Por que o Windows 8 está levando a Valve em direção do Linux

Por que o Windows 8 está levando a Valve em direção do Linux

A maior parte do enorme sucesso do Steam se deve ao fato da plataforma PC ser aberta, permitindo que jogadores com PCs de diferentes configurações, de diferentes parte do globo, usando diferentes versões do Windows ou mesmo o OS X possam instalar o cliente, comprar e baixar os jogos e rodá-los em suas próprias máquinas na maioria dos casos sem dificuldades. Apesar dos jogos da própria Valve serem alguns dos títulos mais populares dentro da plataforma, eles respondem por apenas uma pequena parte da renda global da empresa. A maior parte vem da renda gerada pelas comissões referentes às vendas de jogos de outras produtoras. 

Antes do Steam, o ramo de jogos para PCs estava ainda estagnado no ultrapassado modelo de venda de caixinhas, o que era problemático especialmente no Brasil, onde os impostos faziam com que os jogos custassem o dobro do preço que lá fora, ou simplesmente demorassem muito para serem lançados, evoluindo para um sistema de downloads digitais, que facilita a aquisição dos títulos e permite que eles sejam instalados e jogados em várias máquinas (apenas não simultaneamente) de forma prática, com possibilidade de fazer backup dos jogos já baixados, realizar instalações offline e assim por diante. Existem muitas queixas em relação à falta de possibilidades de revender jogos usados (como é possível no caso das caixinhas), uso excessivo de DRM nos jogos de algumas produtoras e assim por diante, mas no geral a plataforma funciona bem e por isso caiu no gosto do público.

O Windows 8 entretanto representa a maior ameaça que o Steam e a Valve já enfrentaram, que é a entrada da Microsoft no ramo de distribuição de softwares, combinada com uma plataforma consideravelmente mais fechada que as outras versões do Windows.

No Windows 8 a Microsoft não apenas incorpora a Windows Store diretamente no sistema, mas também a integra com outros recursos do sistema, como o Xbox LIVE, o que cria um cenário similar ao que a Netscape enfrentou quando a Microsoft passou a integrar o Internet Explorer no sistema, ou o que o ICQ enfrentou quando o MSN passou a vir pré-instalado como o mensageiro padrão. A Microsoft já começará o jogo com o acesso a uma fatia muito maior dos usuários, o que fará com que a empresa tenha muito mais facilidade em fechar contratos com as produtoras, estrangulando a Valve não apenas em termos de volume de usuários, mas também de variedade de jogos. Uma vez que este ciclo for iniciado, a Valve terá muitas dificuldades em se manter relevante no mercado.

Prevendo uma guerra difícil, a Valve se voltou para o Linux como uma tábua de salvação, anunciando portes do Left 4 Dead 2 e outros títulos da empresa, bem como o iminente lançamento de uma versão Linux do Steam, recheada de jogos para a plataforma.

 

Esse é um cenário que pode lembrar os esforços da falida Loki, que no final do milênio passado investiu suas fichas no porte de jogos para Linux mas acabou falindo, mas o cenário hoje em dia é bem diferente do que tínhamos naquela época, o que torna os resultados bem mais imprevisíveis.


Kohan: Um dos jogos portados pela falida LLoki

Em primeiro lugar, a base de usuários Linux é hoje em dia bem maior, variando de 20 a mais de 100 milhões de usuários, dependendo de para quem você perguntar. Embora a maioria das distribuições estejam mais ou menos estacionadas em relação ao número de usuários, o Ubuntu vem crescendo rapidamente, especialmente m relação às vendas de PCs com o sistema pré-instalado devido ao contato com OEMs, o que tem levado a empresa a prometer colocar o sistema em 5% dos novos PCs em breve.

As boas vendas de muitos jogos lançados para a plataforma também mostram que existe uma grande procura por bons jogos por parte dos usuários da plataforma. A quinta edição do Huble Bundle, por exemplo, foi comprada por 300.000 usuários, que pagaram em média US$ 8 pelo pacote, resultando em uma renda de cerca de 2.4 milhões de dólares. É importante lembrar que embora popular entre os gamers, o Steam é usado por apenas uma pequena parcela dos usuários de PCs, por isso não soa tão improvável que uma boa popularidade entre um público menor, porém ávido por jogos possa ser suficiente para manter a Valve navegado.

Outro fator é que o próprio mercado de sistemas operacionais e a forma como os PCs são usados mudaram muito da época da Loki para cá. Hoje em dia os PCs são usados na mair parte do tempo para navegação web e aplicativos centrados no navegador (que são neutros em relação à plataforma), com o uso do Office e de aplicativos especializados como o AutoCAD e o Corel decaindo a cada ano. Com isso, o uso do Linux passou a crescer bastante entre o público leigo (especialmente no caso do Ubuntu), contrastando com o uso predominantemente por parte do uso do público técnico como tínhamos antigamente. A única área em que o sistema realmente é ainda pouco utilizável é na parte dos jogos, o que abre as portas para que um trabalho bem feito por parte da Valve possa não apenas manter a empresa relevante, mas também ajudar no próprio crescimento do sistema. É mais uma briga a se observar.

 

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