conta. Os próprios funcionários da empresa, ouvidos pelo Rest of Word, falaram que não sabem muito bem como explicar sobre a taxa extra que precisa ser paga pelo compartilhamento.

Algumas associações também percebem as diferenças de tratamento entre os usuários como discriminação arbitrária e exigem uma investigação.

Esse tema ainda vai gerar muito ruído, principalmente quando for adotado em larga escala. Por enquanto, não só a aplicação dessa nova política é um teste, a própria comunicação da Netflix sobre o tema carece de algo mais concreto.

Qual a sua opinião sobre essa mudança de abordagem da Netflix em relação ao compartilhamento de senhas? Conta aí pra gente.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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