Configurando manualmente no Linux

Como vimos, existem diversas ferramentas gráficas de configuração da rede, que você pode usar de acordo com a distribuição. Mesmo assim, nenhuma ferramenta é completamente à prova de falhas. Quanto mais automática é a ferramenta de detecção, maior é a
possibilidade de erros.

Outro dia, por exemplo, tive um problema com uma instalação do Slackware. Apesar da placa de rede PCMCIA ter sido automaticamente detectada pelo hotplug, o netconfig (o script de configuração de rede incluído no
Slackware) não estava conseguindo configurar a rede corretamente. Em casos como este, você pode apelar para a configuração manual da rede, um método que funciona em qualquer distribuição.

A configuração da rede envolve, basicamente, três passos:

1- Carregar o módulo correto para a placa de rede e certificar-se de que o sistema o utilizou para habilitar a interface de rede.

2- Configurar o IP, máscara e as demais configurações da rede, usando o ifconfig.

3- Configurar a rota padrão e colocar o DNS do provedor no arquivo “/etc/resolv.conf”.

Tudo isso pode ser feito diretamente através de comandos de terminal. Depois de testar a configuração você pode torná-la definitiva, adicionando os mesmos comandos a um dos arquivos de inicialização do sistema. Esta dica pode
ser usada em qualquer distribuição, sempre que as ferramentas de configuração falharem ou você estiver em busca de aventura.

Em primeiro lugar, verifique se o módulo que habilita o suporte à placa de rede está carregado. Use o comando lsmod:

Module Size Used by Tainted: PF
snd 27716 0 (unused)
i830 69248 1
agpgart 38296 11
i810_audio 25064 0
ac97_codec 11884 0 [i810_audio] soundcore 3428 2 [snd i810_audio]8139too 27500 1
serial 51972 0
mousedev 3832 1
ds 6536 1
yenta_socket 9408 1
pcmcia_core 39712 0 [ds yenta_socket]rtc 6908 0

No meu caso a placa é uma Encore, com o chipset Realtek 8139, o módulo que habilita suporte a ela (o 8139too) está carregado, mas ainda assim a rede não está funcionando. Outros módulos usados por placas comuns
são o “via-rhine”, “e100” e o “sis900”.

O próximo passo é configurar o arquivo “/etc/modules.conf“, para ter certeza de que o módulo está sendo usado para habilitar a interface de rede. Se você tem apenas uma placa de rede (cabeada), ela será sempre a
“eth0”. Placas wireless podem receber outros nomes, de acordo com o driver usado.

Abra o arquivo “/etc/modules.conf” e adicione a linha:

alias eth0 8139too

… trocando o “8139too” pelo módulo usado pela sua placa. Caso você tenha duas placas de rede que utilizem módulos diferentes, você pode usar o mesmo arquivo para indicar manualmente como cada uma será vista pelo sistema,
como em:

alias eth0 8139too
alias eth1 sis900

Isso pode ser usado em casos em que o sistema troca a posição das placas de rede (a eth0 passa a ser a eth1 e vice-versa) a cada boot. Caso o módulo da placa não estivesse carregado, você poderia ativá-lo manualmente usando o
comando “modprobe”, como em:

# modprobe 8139too

Em seguida, falta fazer a configuração da rede. A melhor opção para fazer a configuração manualmente é usar o ifconfig, como em:

# ifconfig eth0 192.168.0.10 netmask 255.255.255.0 up

Este comando configura o endereço IP e a máscara de sub-rede. O “up” serve para ativar a interface de rede especificada, a “eth0”, no exemplo. O passo seguinte é definir a rota padrão, ou seja, o gateway da rede e a interface
que será usada para contatá-lo. Por segurança, rodamos primeiro o comando “route del default”, que desativa qualquer configuração anterior:

# route del default
# route add default gw 192.168.0.1 dev eth0

… onde o “192.168.0.1” é o gateway da rede e a “eth0” é a placa conectada a ele. Estes mesmos dois comandos resolvem casos em que o micro tem duas placas de rede, ou uma placa de rede e um modem e o sistema tenta acessar a
internet usando a placa errada.

Verifique também se o arquivo “/etc/resolv.conf” contém os endereços DNS do provedor, como em:

nameserver 200.204.0.10
nameserver 200.219.150.5

A falta dos endereços no “/etc/resolv.conf” é, provavelmente, a causa mais comum de problemas com a navegação.

Para que estes comandos sejam executados durante o boot, restaurando a configuração automaticamente, coloque-os no final do arquivo “/etc/init.d/bootmisc.sh“, no caso do Kurumin ou outros derivados do Debian; ou no
arquivo “/etc/rc.d/rc.local“, no caso das distribuições derivadas do Red Hat, como em:

modprobe 8139too
ifconfig eth0 192.168.0.10 netmask 255.255.255.0 up
route del default
route add default gw 192.168.0.1 dev eth0

Caso você esteja configurando um servidor com várias placas de rede (cada uma ligada a um hub diferente, com a rede dividida em várias sub-redes com faixas de endereços IP diferentes) e esteja tendo problemas para explicar
para o sistema qual placa usar para cada faixa, você pode novamente usar o comando route, especificando as faixas de endereço usadas e a placa responsável por cada uma, como em:

# route add -net 192.168.1.0 netmask 255.255.255.0 eth1
# route add -net 192.168.2.0 netmask 255.255.255.0 eth2
# route add -net 192.168.3.0 netmask 255.255.255.0 eth3
# route add default eth0

Neste caso estamos dizendo que o sistema tem 4 placas de rede instaladas: eth0, eth1, eth2 e eth3, sendo que a conexão com a web está ligada na eth0 e as outras 3 são placas ligadas a três redes diferentes (um hub ou switch
separado para cada placa, formando três redes locais separadas) que usam as faixas de IP’s 192.168.1.x, 192.168.2.x e 192.168.3.x, as três com a máscara de sub-rede: 255.255.255.0. Estas linhas também podem ser incluídas no script de configuração da
rede.

Basicamente, estamos dizendo:

Quando mandar alguma coisa para um micro na rede 192.168.1.x use a interface eth1.
Quando mandar alguma coisa para um micro na rede 192.168.2.x use a interface eth2.
Quando mandar alguma coisa para um micro na rede 192.168.3.x use a interface eth3.
Quando mandar alguma coisa para qualquer outra faixa de endereços, ou para a internet, use a interface eth0.

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