Um número absurdo de pistas PCI-Express é realmente importante para todos os usuários?

A partir do momento em que um usuário resolve fazer a passagem de um PC “convencional” e investir em uma configuração milimetricamente montada, voltada para tarefas mais específicas como games ou produtividade (edições, uso de softwares CAD, etc), a atenção deve ser redobrada. Há cada vez mais detalhes em que é preciso observar para que o desempenho extraído compense o investimento feito.

Além do bolso, um usuário que busca montar uma máquina de alta performance tem que realmente ser mais criterioso e estar por dentro da sopa de letrinhas e definições do assunto. 

Essa tarefa não é das mais fáceis e convenientes, é preciso realmente gostar do assunto, e por isso muitos acabam pagando um pouco mais e adquirindo uma máquina de uma empresa integradora, que já vende o computador montado, que vem junto com uma espécie de “consultoria” que avaliou e escolheu os melhores componentes baseados no orçamento.

Um dos atributos que devem ser avaliados pelo público entusiasta é o tal número de pistas PCI-Express. Quem tem um PC convencional ou um configuração intermediária/gama alta, com apenas uma placa de vídeo instalada e um processador razoável, provavelmente nem se importa muito com isso, e pra falar a verdade nem precisa.

Mas quando passamos para um nível acima, os que estão sempre em busca da tal “maquina dos sonhos” e que vão utilizar unidades de armazenamento super rápidas e mais de uma placa de vídeo, essa questão pode ser sim interessante.

O barramento PCI-Express, introduzido em 2003, como substituto do AGP, atualmente é onipresente, além das placas de vídeo, as tais pistas, essas vias de transferência de informações do barramento, são utilizadas pelas unidades de armazenamento, portas USB e até pela interface de rede. Como em outros casos, a transição do AGP para o PCI-Express foi uma necessidade de continuar avançando e melhorando o desempenho.

O PCI, o original, criado pela Intel e lançado em 1992, era capaz de gerenciar dados em até 533 MB/s, a transição foi para o PCI eXtended em 1998, que subiu para 1.064 MB/s, o AGP, dobrou, alcançando 2,133 MB /s. O PCI-Express, que é o principal barramento para periféricos integrados, substituiu o AGP completamente por volta de 2010. Atualmente com as especificações do PCIe 3.0 a velocidade é de 985 MB/s por pista, isso equivale a 15.75 GB em um único link x16.

“O dilema das Pistas”

As pistas do barramento PCIe podem vir através de dois pontos: CPU e do chipset da placa-mãe. Desde a primeira geração Intel Core, lançada em 2009, a Intel moveu as pistas mais rápidas para a CPU, e essas linhas comandas pelo processador são as mais importantes quando o foco é utilizar mais de uma placa de vídeo ou unidades de armazenamento de altíssima velocidade.

Teoricamente cada placa de vídeo precisa de 16 pistas para funcionar em sua plena forma, por isso que a VGA é instalada no slot PCI-Express x16, o mais rápido. Mas quando você pensa em utilizar mais de uma placa, passando para um SLI ou CrossFire, pode ser que o processador não consiga prover a quantidade exata de pistas, e automaticamente a configuração que deveria ser x16/x16, caia para x16/x8/ ou x8/x8, por exemplo. Mas sendo bem sincero, na prática a performance em games permanece praticamente a mesma, os ganhos não são tão expressivos.

Em produtividade, o ganho é mais perceptível, usuários que trabalham com edição de vídeo em alta resolução, como 4K e que utilizão mais de um monitor, podem sim usufruir de uma configuração robusta de ponta a ponta.

No caso do público gamer, além do ganho de performance não ser tão interessante, em relação ao que será investido, a própria indústria está caminhando para sepultar o uso de múltiplas placas de vídeo. Esse ano a AMD já deixou claro que dará menos atenção para a sua tecnologia multi-GPU, o CrossFire.

Vamos a um exemplo de dois processadores Intel: Core i7-6850K e Core i7-6800K, ambos contam com 6 núcleos e 12 threads e o clock é bem parecido, mas o 6850K é bem mais caro, e uma das formas de justificar isso é através das linhas PCI-Express, esse modelo conta com 12 pistas PCIe adicionais em relação ao 6800K. Essas 12 pistas adicionais garantem ao processador uma folga extra nessa disputa dos componentes que exigem velocidade.

As maiores quantidades de pistas PCIe você encontrará nos processadores mais caros. No caso da Intel, atualmente, é através dos Core i9 (44 pistas) e com a AMD, é com os Threadripper (64 pistas), que é uma versão “capada” do Eypc, que é destinado ao público corporativo, e entrega incriveis 128 pistas PCIe.

O esquema acima da plataforma Ryzen exemplifica bem essa questão do remanejamento de pistas, dependendo da forma como o computador está sendo utilizado. A família Ryzen 3,5 e 7 oferece 24 pistas PCIe 3.0, sendo que 16 pistas são reservadas para as placas de vídeo, 4 pistas para a comunicação com o chipset e outras 4 para o armazeanento e dispositivos NMVe. Como são destinadas 16 pistas para as placas de vídeo, é possível rodar apenas uma placa em x16, ou optar por um CrossFireX ou SLI, em x8/x8.

Vamos agora para a Intel, usando como exemplo a placa-mãe ASUS Prime X299-Deluxe. Essa mobo suporta 3-way SLI ou 3-way CrossFireX, mas dependendo do processador utilizado a forma da divisão das pistas será bem distinta:

Processador com 16 pistas PCIe: a placa irá executar o SLI ou CrossFireX em x8/x8

Processador com 28 pistas PCIe: a placa irá executar o SLI ou CrossFireX em x16/x8

Processador com 44 pistas: a placa irá lidar com um 2-way SLI ou CrossFireX em x16/x16, ou um 3-way SLI ou 3-way CrossFireX em x16/x16/x8.

Esse “dilema das pistas PCIe” deve preocupar apenas quem irá montar uma configuração com hardware de sobra, com múltiplas placas de vídeo (que está cada vez mais raro) e unidades de armazenamento extremamente rápidas e em RAID 0, por exemplo, fora isso, não é necessário ficar quebrando muito a cabeça com essa questão.