Windows ou Linux?

Atualmente, existem tanto versões do Classmate com Linux quanto versões com o Windows. No caso das versões com o Linux é usada uma versão customizada do Mandriva ou do Metasys (com possibilidade de usar outras distribuições), enquanto nas versões com o Windows é usado o Windows XP Starter ou o XP Professional, que é o caso desta unidade que recebi:

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Trata-se de uma instalação padrão do Windows XP (com algumas bibliotecas e alguns componentes do sistema removidos para economizar espaço), com poucas personalizações. Até mesmo a página padrão do Internet Explorer continua sendo a página do MSN, ao invés de alguma página relacionada ao projeto. A instalação do Windows ocupa 1 GB da memória interna, deixando mais 1 GB disponível para arquivos e programas adicionais.

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Os quatro softwares adicionais dignos de nota são o e-Learning Class, o Parents Carefree, o Theft Control Center e o Note Taker.

O e-Leaning Class é um software destinado à integração com o professor. Desde que os Classmates estejam ligados em rede, o professor pode usar o software para enviar arquivos (apostilas, atividades, etc.) para os alunos, usar um sistema de chat e também usar uma função de controle-remoto (similar ao VNC) que permite que ele veja a tela do aluno, assuma o controle remotamente ou mesmo desative temporariamente os Classmates dos alunos, quando for iniciar uma explicação, por exemplo.

Nos projetos-piloto conduzidos aqui no Brasil (http://www.classmatepc.com/sharing-experiences.html), estas funções eram usadas pelos professores através de um UMPC:

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O Parents Carefree, é uma espécie de proxy local, que permite limitar o acesso à web, criando listas de sites proibidos (ou uma “lista branca”, com endereços permitidos) e também loga as páginas acessadas pela criança. É similar ao que fazemos no Linux usando um proxy local com o Squid.

O Theft Control Center, um software “antifurto”, que é baseado no uso de certificados digitais distribuídos via web. É necessário conectar periódicamente o notebook à web para baixar um certificado atualizado. Quando o prazo para a atualização do certificado está se esgotando ele passa a exibir um aviso que você deve conectar o Classmate à rede para abaixar a atualização:

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Cada notebook possui um código de identificação que é checado em relação a uma lista de notebooks roubados ou perdidos. Se o certificado não é atualizado dentro do prazo, ou se o notebook foi cadastrado na lista, o software pode travar o uso do sistema. A trava é feita em conjunto com uma rotina implantada no BIOS, de forma que o notebook passa a pedir uma senha de destravamento durante o boot.

Outro software interessante é o Note Taker. Ele é um software para anotações, que funciona em conjunto com um sensor e caneta (eles estão marcados como opcionais no datasheet, não tenho informações sobre o custo). O sensor é preso através de uma presilha no caderno ou bloco de papel e tudo o que você escreve ou desenha é transportado automaticamente para o software rodando no PC:

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A caneta funciona de uma forma bastante engenhosa. Um transmissor dentro da caneta detecta quando você pressiona a ponta contra o papel e envia um sinal que é captado pela base. Ela, por sua vez, usa um leitor infra-vermelho para acompanhar os movimentos da caneta sobre o papel e enviá-los ao software rodando no Classmate. O sensor na caneta faz com que os movimentos sejam enviados apenas quando você efetivamente escreve sobre o papel e o software seja aberto automaticamente quando você começa a escrever, o que torna o sistema bastante eficiente.

Pessoalmente achei o Note Taker bastante interessante do ponto de vista pedagógico, pois permite que os alunos continuem usando a escrita manual e possam organizar as notas e conteúdos copiados de uma forma prática dentro do PC, ao invés de passarem a usar apenas o teclado.

Apesar de ter achado o Note Taker interessante, achei o conjunto de softwares incluído por padrão bastante fraco. O principal, que é o projeto pedagógico, os aplicativos de ensino, e-books, sites educacionais, etc. acabariam ficando a cargo das escolas. Acredito que uma empresa do tamanho da Intel poderia fazer melhor, desenvolvendo projetos pedagógicos para o uso do Classmate, licenciando livros didáticos que poderiam ser fornecidos pré-instalados junto com o aparelho e assim por diante.

Um detalhe digno de nota é que estes 4 softwares possuem versão Linux, como divulgado no: http://www.classmatepc.com/classmatepc-system-software.html. O Theft Control e o Note Taker foram portados diretamente, pela própria Intel, enquanto o e-Learning Class e o Parents Carefree são substituídos por, respectivamente, o EduSyst Policy Control e o EduSyst Class Control, que oferecem funções similares.

Continuando, o principal problema em usar o Windows no Classmate é a questão da memória. Na unidade que recebi, o arquivo de troca do Windows veio desativado por padrão, de forma que o sistema dispõe apenas dos 256 MB de memória instalada. Como o chipset de vídeo usa de 8 MB a 128 MB memória compartilhada (o valor é definido dinamicamente de acordo com o uso), a quantidade de memória efetivamente disponível para o sistema é um pouco menor.

Sem o arquivo de troca, aplicativos que precisam de mais memória passam a ser fechados com erros diversos, o que limita um pouco o uso do sistema. O próprio Windows exibe periodicamente um aviso reclamando da falta do arquivo de paginação:

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Naturalmente, nada impede que você ative o arquivo de troca, deixando que o sistema use algum espaço do drive de memória Flash, mas isso reduz o espaço de armazenamento disponível e abre a possibilidade do grande volume de operações de leitura e escrita começarem a esgotar os ciclos de leitura e escrita das células de memória flash depois de alguns meses de uso.

Ao ativar o arquivo de troca (deixando que o Windows gerencie o tamanho), é criado um arquivo de troca de 256 MB. Como o e-Leaning Class, Parents Carefree e outros softwares são carregados por padrão junto com o sistema, o uso de memória é muito alto. Mesmo sem abrir nenhum programa adicional já temos 170 MB de memória swap usados e apenas mais 71 MB de memória física disponível:

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Este screenshot do relatório do Everest mostra um consumo ainda maior, com 212 MB de memória física e 211 MB de memória swap usados. A diferença entre os dois screenshots é que o Task Manager foi tirado após um boot limpo, enquanto o do Everest foi tirado depois de instalar e abrir o Everest:

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Para usar o Windows XP de forma confortável no Classmate, seria necessário utilizar 512 MB de memória física, permitindo que o sistema trabalhasse sem usar uma quantidade significativa de memória swap. Ao contrário de um desktop tradicional, onde temos bastante espaço disponível no HD, o espaço de armazenamento do Classmate é bastante limitado. Permitir que o Windows crie um arquivo de swap de 256 MB já sacrifica um quarto do 1 GB de espaço disponível para armazenamento, o que é bastante coisa.

Do ponto de vista técnico, também não vejo nenhum bom motivo para o uso do Windows. O Classmate é o melhor exemplo que posso imaginar para um aparelho onde o que importa são os aplicativos e não o sistema operacional.

O Windows XP é um sistema pesado para a configuração de hardware do Classmate, oferece poucas opções de personalização e representa um custo adicional, na forma de licenças. Uma distribuição Linux personalizada para o aparelho pode aproveitar melhor os recursos do hardware e incluir um número maior de aplicativos, com a vantagem de ser mais personalizável.

A equipe da Mandriva tem trabalhado em uma versão customizada para o Classmate, que parece bastante promissora. Temos ainda um sistema desenvolvido pela Metasys, que não tive oportunidade de experimentar. Não existe nenhum obstáculo técnico que impeça o uso de outras distribuições no Classmate, de forma que é apenas questão de outros grupos ou empresas aparecerem com soluções que melhor atendam o público alvo do projeto.

Aqui temos um exemplo, com o Classmate rodando uma instalação padrão do Kurumin 7, acessando através da rede wireless e exibindo um vídeo da BBC via streaming:

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Na segunda parte da análise falarei mais sobre os componentes internos e também sobre como instalar Linux no Classmate o que, como pode imaginar tem suas peculiaridades.

Confira a segunda parte em: https://www.hardware.com.br/analises/intel-classmate-parte2/

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