19O primeiro vírus de computador foi o Creeper, desenvolvido em 1971 pelo americano Bob Thomas, que era pesquisador de segurança da BBN Technologies.
Batizado em homenagem a um vilão do desenho animado Scooby Doo, o Creeper foi o precursor das ameaças a sistemas informáticos, criado numa época pré-computadores pessoais, pré- internet comercial e até mesmo antes do termo vírus de computador entrar no vocabulário popular.
Thomas, que estava envolvido na época com a ARPANET, pioneira do conceito do que seria a internet, em relação à sua interconexão em rede, desenvolveu o Creeper como uma prova de conceito, um teste interno.
A BBN Electronics ser o epicentro do desenvolvimento deste primeiro software que receberia o título de embrião dos vírus de computador não foi por acaso. A empresa, fundada em 1948, com sede em Massachustes, EUA, foi o lar de pessoas tão importantes para o desenvolvimento digital quanto Bob Thomas.
Foi na BBN que o programador Ray Tomlinson, em 1971, desenvolveu o e-mail. Criação que, assim como o vírus, também tinha relação com a ARPANET.
Desde o ano de sua criação, o e-mail carrega a maior “assinatura” de Tomlinson no projeto: o uso do @ para separar o nome de usuário e o núcleo provedor responsável por fazer valer aquele envio. Neste mesmo ano, Tomlison desenvolveu o Reaper, simplesmente o primeiro antivírus, capaz de neutralizar o Creeper.
1971 foi o ano da criação do virus, do e-mail e do antivírus, que ano, hein?
Replicante
O Creeper conseguia infectar os mainframes da DEC, especificamente o PDP-10, que rodava o sistema operacional TENEX.
O software tinha a característica máxima de um vírus: auto-replicação. O Creeper viajava em rede, infectando outros nós (máquinas) que fizessem parte daquela malha.
Como explica Mykko Hypponen, especialista em segurança e fundador do Malware Museum, primeiro repositório online de código malicioso, os vírus não necessitam ser maliciosos para serem classificados como tal. Apenas precisam ser replicar!
Mesmo não carregando a carga negativa que ficou comumente associada aos vírus, principalmente a partir de meados dos anos 80, o Creeper encabeça o hall dos vírus por seu fator replicante.
O Creeper também foi o precursor de outra característica que ficaria associada a alguns vírus. O repasse de uma determinada mensagem quando a infecção fosse bem-sucedida.
Ao infectar seu alvo, o Crepper deixava a seguinte mensagem: I’m Creeper: catch me if you can (Eu sou o Creeper, capture-me se for capaz).
O repasse de alguma mensagem na infecção é uma particularidade do ransomware, uma das ameaças digitais mais comentadas dos últimos anos. Criado no fim dos anos 80, o ransomware encripta arquivos ou impede acesso ao dispositivo e deixa uma mensagem ordenando o pagamento de um resgate para que tudo seja restabelecido.
Origem do termo vírus de computador
Em termos de características de funcionamento, Thomas conseguiu deixar uma assinatura tão perene quanto Tomlinson, mas a popularização do termo para se referir a esse software capaz de invadir outros softwares tem outro “pai” e que, curiosamente, tem relação com a criptografia, a antítese da invasão.
Como disse no início, o vírus de computador surgiu numa época em que o mercado de computadores pessoais nem existia. Só para te situar melhor, algumas empresas que seriam fundamentais nesse mercado, como Altair, Apple, Compaq e Osbourne, nem tinham sido fundadas,
Entretanto, o termo vírus de computador surgiu na década que o mercado de computadores domésticos já estava tracionado, e que o objetivo das ameaças digitais também começava a buscar outros caminhos.
O termo vírus de computador foi usado pela primeira vez em 1983. Foi neste ano que Fred Cohen, que na época era estudante da Universidade da Califórnia do Sul, conseguiu – após 8 horas a fio dedicadas ao desenvolvimento, criar um programa capaz de tomar o controle de um sistema operacional.
Assim como o Creeper, também era uma prova de conceito, demonstrada num sistema VAX11/750, que rodava Unix. O software foi capaz de se auto-replicar, semelhante ao Creeper.
O professor de Cohen, Dr. Leonard Adleman, um dos criadores do algoritmo de criptografia RSA (Rivest-Shamir-Adleman), foi quem batizou aquele programa que se replicava de um vírus de computador. A associação, nitidamente, tinha conexão com o mesmo comportamento de um vírus que infecta organismos vivos.
No ano seguinte, Cohen divulgou um artigo sobre sua pesquisa. O título: “Vírus de computador – Teorias e Experimentos”. Assim como a ameaça, o termo começou a se replicar.
O vírus de computador vira uma ameaça real!
Ainda na famigerada década de 80, os vírus passaram de provas de conceito e zoeiras nada amedrontadoras para um problema que foi escalonando de uma maneira preocupante.
Dois exemplos fundamentais sobre a transformação do vírus em uma ameaça que merecia atenção aconteceram num intervalo de dois anos. O primeiro, o cavalo de troia PC-Write, disseminado em 1986. A ameça se apresentava como algo legítimo, a versão do processador de textos PC-Write, da Quicktrike, mas ao executá-lo era revelada sua verdadeira face. Tratava-se de um programa com a capacidade de corromper os arquivos do HD.
O segundo caso é de 1988. Assim como o Wannacry, em 2017, que chamou a atenção do mundo por sua infecção numa escala impressionante, o vírus Morris, no fim dos anos 80, foi ainda mais chocante, até mesmo porque estamos falando de uma época em que o número de dispositivos em rede era muito menor do que é hoje, portanto, a escala, levando em consideração o todo, é ainda mais representativa.
Morris ficou conhecido como o primeiro vírus com uma grande capacidade de propagação. O software explorava vulnerabilidades do Unix. Estima-se que cerca de 6.000 servidores foram invadidos (época em que o número total de servidores era algo em torno de 60.000).
Desenvolvido pelo estudante da Universidade Cornell, Tappan Morris, a ameaça inutilizou muitos sistemas invadidos. Mais um fator curioso: o vírus não tinha o objetivo de ser malicioso, mas um problema em sua programação sobrecarregava muitos dos sistemas infectados.
Com o objetivo prévio do caos, ou até mesmo com a Lei de Murphy aplicada, a caixa de pandora dos vírus de computador foi aberta e nunca mais sera fechada.
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