Anos 90

Com o fim da reserva de mercado o Brasil teve certo avanço na questão da tecnologia, ainda não se igualando ao primeiro mundo na atualização dos equipamentos, mas pelo menos diminuindo a defasagem em relação a eles.

Durante os anos 90 começaram a se popularizar os PCs baseados no padrão IBM em relação aos computadores com outros padrões que utilizavam processadores Z-80 e similares. Com a popularização dos aplicativos para o MS-DOS disponível somente nos computadores compatíveis como o IBM-PC, os demais padrões começaram a desaparecer do mercado, fazendo com que o padrão IBM se tornasse onipresente nos lares e empresas brasileiras.

Com a abertura do mercado diversas empresas nacionais iniciaram a produção de computadores, muitas migrando de outros ramos do mercado como, por exemplo, a Metron (chegou a ser líder de vendas entre empresas brasileiras de PCs) que saiu da fabricação de taxímetros para a fabricação de PCs. A Itautec, Procomp, Prológica, STi e diversas outras começaram a ofertar seus produtos no mercado de forma mais abrangente. Além das tradicionais IBM, Compaq (líder mundial à época), HP e Acer.
Mas apesar da oferta um PC não era algo barato, para se ter uma idéia em 1996 um computador Itautec modelo Infoway com processador Pentium 166Mhz e 16 MB de memória custava cerca de 3000 reais, sendo que o salário mínimo nesta época era pouco mais de 100,00 reais era um senhor investimento adquirir um PC. Claro que existiam versões mais em conta como computadores sem o famoso “kit multimídia” e com processadores já ultrapassados como os 486 e 586 (da AMD e Cyrix), mas nada que ficasse abaixo dos 1500 reais.

Durante a primeira metade da década de 90 os computadores mais populares eram os equipados com processadores 386 e 486. Ainda sem drives de CD e placas de som. Os monitores eram CRT, já não mais padrão MDA de fósforo verde ou azul, mas padrão VGA. Existiam alguns modelos monocromáticos, mas a maior parte eram em cores ficando as cores restritas a capacidade da placa de vídeo.

As placas de vídeo na sua maioria utilizavam o barramento ISA 16 bits e possuíam 512KB de memória o suficiente para executar o DOS e Windows versão 3.1 os mais comuns nesta época. O co-processador matemático era um item a parte para os 386 e 486SX que poderia ser instalado num soquete específico na placa mãe, quase não usado, pois este custava caro demais para ser instalado em um micro comum.

Os discos rígidos já utilizam o padrão IDE, mas a sua controladora (chip I/O que controla o funcionamento do disco visto à controladora IDE ser integrada ao disco) ainda não era integrada a placa mãe, era utilizada uma placa extra onde eram conectados os discos rígidos, unidade de disquete e as portas paralelas e seriais, essa placa era conhecida como super IDE.

Nesta época ainda não existia o plug and play, todas as configurações deveriam ser feitas a mão, na BIOS e via jumpers na própria placa. Configurar uma destas placas super IDE sem o manual era complicado, pois não bastava plugar o disco na placa, era necessário configurar o DMA, IRQ e I/O manualmente do disco rígido, porta paralela e serial.

Ainda na BIOS uma das principais etapas de configuração era a quantidade de cabeças, cilindros e setores do disco rígido C/H/S, pois caso esta configuração não estivesse correta ou o disco era identificado de forma errada ou não seria reconhecido.

Dentro do sistema operacional era necessária a configuração manual de todos dispositivos de hardware diferentes do padrão, ou seja, placas de som, modems, drives de cd e qualquer outro dispositivo deveriam ser configurados manualmente seja no DOS ou no Windows, caso contrario seria ignorado pelo sistema ou pior, poderia gerar um conflito impedindo que o sistema inicializasse.

A memória já poderia ser expandida ou trocada mais facilmente através dos módulos SIMM de 30 vias que deveriam ser utilizados de 4 em 4 pois cada módulo trabalha com 8 bits sendo necessário 4 módulos para o barramento de 32 bits dos 386 e 486. Uma configuração muito comum a esta época era processador 386 @ 40MHz, 2MB de RAM, vídeo 256 KB ISA e HD de 40MB.

Da segunda metade da década de 90 em diante os computadores evoluíram bastante se tornando ainda mais integrados, as placas começaram a trazer a placa super IDE integrada e suas configurações fazendo parte da BIOS, diversas configurações passaram a ser automáticas como a identificação do disco rígido, as IRQs e DMA.  

A partir do Windows 95 o plug and play se tornou uma realidade, as placas eram plugadas e identificadas pelo sistema operacional bastando instalar os drivers, sem aquela dor de cabeça com IRQ, DMA e I/O. Os processadores Pentium eram os top de linha deixando os 486 com alternativas de baixo custo. As memórias evoluíram para os módulos SIMM de 72 vias e tecnologias FPM e EDO variando o tempo de acesso entre elas sendo mais alto nas FPM. Para a instalação em máquinas Pentium deveriam ser aos pares visto o barramento dos Pentium possuir 64 bits, nos 486 poderia ser somente um módulo.

As placas de vídeo passaram ocupar o slot PCI os modelos da Trident de 1MB (9440) eram os mais comuns, se padronizaram os “kits multimídia” vindo instalados na maioria das máquinas do final da década. Uma configuração muito comum desta época eram máquinas de médio custo com processador Pentium 16 MB de RAM placa de som Sound Blaster 16, unidade de CD de 8x e placa de vídeo 1MB. Uma máquina de baixo custo costumava vir com processador 486 DX2 66 MHz 8MB de RAM placa de vídeo 512KB. Apesar da diferença nas configurações ambas as máquinas poderiam ter a mesma utilidade para manter a compatibilidade com o DOS e Windows 3.1, ainda muito comuns, a maioria dos aplicativos rodava até mesmo em máquinas 386, no final das contas a não ser que o uso fosse para o entretenimento a maior parte dos usuários conseguia executar os programas mais comuns de forma satisfatória.

Em 1997 a Intel lança o Pentium II (baseado no Pentium Pro) e sua versão de baixo custo Celeron que fizeram a indústria acelerar ainda mais o desenvolvimento de novos componentes cada vez mais integrados. A partir daí as placas mãe começaram a integrar todos os tipos de componente, como vídeo, rede, modem e som, sendo chamadas de “placas onboard” apesar de desde os tempos dos 386 da Compaq e IBM já incorporarem componentes onboard a implementação era diferente, estas novas placas utilizavam um conceito chamado de HSP (Host Signal Processor) podendo assim criar produtos menos complexos, mais baratos em troca da perda de um pouco do desempenho do processador, que nestas alturas já tinha um desempenho bem razoável permitindo tais recursos.

 

Manutenção

A manutenção dos computadores neste período já não era algo tão complexo como nos anos 80, mas também não era algo simples, primariamente pelo fato de ainda a Internet estar engatinhando aqui no Brasil, somente alguns poucos tinham acesso a Internet e mesmo assim muitos fabricantes de componentes nem sequer possuíam uma página com os drivers de seus equipamentos, alguns tinham acesso a BBS e trocavam drivers com outros usuários mas isso era coisa de poucos a maioria dos técnicos se utilizava de um banco de drivers constituído de uma grande quantidade de disquetes com os arquivos dos componentes mais comuns e manuais de configuração.

Era comum andarem com uma maleta com as ferramentas necessárias para o reparo dos equipamentos. O conhecimento em eletrônica já poderia ser menor, mas não nulo visto que muitos problemas com placas poderiam ser solucionados com o reparo da mesma, o que ficava mais barato que a troca, saber utilizar um multímetro era importante, pois problemas com a alimentação elétrica poderiam ser descobertos com seu uso. Mas com a abertura do mercado, a oferta de componentes era grande em lojas especializadas, apesar de não ser barato, compensava mais a troca de placas e componentes defeituosos que o seu reparo na maioria das vezes, como era o caso das fontes que quando queimavam eram trocadas sem na maior parte das ocorrências verificarem internamente seu problema. Assim como placas de vídeo e as super IDE que quando apresentavam problemas eram substituídas.

A memória era um item realmente confuso para a substituição ou instalação de novos módulos. Existia uma boa variedade de modelos no mercado, entre os encapsulamentos (DIP, SIMM 30, SIMM 72 e DIMM) e tecnologias (FPM, EDO e SDRAM), variando ainda os tempos de acesso que nas máquinas 486 e Pentium deveriam ser configurados manualmente no BIOS caso contrário o sistema poderia ficar instável.

Como não existia (ou era muito restrita) a possibilidade de se aprender com a Internet, era necessário estudar a fundo o funcionamento do computador para se habilitar a realizar este tipo de trabalho. O custo dessa formação era alto já que só o custo com o equipamento para o curso já o deixava oneroso. Não era necessário ser técnico em eletrônica, os conceitos básicos aprendidos durante os cursos já era suficiente.

Bem no final da década com a popularização da internet e a redução nos preços dos computadores, a quantidade de técnicos começou a aumentar de forma notável. Neste período um técnico em manutenção de computadores cobrava hora técnica. No começo da década uma reinstalação de sistema não saía por menos de 400,00 reais já no final este valor era por volta de 100,00. Mas ainda uma profissão realmente lucrativa, para ser ter uma ideia na maioria das vezes somente à mão de obra de um reparo já representava quase o salário mínimo da época. Um técnico com uma boa quantidade de clientes poderia lucrar muito nesta época.  

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