A era iPhone/Android

 

O domínio do Symbian começou a ruir com o lançamento do iPhone em 2007, que trouxe a combinação de um sistema operacional mais moderno com o uso de uma interface touch baseada no uso de gestos, em um aparelho com mais recursos de hardware e uma tela capacitiva que tornava o uso muito confortável. Embora a plataforma da Apple fosse muito limitada no início (carecendo de recursos básios como o MMS e sequer oferecendo suporte ao desenvolvimento nativo de aplicativos, limitando os desenvolvedores ao uso de applets web) o iPhone fez um grande sucesso, mudando os rumos da indústria em direção às interfaces touch e telas maiores.

O iPhone original oferecia uma configuração de hardware relativamente modesta, com um processador ARM11 de 412 MHz, 128 MB de RAM, câmera de 2 MP e uma tela HVGA, de 480×320. Muitas das limitações das primeiras versões do iOS surgiram exatamente da necessidade de limitar o uso dos recursos de hardware. O sistema rodava um aplicativo de cada vez, carregando e descarregando os aplicativos da memória conforme eles eram abertos (o que deu origem à falta do suporte a copiar e colar) e assim por diante. Entretanto, a boa fluidez com que o sistema rodava, combinada com a boa interface, o excelente teclado virtual e a intuitividade do sistema e dos aplicativos rapidamente ganharam o público, transformando a Apple em uma das maiores fabricantes de smartphones, mesmo comercializando um único aparelho.

O lançamento do iPhone levou o Google a se interessar pelo mercado móvel, culminando com o lançamento do Android em 2008, que surgiu com a promessa de ser um sistema aberto, baseado em Linux, que poderia ser usado e personalizado por diversos fabricantes, com o potencial de criar um ecossistema como temos nos PCs, onde vários fabricantes fabricam dispositivos dentro de uma arquitetura comum, empurrando os preços para baixo e ajudando a popularizar a plataforma. O início do Android foi tímido, focado no HTC G1 e em outros modelos de pouca expressão. Eles eram ainda baseados em processadores ARM11, com pouca RAM e telas sem suporte a toques múltiplos, e os layouts antiquados, combinados com as deficiências e bugs do sistema operacional tornavam a experiência de uso bastante deficiente.

Apesar de tudo, o Android acabou emplacando, pois os fabricantes buscavam desesperadamente um sistema que pudesse fazer frente ao iOS e as outras alternativas (o Windows Mobile e o Symbian, que na época podia ser licenciado) eram muito mais limitadas. O sistema rapidamente foi ganhando o apoio dos desenvolvedores e ganhando em funções, chegando à maturidade no Froyo (2.2), que permaneceu por muito tempo como a versão mais utilizada do sistema.

É bem verdade que com o tempo o Google foi lentamente apertando as amarras sobre o Android, impondo restrições às formas como o sistema pode ser usado (em resumo, o Android em si é aberto, mas os fabricantes precisam seguir uma série de normas e pagar royalties para usar os aplicativos do Google, como o Gmail, Maps, etc. bem como para incluir acesso ao Google Play), realizando a maior parte do desenvolvimento a portas fechadas, demorando para liberar o código-fonte de novas versões, e até mesmo comprando a Motorola, obtendo assim uma influência mais direta sobre os produtos.

A Apple por outro lado tornou o iOS um pouco mais aberto com o tempo, passando a oferecer melhores facilidades os desenvolvedores e removendo muitas das limitações artificiais que existiam na plataforma. De certa forma, podemos dizer que o Android começou como um sistema aberto que com o tempo foi se tornando mais fechado, enquanto o iOS começou como um sistema completamente fechado, que com o tempo foi se tornando um pouco mais aberto.

A primeira geração de aparelhos com o Android, como o HTC G1, eram muito lentos e pouco atrativos e o sistema ainda estava longe de presentar os recursos e a variedade de aplicativos que ele apresenta hoje. O iPhone por sua vez também seguiu um lento caminho evolutivo, demorando a incorporar muitas funções. Isso deu um certo tempo para que a Nokia tentasse se adaptar às novas regras. Até um certo ponto a estratégia da empresa pareceu acertada: desenvolver uma versão touch do Symbian (o 5ed.) ao mesmo tempo em que continuava a desenvolver o Symbian clássico (o 3ed.) para uso em dispositivos business e nas linhas de baixo custo e que investia no desenvolvimento do Meego, um sistema de nova geração baseado em Linux.

Os esforços em torno do Symbian deram frutos, dando uma grande sobrevida à plataforma, que continuou sendo a mais usada até a metade de 2010 e a Nokia chegou a lançar um aparelho com o Meego, o N9, que foi bem recebido pelo mercado, além de ter criado uma loja centralizada de aplicativos, a Ovi Store (posteriormente renomeada para Nokia Store), que teve uma boa adesão por parte dos desenvolvedores da plataforma.

O N9 Foi possivelmente o melhor aparelho já fabricado pela Nokia, combinando um bom design de hardware (com um corpo bastante sólido, obtido a partir de um bloco único de policarbonato), boas especificações (um processador ARM Cortex A8 de 1.0 GHz e GPU PowerVR SGX530, tela AMOLED capacitiva de 854×480 e 3.9″, 1 GB de RAM), uma excelente câmera de 8 MP e um sistema que prometia se tornar um forte concorrente ao Android e iOS. Ele sucedeu o N900, outro bom aparelho, que se tornou o favorito entre os geeks e hackers, devido à grande flexibilidade e à facilidade em rodar distribuições Linux completas.

Entretanto, a decisão abrupta de abandonar ambas as plataformas e adotar o Windows Phone como plataforma central, um ano e meio antes de ser efetivamente capaz de colocar produtos baseados nele no mercado fizeram com que a Nokia caísse em uma espiral descendente.

Entre os fabricantes que adotaram o Android, a HTC dominou o mercado em um primeiro momento, seguida pela Motorola, que teve sua época de glória com o Milestone original e em seguida deu lugar à Samsung, que passou a dominar o mercado com os aparelhos da linha Galaxy S.

De fato, a Samsung acabou por herdar a posição da Nokia como a maior fabricante de celulares, ganhando em vendas tanto nos smartphones, com a linha Galaxy, quanto nos modelos mais básicos, graças aos modelos entry-level com o Bada. Além de manter os esforços em torno do Android e de seu próprio sistema, a Samsung também passou a lançar alguns modelos com o Windows Phone e abraçou também o Tizen, o sistema open-source herdeiro do Meego, que pode vir a se tornar uma quarta força no mercado de smartphones, ao lado do Android, iOS e Windows Phone. A Samsung anda trabalhando ativamente com os desenvolvedores, distribuindo aparelhos de referência e oferecendo incentivos aos interessados em escrever aplicativos para a plataforma. Este da foto é o modelo de referência para desenvolvedores, equipado com uma tela de 4.3″ e um SoC ARM dual-core de 1.2 GHz:

A rápida evolução dos aparelhos do ponto de vista do hardware é um capítulo à parte, em um ritmo de evolução que superou e muito a evolução dos PCs no mesmo período, diminuindo a diferença entre as duas plataformas do ponto de vista do poder computacional. Ela é o tema da segunda parte deste tutorial. 

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