Usando o Samba como controlador de domínio (PDC)

Em uma pequena rede, manter as senhas dos usuários sincronizadas entre as estações Windows e o servidor Samba não chega a ser um grande problema. No entanto, em redes de maior porte, isso pode se tornar uma grande dor de cabeça e passar a consumir uma
boa parte do seu tempo.

Para solucionar o problema, existe a opção de usar o servidor Samba como um controlador primário de domínio (PDC), onde ele passa a funcionar como um servidor de autenticação para os clientes Windows e (opcionalmente) armazena os perfis de cada
usuário, permitindo que eles tenham acesso a seus arquivos e configurações a partir de qualquer máquina onde façam logon.

Nota: A Microsoft usa o termo “logon” (logar em) em toda documentação relacionada a redes Microsoft. Por isto adoto este termo dentro da configuração do PDC, substituindo o tempo “login” (logar no) que uso no restante do livro.

Ao cadastrar um novo usuário no servidor Samba, ele automaticamente pode fazer logon em qualquer uma das estações configuradas. Ao remover ou bloquear uma conta de acesso, o usuário é automaticamente bloqueado em todas as estações. Isso elimina o
problema de sincronismo entre as senhas no servidor e nas estações e centraliza a administração de usuários e permissões de acesso no servidor, simplificando bastante seu trabalho de administração.

O primeiro passo é modificar o arquivo de configuração do Samba. Existem algumas regras adicionais para transformar o Samba em um controlador de domínio. A seção “global” deve conter as linhas “domain master = yes”, “domain logons = yes” e “logon
script = netlogon.bat” e (importante) não deve conter a linha “invalid users = root”, pois precisaremos usar a conta de root no Samba ao configurar os clientes. É preciso ainda adicionar um compartilhamento chamado “netlogon”, que conterá o script
de logon que será executado pelas estações.

Este é um exemplo de arquivo de configuração do Samba para um controlador de domínio. Ele não contém as configurações para compartilhamento de impressoras, que você pode adicionar (juntamente com os compartilhamentos desejados) depois de testar a
configuração básica:

[global]workgroup = Dominio
netbios name = GDH
server string = Samba PDC

domain master = yes
preferred master = yes
local master = yes
domain logons = yes
logon script = netlogon.bat

security = user
encrypt passwords = yes
os level = 100

[netlogon]comment = Servico de Logon
path = /var/samba/netlogon
guest ok = Yes
browseable = No

[homes]comment = Diretorio Home
valid users = %S
guest ok = Yes
browseable = No

Acostume-se a sempre rodar o comando “testparm” depois de fazer alterações no arquivo, pois ele verifica a sintaxe e indica erros de configuração. Ao configurar o Samba como PDC, ele deve exibir a mensagem: “Server role: ROLE_DOMAIN_PDC”.

Depois de configurar o arquivo, verifique se a conta root do sistema foi cadastrada no Samba e se as senhas estão iguais. Caso necessário, use o comando “smbpasswd -a root” para cadastrar o root. Aproveite para criar a pasta
“/var/samba/netlogon” e configurar corretamente as permissões:

# mkdir -p /var/samba/netlogon
# chmod 775 /var/samba/netlogon

Com o “775” estamos permitindo que, além do root, outros usuários que você adicionar no grupo possam alterar o conteúdo da pasta. Isso pode ser útil caso existam outros administradores de rede além de você.

Cadastre agora os logins dos usuários, com as senhas que eles utilizarão para fazer logon a partir das máquinas Windows. Neste caso, não é preciso se preocupar em manter as senhas em sincronismo entre o servidor e as estações. Na verdade, as contas que
criamos aqui não precisam sequer existir nas estações, pois o login será feito no servidor. Para adicionar um usuário de teste “joao”, use os comandos:

# adduser joao
# smbpasswd -a joao

É importante criar também a pasta “profile.pds” dentro do diretório home do usuário, onde o cliente Windows armazena as informações da sessão cada vez que o usuário faz logon no domínio:

# mkdir /home/joao/profile.pds

Ao rodar este comando como root, não se esqueça de ajustar as permissões da pasta, de forma que o usuário seja o dono:

# chown -R joao.joao /home/joao/profile.pds

Além das contas para cada usuário, é preciso cadastrar também uma conta (bloqueada, e por isso sem senha), para cada máquina. Você deve usar aqui os mesmos nomes usados na configuração de rede em cada cliente. Se a máquina se chama “athenas” por
exemplo, é preciso criar um login de máquina com o mesmo nome:

# useradd -d /dev/null -s /bin/false athenas$
# passwd -l athenas$
# smbpasswd -a -m athenas

Note que nos dois primeiros comandos é adicionado um “$” depois do nome, que indica que estamos criando uma conta de máquina, que não tem diretório home (-d /dev/null), não possui um shell válido (-s /bin/false) e está travada (passwd -l). Esta conta é
válida apenas no Samba, onde é cadastrada com a opção “-m” (machine). Estas contas de máquina são chamadas de “trusted accounts” ou “trustee”.

Lembre-se que para usar este comando o arquivo “/etc/shells” deve conter a linha “/bin/false”. Se preferir, você pode adicionar as contas de máquina dentro de um grupo do sistema (“maquinas” ou “machines” por exemplo). Neste caso, crie o grupo usando o
comando “groupadd” e use o comando abaixo para criar as contas de máquina já incluindo-as no grupo:

# useradd -g maquinas -d /dev/null -s /bin/false athenas$

Por último, é necessário criar o arquivo “/var/samba/netlogon/netlogon.bat“, um script que é lido e executado pelos clientes ao fazer logon. Você pode fazer muitas coisas através dele, mas um exemplo de arquivo funcional é:

net use h: /HOME
net use x: \\gdh\arquivos /yes

Este script faz com que a pasta home de cada usuário (compartilhada pelo Samba através da seção “homes”) seja automaticamente mapeada como a unidade “H:” no cliente, o que pode ser bastante útil para backups, por exemplo. Naturalmente, cada usuário tem
acesso apenas a seu próprio home.

A segunda linha é um exemplo de como fazer com que determinados compartilhamentos do servidor sejam mapeados no cliente. O “net use x: \\gdh\arquivos /yes” faz com que o compartilhamento “arquivos” (que precisaria ser configurado no smb.conf)
seja mapeado como o drive “X:” nos clientes. Lembre-se que o “gdh” dentro do netlogon.bat deve ser substituído pelo nome do seu servidor Samba, configurado na opção “netbios name =” do smb.conf.

Mais um detalhe importante é que o arquivo do script de logon deve usar quebras de linhas no padrão MS-DOS e não no padrão Unix (que é o padrão da maioria dos editores de texto do Linux). Você pode criá-lo usando um editor de texto do Windows ou usar
algum editor do Linux que ofereça esta opção. No Kwrite por exemplo, a opção está em: “Configurar > Configurar Editor > Abrir/Salvar > Fim de linha > DOS/Windows”.

Mais uma configuração útil (porém opcional) é fazer com que o servidor armazene os arquivos e configurações do usuário (recurso chamado Roaming Profiles, ou perfis móveis), fornecendo-os à estação no momento em que o usuário faz logon. Isso permite
que o usuário possa trabalhar em outras máquinas da rede e faz com que seus arquivos de trabalho sejam armazenados no servidor, diminuindo a possibilidade de perda de dados.

Por outro lado, ativar os perfis móveis faz com que seja consumido mais espaço de armazenamento do servidor e aumenta o tráfego da rede, já que os arquivos precisam ser transferidos para a estação a cada logon. Isso pode tornar-se um problema caso os
usuários da rede tenham o hábito de salvar muitos arquivos grandes na área de trabalho.

Note que o servidor não armazena todos os arquivos do usuário, apenas as configurações dos aplicativos, entradas do menu iniciar, cookies, bookmarks e arquivos temporários do IE e o conteúdo das pastas Desktop, Modelos e Meus Documentos.

Para ativar o suporte no Samba, adicione as duas linhas abaixo no final da seção “global” do smb.conf (abaixo da linha “logon script = netlogon.bat”):

logon home = \\%L\%U\.profiles
logon path = \\%L\profiles\%U

A variável “%L” neste caso indica o nome do servidor e o “%U” o nome do usuário que está fazendo logon. Quando, por exemplo, o “joao” faz logon é montado o compartilhamento “\\gdh\profiles\joao”. Adicione também um novo compartilhamento, adicionando as
linhas abaixo no final do arquivo:

[profiles]path = /var/profiles
writeable = Yes
browseable = No
create mask = 0600
directory mask = 0700

Crie a pasta “/var/profiles”, com permissão de escrita para todos os usuários:

# mkdir /var/profiles
# chmod 1777 /var/profiles

Cada usuário passa a ter uma pasta pessoal dentro da pasta (“/var/profiles/joao”, por exemplo) onde as configurações são salvas. Apesar das permissões locais da pasta permitirem que qualquer usuário a acesse, o Samba se encarrega de permitir que cada
usuário remoto tenha acesso apenas ao seu próprio profile.

As estações Windows 2000 e Windows XP utilizam os perfis móveis automaticamente, quando o recurso está disponível no servidor Samba. Você pode verificar a configuração e, caso desejado, desativar o uso do perfil móvel no cliente no “Meu Computador >
Propriedades > Perfis de Usuário > Alterar tipo”.

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