Querem “enterrar vivo” o conector P2

Querem “enterrar vivo” o conector P2

Você com certeza já ouviu aquela piadinha antiga que relata que um cara chegou ao serviço todo arranhado, com o terno todo rasgado e cheio de hematomas, ao ver a situação um colega de trabalho se aproxima e pergunta se ele havia sofrido um acidente, o rapaz com seus trajes maltrapidos explica que não tinha sofrido nenhum acidente, e que na verdade tinha acabado de enterrar sua sogra, o colega então fica curioso e o questiona em relação aos ferimentos, e a resposta foi a seguinte: “é que aquela velha não queria entrar no caixão de jeito nenhum”.

O tão difundido conector TRS 3,5 mm que no Brasil é mais conhecido como P2 e que você utiliza a muito tempo em fones de ouvido, caixas de som, smartphones, e mais uma lista imensa de dispositivos é a tal sogra, e o rapaz na piada nesse caso é um verdadeiro grupo de empresas que estão tentando enterrar o conector.

Assim como na piada o rapaz se refere a sogra como “aquela velha”, o P2 está sendo tratado do mesmo jeito, também pudera, o conector em sua versão mini, de 3,5mm, que é justamente a que utilizamos nos mais variados equipamentos ficou conhecida em 1964 com o rádio Sony EFM-117J. E como esse conector é uma versão mini, houve a sua forma convencional, que é o TRS 6,35 mm (que conhecemos no Brasil como P10) e foi criado em 1878.

Então o que não falta para esses conectores é rodagem de mercado, e assim como em muitos outros casos essa rodagem é essencial para criar um padrão no mercado, o que facilita o lançamento de dispositivos e acessórios compatíveis, e claro que quando algumas empresas tentam mexer no time que está ganhando a tanto tempo a rejeição é grande.

Caso você não esteja por dentro do que está acontecendo em relação a esse processo de abandono do P2, fique calmo pois irei explicar!

Por enquanto os smartphones são os líderes desse motim, além do iPhone 7, que foi o caso mais recente desse alvoroço em relação ao assunto, já que o aparelho não conta mais com o lendário conector, e sim com o seu conector proprietário, lightning.

O Moto Z, que é um aparelho ainda mais audacioso que o iPhone por apostar na questão da modularidade, também não conta com o conector (assim como a versão Moto Z Force), para usufruir dos seus fones tradicionais é preciso comprar um adaptador ou então adquirir um novo que utilize a conexão USB do Tipo-C, que é a mesma utilizada para recarregar a bateria do aparelho.

 

Até um fabricante Chinês está nessa toada, a LeeCo anunciou em abril três modelos (Le 2, Le 2 Pro e Le Max 2) de smartphones que não contam com a entrada P2.

Porém esses casos podem ser tratados como pontos fora da curva na indústria dos smartphones. A Apple definiu um estilo todo próprio de vender e lançar seus aparelhos, então as mudanças afetam basicamente o ecossistema da companhia.

O Moto Z faz parte do padrão que “abraça o mundo”, que é o Android, e nesse padrão, forçar mudanças drásticas como essa é difícil, já que o usuário tem um leque de opções bem maior. Mas o Moto Z em si é um smartphone com uma cara toda experimental, até porque além de eliminar o conector P2 investe nos tais módulos que ainda não estão nem perto de se tornar uma moda, o Google por exemplo resolveu engavetar o Project Ara, que dentre todos os modelos que  apostam nessa jogada era o mais badalado. E no caso da LeeCo, o seu público-alvo é extremamente local e o impacto de suas mudanças não são tão grandes.

Então o plano mirabolante para forçar a morte do P2 nos smartphones ainda está sendo engrenado, mas já está causando um grande alvoroço, porque muitos usuários estão prevendo que a adoção de uma nova forma, e que a maioria dos fabricantes comece a adotar E no meio desse grande alvoroço surgem ideias mirabolantes e sem noção, como por exemplo no iPhone 7 onde algumas pessoas simplesmente estão furando o aparelho para no estilo “faça você mesmo” trazer o conector P2.

Do lado dos fabricantes essa troca pode ser bem interessante, em primeiro lugar em termos de construção com a eliminação dessa entrada é possível investir na fabricação de modelos mais finos e até com recursos extras, no caso do iPhone 7 por exemplo, o site IFIXIT que desmontou o aparelho mostra que no lugar do P2 a Apple adicionou o Taptic Engine que controla o modo como o novo botão home, que aliás não é mais um botão físico funciona. Na verdade, o controlador Taptic Engine simular internamente por meio de vibrações o que seria o click feito como se houvesse um botão físico.

Outro ponto em a favor da retirada do conector no iPhone e que também pode valer para os demais aparelhos que cheguem ao mercado, é ea quantidade de entradas que devem ser protegidas quando o smartphone é resistente à água, com a eliminação do P2 esse processo de isolamento se torna mais fácil. Claro que essa resposta além dos meios práticos também tem uma bela carga de desejo das companhias de empurrar mais coisas para você comprar, que é o que discutirei a seguir.

Além de lançar o iPhone 7 a Apple também revelou o par de fones sem fio Airpods, que bebe da fonte de uma das tecnologias responsáveis por esse desapego do P2, o Bluetooth. A outra tecnologia que forma essa linha de ação contra o P2 é o também tradicional, USB.

No caso do Bluetooth com a intensificação da internet das coisas ao decorrer dos próximos anos é claro que os fabricantes irão investir de forma mais forte na venda de todos os tipos de produtos com essa tecnologia. Isso sem falar nas vendas. De acordo com dados na NPD, em junho desse ano a receita em relação a venda de fones sem fio superou pela primeira vez a de modelos com fio, nos EUA fones Bluetooth foram responsáveis por 54% do faturamento dos fabricantes

Como disse antes, por enquanto a retirada do P2 ainda está acontecendo em casos isolados, como no Moto Z, no iPhone 7, e em três modelos de smartphones da LeeCo, porém os rumores são que essa caminhada continuará crescendo, alguns indícios apontam que o próximo smartphone da HTC, intitulado Bolt, também não terá o conector P2.

É claro que toda essa preocupação não inviabiliza os fones P2 que você já possui, é obvio que terão adaptadores, mas é aquela questão, na tecnologia mudanças bruscas como essas são realmente complicadas de serem aceitas, e quando envolve a necessidade de carregar mais um item e criar uma gambiarra para a utilização torna as coisas ainda mais chatas.

Para contornar essa questão da gambiarra o USB-IF, que é o grupo responsável pela padronização das tecnologias USB deu mais um incentivo para o desapego do P2, pelo menos no mercado de smartphones, e até de outros portáteis

Foi anunciado hoje uma nova especificação (USB Audio Device Class 3.0), para o USB 3.0 que permite a transmissão de áudio via USB do Tipo-C, e a ideia é realmente converter o USB como padrão de áudio nos smartphones, e como a especificação já está finalizada a implementação não irá demorar, e acredito que será facilmente aceita pelos fabricantes.

A impressão que fica disso tudo é que o P2 pelo menos nos smartphones está sendo convidado a se retirar sem direito de respostta, numa mais nova tentativa desesperada principalmente da indústria de smartphones em encontrar algum tipo de novidade para os aparelhos, seja em relação ao design, com construções mais finas e leves, ou também na inclusão de recursos. 

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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