Veredito: 12 megapixels são mais que suficientes!

Veredito: 12 megapixels são mais que suficientes!

Em um mundo capitalista, a desordenada corrida para o acréscimo de recursos nos produtos comercializados é – desde tempos antigos – o principal meio para atrair os consumidores, como todos já sabem. No dia a dia, acompanhamos o lançamento de processadores cada vez mais potentes, de monitores LCDs cada vez maiores e HDs com gigantesca capacidade de armazenamento. Tais “regras” valem também para as câmeras fotográficas digitais, onde o acréscimo de megapixels acaba se tornando o principal fator de decisão.

No entanto, um representante de um importante fabricante desta classe de dispositivos, faz uma declaração inusitada:

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Eis, o sensato Akira Watanabe.

12 megapixels são, eu penso, o suficiente para cobrir as necessidades que a maioria dos consumidores precisam.” – [Akira Watanabe, diretor do departamento de imagem da Olympus].

Se 12 megapixels são mais que suficientes, que problema há de acrescentar mais megapixels nas câmeras atuais digitais? Vejamos…

As câmeras digitais modernas são equipadas com um sensor de imagem digital, responsáveis pela captura da imagem. Basicamente, existem duas tecnologias: o CCD (Charge-Coupled Device) e o CMOS (Complementary Metal-Oxide Semiconductor). Embora possuam características distintas, ambos são formados por um circuito integrado que, mediante a uma matriz de capacitores (CCD) ou de transistores e outros componentes lógicos (CMOS), capturam o feixe de luz que formam as imagens, convertendo-as em informações elétricas que posteriormente irão compor a fotografia. Mas para evitar estender muito o assunto, recomendo a leitura do capítulo “Sensores”, do “Smartphones, Guia Prático”.

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Imagem de um sensor CCD (Wikipedia).

Acontece que os sensores de imagem, também estão sob a influência das mesmas leis, que regem o mercado de consumo dos produtos de tecnologias: a cada dia aprimoramentos são feitos sobre o processo de fabricação, tornando-os melhores que a geração anterior. E uma das propriedades mais fundamentais dos sensores, está nas fotografias com muitos megapixels que ele pode gerar: quanto mais megapixels, mais detalhes a imagem terá. Portanto, os fabricantes terão a árdua tarefa de acrescentar mais fotocélulas, mas em sensores que obrigatoriamente deverão continuar com as suas diminutas dimensões, aumentando assim a densidade de pixels por área.

Infelizmente, quanto maior a densidade de pixels por área, mais propensa será a incidência de ruídos. O ruído é uma falha que ocorre no processo de captura da imagem, devido as interferências eletromagnéticas causada pela proximidade das fotocélulas adjacentes. A sua aparência é típica das imagens analógicas de televisores, as quais são marcadas com granulações e chuviscos que afetam a clareza e a definição das imagens. Em condições onde a iluminação não é adequada (à noite), tais limitações se acentuam ainda mais, pois os pixels bem dimensionados conseguem capturar melhor a luz ambiente que os pixels sub-dimensionados em razão da alta densidade. E aumentar a sensibilidade ISO, só piora a situação…

Embora o mesmo processo contínuo de melhoramento também amenize a incidência de ruídos na imagens, a tecnologia atual já está chegando a limites que simplesmente não dá mais para acrescentar fotocélulas nos sensores, sem ocasionar a perda de qualidade. Se os sensores atuais de 1/2.5″ possuem uma área média de 24.71 mm2; imaginem então as dificuldades técnicas para “encaixar” 12 milhões de fotocélulas? Para variar, os sensores CMOS são bem mais suscetíveis à interferências eletromagnéticas que os seus equivalentes CCD, como também são muito utilizados em câmeras de celulares e smartphones. Sabendo-se da tendência destes dispositivos móveis agregarem recursos, então já devem ter percebido o drama dos donos de smartphones com “imponentes” câmeras de 12 megapixels.

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Tabela comparativa, com as diferentes dimensões (área) de sensores.

Uma imagem de 12 megapixels é mais que suficiente para as necessidades de fotógrafos ocasionais. Só para termos uma noção do quanto este valor representa, um monitor LCD full-HD (1920×1080) que for utilizado só para visualizar esta imagem, terá resolução suficiente para preencher aproximadamente 2,1 megapixels! Inclusive, para imprimir as famosas fotografias de 10×15, esta mesma resolução será mais que suficiente. Já para aqueles que gostam de fotos extra-grandes (40×30), uma imagem de 12 megapixels irá garantir uma ótima impressão, situada em torno da resolução fotográfica de 250 dpi. Ainda assim, com resoluções fotográficas menores (de 180 a 200 dpi), ainda poderemos realizar excelentes impressões fotográficas! E só para constar: quantas vezes vocês já requisitaram impressões de fotografias com esta dimensão?

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Celular Sony Ericsson C905: graças ao marketing agressivo da companhia, muitos “acreditaram” que a sua câmera de 8 megapixels pudesse produzir imagens gigantescas para outdoors…

Eis então, a importância da declaração do Sr. Akira Watanabe, como também as razões pela qual os especialistas em fotografia do mundo inteiro em geral, terem concordado. Mesmo assim, vemos os fabricantes insistirem em utilizar altíssimas resoluções – inclusive a própria Olympus – como diferencias, para os seus produtos recém lançados. Por exemplo, as novas câmeras fotográficas estão vindo com 14.7 megapixels, mantendo a mesma dimensão padrão dos sensores (1/2.5″). Inclusive, algumas máquinas estão vindo com sensores de 1/2″, que são apenas pouco maiores que o conhecido sensor de 1/2.5″. Eis a questão: porquê utilizar um sensor pouco difundido (mais caro), porém levemente maior? Acreditem: esses megapixels extras não irão acrescentar mais qualidade para as suas fotos!

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Olympus FE-5030: 14 megapixels, contrariando as opiniões do Sr. Akira…

Para se ter um exemplo prático da ação maléfica do excesso de megapixels, a Canon lançou a PowerShot G10, uma câmera compacta da categoria prosumer baseada na linha “G”, consagradas pela qualidade de imagem e voltada para atender uma classe especial de consumidores exigentes. Mas infelizmente, esta foi a mais criticada câmera da série, pois ao trazer um sensor com capacidade de 14.7 megapixels, a alta densidade das fotocélulas trouxeram junto, os clássicos problemas habituais de ruídos e aberrações. A qualidade de imagem foi afetada de tal maneira, que a PowerShot G11 foi lançada posteriormente com “apenas” 10 megapixels, priorizando a qualidade de imagem ao invés da alta resolução. Anterior à PowerShot G10, a PowerShot G9 é equipada com um sensor de 12 megapixels. E olha que estamos falando de um sensor de 1.1/7″ (43.32 mm2), e não de um minúsculo sensor de 1.2/5″ (24.71 mm2)!

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Canon PowerShot G10: a câmera prosumer da série G que mais sofreu críticas, devido à má qualidade da imagem por causa da grande densidade de pixels.

Até mesmo o criticado iPhone 4 surpreende ao dispor de uma câmera de apenas 5 megapixels, em contraste com os demais fabricantes que equipam seus smartphones com 8 ou 12 megapixels. No caso destes aparelhos, a situação se complica ainda mais porque eles são obrigados a adotar um diminuto sensor CMOS, devido à maior economia de energia proporcionada por esta tecnologia. Para variar, eles são mais suscetíveis às interferências eletromagnéticas que causam o odiado ruído, como já expliquei. Então, a sábia decisão da Apple em dimensionar bem o sensor CMOS para o seu smartphone, resultou em uma interessante capacidade de capturar imagens que variam de razoáveis a boas, mesmo com todas as suas limitações técnicas, mantendo também a sua boa autonomia energética.

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Linda foto de uma jardim, demonstrando toda a capacidade do novo iPhone 4 de tirar fotos de ótima qualidade em boas condições (sem retoques).

Bem, o que mais dizer?

Acredito que este seja o momento ideal para o técnico especializado em TI ou para o fotógrafo amador, iniciar um processo de conscientização para os mais leigos, buscando instruí-los e orientá-los na escolha de produtos de boa qualidade. “Mais” não quer dizer necessariamente “mais”; portanto, pensem bem antes de adquirirem máquinas fotográficas e celulares com promessas de fotografias maravilhosas, baseando-se exclusivamente em sua resolução! Analisem os demais fatores, buscando sempre o melhor equilíbrio possível entre necessidades do usuário, os recursos disponíveis, as especificações técnicas adequadas e os custos gerais do produto.

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>

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