Como de praxe, a falta do cache L2 reduz consideravelmente o desempenho do processador. Apesar disso, na prática achei o desempenho do processador bastante satisfatório para a tarefa à qual o Classmate se destina. O Firefox roda bem, você pode navegar com algumas abas abertas sem nenhuma lentidão perceptível relacionada a processamento e o desempenho é mais do que suficiente para assistir vídeos do Youtube ou vídeos em MPEG4, por exemplo.
A minha principal queixa com relação ao uso do Celeron é a falta do suporte ao speedstep, o que faz com que o processador opere sempre na freqüência máxima. O consumo do Celeron ULV 900 é bastante baixo em relação ao de um processador tradicional (o TDP é de apenas 5 watts), mas ele representa metade do consumo total do Classmate, que fica em torno dos 10 watts. Os transístores referentes ao speedstep estão presentes no processador, mas o recurso é desativado por questões comerciais.
Se a Intel criasse uma versão do Celeron específica para uso no Classmate, com algum cache L2 e o speedstep ativado, poderia facilmente criar um processador de ultra-baixo consumo, que permitiria aumentar consideravelmente a autonomia das baterias e, possivelmente, eliminar a necessidade de usar um cooler ativo, o que eliminaria o único foco de ruído dentro do Classmate e resultaria em mais uma redução no consumo elétrico.
Aqui temos uma foto com o dissipador removido, mostrando o processador (que é soldado diretamente à placa mãe) e a ponte norte do chipset:
O chipset usado é um Intel 915GMS. Ele é uma versão de baixo custo do chipset 915GM. A única diferença entre os dois é que o 915GMS utiliza um controlador de memória single-channel (enquanto o 915GM suporta dual-channel), o que de qualquer forma não faz diferença no Classmate, onde não existe a possibilidade de utilizar um segundo módulo de memória.
O chipset de vídeo é um Intel GMA 900 integrado, que opera a 200 MHz. Ele oferece um desempenho 3D razoável (dentro do esperado de um chipset de vídeo integrado), o que permite que o Classmate rode aplicativos 3D e jogos simples. O uso de jogos seria uma questão polêmica do ponto de vista pedagógico, mas acredito que alguns jogos educativos especialmente desenvolvidos poderiam ser uma forma bastante produtiva de aproveitar os recursos do chipset de vídeo.
Continuando, aqui temos a placa-mãe já removida, o que dá uma idéia melhor do formato e das dimensões:
Do outro lado da placa temos a ponte sul do chipset, a placa wireless, o leitor de cartões, o chipset de rede, a bateria do CMOS, o chip do BIOS e outros componentes menores:
A bateria do CMOS é uma bateria de 3V comum, que pode ser substituída. O problema é que para chegar até ela você precisa desmontar todo o aparelho. Se você tiver qualquer problema relacionado às configurações do Setup que torne necessário limpar o CMOS, você vai ter um belo trabalho para achegar até ela.
Continuando, a placa wireless é uma Ralink rt73, ligada ao barramento USB. Como pode ver, ela utiliza um header USB miniaturizado, de 6 pinos:
Na prática, não faz muita diferença a qual barramento a placa wireless está conectada, mas sim a qualidade do chipset e da antena. O chipset rt73 é um chipset de baixo custo, possivelmente o chipset mais barato dentro da linha da Ralink, mas a qualidade me pareceu satisfatória, incluindo os drivers for Linux.
Você poderia se perguntar por que a Intel está utilizando uma placa da Ralink, no lugar de uma placa IPW2000 de sua própria marca. O motivo no caso é o custo. Por mais que a própria Intel produza as placas, elas são produtos mais caros, destinados a outros nichos de mercado. Mesmo se considerássemos o preço de custo, provavelmente elas são mais caras que as placas rt73 usadas no Classmate.
O leitor de cartões é ligado diretamente ao barramento USB, diferentemente dos leitores encontrados em muitos notebooks, que utilizam um controlador mais barato, ligado diretamente ao barramento PCI. Isso faz com que o cartão seja detectado pelo sistema da mesma forma que um pendrive e possa ser usado até mesmo para dar boot.
Uma forma simples de ter dois sistemas em “dual-boot” no Classmate é simplesmente instalar o segundo sistema no cartão e trocar a ordem de boot no Setup, escolhendo entre dar boot usando a memória interna, ou através do cartão. No Linux a memória interna é vista pelo sistema como “/dev/sdb” e o leitor de cartões como “/dev/sda” (mesmo que nenhum cartão esteja instalado).
Aqui temos o chip Realtek RTL8100 (que é quase idêntico ao RTL8139D usado nas placas 10/100 da Encore) e o chip com o BIOS da AMI. Novamente, o uso do chip de rede da Realtek via cortar custos, já que ele é muito mais barato que o chipset Intel E1000:
Até mesmo a VIA, a arque-inimiga da Intel deu sua parcela de contribuição no Classmate, na forma do codec usado pelo chipset de áudio. O codec é o chip responsável por transformar o sinal digital enviado pelo chipset de áudio no sinal analógico, que é enviado às caixas de som. Os dois componentes são independentes, de forma que é possível combinar um chipset de áudio da Intel com um codec da VIA, por exemplo, que é justamente o caso do Classmate. O codec é um chip pequeno e muito barato, possivelmente o chip da VIA foi escolhido apenas pela questão do preço:
Embora o Classmate não possua um modem discado, a placa possui um slot MDC, que permitiria a instalação de um caso necessário. Ele mantém abertas as portas para uma eventual versão do Classmate com modem discado:
O MDC (Mobile Daughter Card ou Modem Daughter Card) é um slot de expansão similar ao slot AMR encontrado nas placas para desktop. Ele é usado por modems e transmissores bluetooth, permitindo que os componentes analógicos (que precisam ser certificados pelos órgãos de telecomunicação) sejam separados do restante da placa-mãe. Você pode pensar no MDC como uma versão mobile dos slots AMR. Aqui temos um exemplo de modem MDC:
Como comentei na primeira parte da análise, a tela do Classmate utiliza LEDs para a iluminação da tela, no lugar da tradicional lâmpada de catodo frio, o que permite reduzir o consumo elétrico da tela e torná-la mais compacta:
Outra tecnologia usada para reduzir o consumo é o LVDS, que atua na forma como os sinais de atualização de imagem são transmitidos do chipset de vídeo até o controlador da tela. A tecnologia LVDS consiste no uso de sinais de baixo diferencial elétrico (400 mV ou mesmo 200 mV, contra 1.5, 3.3 ou mesmo 5V dos barramentos tradicionais), o que resulta em um gasto menor de energia. O LVDS é na verdade usado em um número cada vez maior de telas de LCD, por isso não é exatamente uma novidade, mas de qualquer forma é útil em um aparelho destinado a consumir pouca energia.
Concluindo, aqui temos mais um comparativo do tamanho do teclado, desta vez comparando o teclado do Classmate com o de um Acer 5050:
O teclado é construído de forma a se encaixar de forma quase hermética sobre o Classmate. Isso visa oferecer uma certa segurança contra líquidos derramados sobre o teclado, já que o líquido tende a escorrer para os lados, com uma quantidade muito pequena entrando dentro do aparelho, reduzindo a possibilidade de danos.
O Classmate é atualmente fabricado na China e a Intel pretende que ele seja montado e comercializado no no Brasil por parceiros nacionais. Inicialmente o Classmate custará por volta de US$ 400, mas é possível que o preço caia conforme eles passem a ser produzidos em quantidade.
Os 400 dólares iniciais são um valor que considero bastante alto, pois é mais do dobro do preço do OLPC, que seria o concorrente direto do Classmate e superior também ao do Asus Eee 4G Surf, que possui uma configuração superior. O valor de US$ 400 pode ser aceitável para compras em pequenos volumes, mas não para compras maiores. Acredito que um preço em torno de US$ 250 para compras de lotes por parte dos governos e entidades seria mais apropriado.
Com isso nossa análise do Classmate chega ao fim. Espero que as informações tenham ajudado a entender melhor o aparelho e dado uma nova perspectiva sobre ele. Não deixe de postar suas impressões e dúvidas de última hora no tópico do fórum. Nos vemos na próxima análise :).
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