Configurando o Linux para deficientes visuais

Uma das grandes dificuldades de quem possui necessidades especiais é a inclusão digital, e sem dúvida, os cegos são os que mais sofrem com isso. Para tanto, eles contam com milhares de programas, como o VirtualVision, no sistema operacional Windows, e quando esses têm a vontade de migrar para o software livre, têm a dificuldade em encontrar e instalar programas que leiam a tela ou textos, em português.

Veja abaixo o relato de um usuário cego, que entrou em contato comigo, ao utilizar o Linux. O texto está propositalmente na sua versão original, com erros normais cometidos por um programa de fala:

“Adoro o kurumim. Já o instalei na minha máquina e na máquina de muitas outras pessoas. Já li muita documentação, fiz download, gravei CD,recomendo e acho o máximo. Mas estou com um problema: Eu mesmo não consigo usá-lo porque sou cego! Parece piada? É por isto que eu não consegui me cadastrar no guia do hardware.

Estou procurando as ferramentas que possibilitam ao linux falar. São ferramentas que criam uma voz sintética e descrevem os controles e textos
das janelas. Até agora o que encontrei foram ferramentas para o Gnome: o Gnopernicus. Mas a última versão do kurumim que eu baixei e instalei, não consegui fazer o Gnome rodar como padrão – nem consegui fazê-lo rodar. Daí muito menos testar o Gnopernicus.

Como estou te escrevendo? Usando o Windows 98 com sintetizador Jaws. Se funciona?? Funcionar funciona porque o win98 vai completar dez anos e ainda existe. Mas eu odeio software proprietário. Uma vez instalei o Fedora Core 9 onde era possível rodar o Gnome como padrão e o Gnopernicus dentro dele. Teria sido perfeito se ele falasse em português. Isto faz mais de um ano e por isto não sei se o Gnopernicus já está falando em português. Mas eu sei que, enxertando algumas bibliotecas da mbrola ou da IBM dá para fazê-lo funcionar.

Meu sonho? Remasterizar o kurumim para que ele fale no arranque. O ideal seria falar logo no boot como o Oralux – que já baixei e testei. O problema do Oralux é que as opções de interface gráficas faladas – o yeas, é estupidamente limitada e o navegador ainda é o Links.

Para eu não ficar te incomodando sem saber se você quer mesmo me ajudar, vou esperar uma resposta para dar mais detalhes.

PS: eu queria mesmo é que o KDE e não o Gnome falass. Assim creio que eu
poderia contar com os scripts do kurumim que são um barato.”

Após minha resposta que ele instalasse o Ktts, KSayIt e o Festival, ele me enviou o seguinte:

“Estou realizando algumas tentativas e parece que estamos obtendo progressos. Infelizmente ainda não com o Kurumin. Instalamos o Kurumin no HD, seguimos as tuas instruções para instalar o KTTSD, os plug-ins, o Festival… mas tivemos dificuldades para configurar o KTTSD. O resultado é que conseguimos fazê-lo falar em inglês. O problema é que não conseguimos fazê-lo ler o conteúdo das janelas. Ele limitou-se a dizer as ações do KDE como mover janela, abrir janela, fechar janela, maximizar, etc… Tentamos configurar para dizer o conteúdo do evento, porém, não surtiu efeito.

Tentamos também o mensageiro copete. Mas as ações do Kopete também se limitam a avisar a chegada de uma nova mensagem e não ler o conteúdo da mesma.

Gostaria de enconrar melhores configurações para os controles como botões, caixas de texto, etc. Instalamos então o Ubuntu, que tem o Gnome como interface padrão. Testamos o Gnopernicus, mas os resultados também não foram muito promissores. Depois de uma rápida pesquisa na Internet, resolvemos instalar o Orca. O Orca parece ser uma concentração de ferramentas de acessibilidade mais atualizadas contendo o gnopernicus. E funcionou.

Funcionou ainda em inglês. Estou procurando agora uma forma de enxertar as bibliotecas para o português tais como o mbrola.

Mas vamos com calma. Não foi fácil levar o computador até o CEFET/SC e, agora que el está de volta, terei que me virar sozinho. Com paciência porque estou tendo meus primeiros contatos com linux e mal sei utilizar o shel.

Agora estou ainda utilizando o Windows com boot dual para poder fazer as pesquisas e trabalhar de forma mais dinâmica. Se houver algum segredo para se configurar o KTTSD, por favor, dá um toque. Se você conseguir instalar o KTTSD e faz~e-lo descrever o conteúdo das janelas, os menus, botões, páginas de internet, etc… faça um CD para mim que eu compro! Será maravilhoso contar com o KDE e com o Kurumim falando.”

É lamentável que nenhuma distro ainda não ofereça um suporte nativo à pessoas com necessidades visuais, com perda de visão total. Para quem tem cegueira parcial, há a opção do alto contraste, especialmente no Gnome.

Desta forma, fui fazer uma pesquisa mais afundo sobre este tema, e cheguei à conclusões não muito favoráveis. Após a instalação do KTTSD e seus componentes, consegui fazê-lo funcionar apenas para a leitura de janelas e textos do KSayIt e KMouth, limitando-se ao inglês. Após uma “fuçada”, achei a biblioteca do Festival usando o Espanhol, que, nos meus testes, ficou audível, não tão bom quanto o português. O ruim do espanhol é a leitura de palavras acentuadas, onde o sintetizador dá uma “engasgada”. Porém, há poucos dias o usuário Tiago Bello Torres me enviou uma nota dizendo que era possível executar o português através do MBROLA, através de uma instalação bem manual.

Após longas pesquisas, à respeito do KDE cheguei na resposta de que não há como ele ler o conteúdo da tela, e isso é uma idéia para o KDE 4, nova geração deste, que chegará em meados de 2007 para o usuário final. Por enquanto, o ambiente que possui a melhor adaptação é o Gnome, que possui, por sua vez, programas como o Gnome-Orca e Gnopernicus. O XFCE, por ser também baseado em GTK, por tabela também possui um suporte mais adequado.

Pesquisando na Internet, cheguei à conlusão de que a distro que melhor possui um ambiente para cegos (não brasileiros), porém não é especialmente feita para eles é a Xubuntu, que possui um pacote virtual específico para instalar todos os programas necessários, como veremos mais a seguir.

Outro aspecto que pesquisei foi a questão do MBROLA, que tem suporte ao português do Brasil, no Linux. Infelizmente, o nosso idioma não é compatível com o sistema Festvox, que utiliza outro formato, deixando-o de difícil adaptação aos programas do pinguim. Também tentei usá-lo pelo FreeTTS, um outro sistema de fala, mas também sem sucesso. Outro fator é que os principais leitores de tela são compatíveis apenas com o Festival, fazendo com que a maioria dos brasileiros utilizadores de Linux usem o suporte limitado do KDE em português, o Espanhol pelo Festival + Gnome, o EPOS ou sente numa cadeira esperando uma boa alma; a realidade é essa. Enquanto não chega um bom leitor de tela para o KDE, os deficientes podem optar pela fala do KDE, em português, ou uma acessibilidade mais completa no Gnome, porém no máximo em espanhol.

Para quem prefere a primeira opção, poderá somente utilizar aplicativos feitos para o KDE que contêm um plugin ou suporte ao KTTS. Há boas alternativas, como o Konqueror para navegação na Internet e gerenciamento de arquivos, Kmail como cliente de emails, Kopete como messenger, etc.

O MBROLA é um projeto que não possui o código aberto, tendo uma licença freeware para uso pessoal, não comercial e não militar. Ele foi iniciado pela TCTS Lab da Faculté Polytechnique de Mons (Bélgica), e hoje é um dos sintetizadores que possui uma leque maior de idiomas. Sua página oficial é: http://tcts.fpms.ac.be/synthesis/mbrola.html

Bom, como vamos por parte, começaremos com o suporte do KDE, instalando-o e configurando-o num passo-a-passo.

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