Como seria a Informática se a Microsoft não existisse?

Como seria a Informática se a Microsoft não existisse?

Embora atualmente a participação da Microsoft no mercado mundial de PCs tenha caído para pouco menos de 90%, o Windows ainda é, felix ou infelizmente, o sistema operacional mais usado no planeta. Como sabemos, tudo começou com a aliança entre a empresa de Bill Gates e a gigante IBM para o lançamento do PC, computador pessoal projetado pela “Big Blue” para enfrentar o Apple Macintosh. Nossa informática atual é o fruto de várias décadas de ideias e de projetos audaciosos, mas sempre haverá aquela dúvida: como seriam os computadores de hoje se a Microsoft não existisse?


Equipe da Microsoft em 1978

Essa viagem por um universo paralelo nos convida a usar a imaginação. Nela, eu consegui visualizar cinco possíveis cenários para o desenvolvimento da Informática:

1) A IBM desiste de criar o PC

Embora o PC seja o tipo de computador mais usado do mundo atualmente, é necessário lembrar que seu reinado não começou da noite para o dia. Na época em que foi lançado e em que ainda estava engatinhando rumo à hegemonia, existiam vários tipos de computadores pessoais de vários fabricantes diferentes, como Apple, Commodore, ZX Spectrum ou os “portáteis” da Osbourne Computers e qualquer um deles poderia ter tomado o lugar que hoje pertence ao PC.

De fato, a história da criação do PC não foi um mar de rosas. Lendas dizem que a IBM chegou ao ponto de mandar um executivo com uma mala cheia de dinheiro sair para a rua para contratar quem tivesse uma boa ideia. O projeto PC tinha tudo para ser abandonado, mas a IBM insistiu nele.

Caso não tivesse insistido, provavelmente a Apple teria se tornado a líder no mercado de computadores pessoais nas décadas de 80 a 90, mas como nós sabemos, Steve Jobs insistiria em vender micros a um preço inacessível para a maior parte dos usuários. Logo, surgiriam os clones do Macintosh, que seriam rapidamente perseguidos e, em pouco tempo, a Apple teria um outro concorrente à altura. Acredito que o mais provável candidato fossem os computadores da Commodore com o Amiga, que na época de seu lançamento estavam muito à frente de seu tempo.

Um dos motivos do sucesso da plataforma PC foi o fato de o mesmo ter sua arquitetura aberta e, logo, quem quisesse ocupar seu lugar também deveria seguir essa iniciativa. É provável que a Commodore abrisse as especificações de seus micros ou licenciasse seu sistema para outros fabricantes.

Outra possibilidade seria que a Xerox retomasse seu projeto Alto após ver o sucesso da Apple. De qualquer forma, neste cenário é provável que nossa informática atual fosse mais avançada do que é atualmente.

2) A IBM cria o PC, mas com CP/M

É sabido que a intenção original da IBM era criar um computador que rodasse o sistema CP/M de Gary Kildall, mas as negociações não evoluíram (dizem que ele ficou andando em seu jatinho quando os executivos da IBM vieram visitá-lo, esquecendo-se completamente do compromisso). Por isso, quando Bill Gates apresentou o DOS aos executivos, uma das exigências da empresa foi que o sistema fosse compatível com o CP/M. De fato, o DOS podia emular muitas funções da API do CP/M, isso sem falar que, para o usuário final, os dois eram visualmente muito parecidos.

Se a IBM tivesse conseguido fechar o negócio com Kildall, eu acredito que a informática atual não seria muito diferente do que é hoje. De fato, muito dos primeiros programas da era da computação pessoal, como WordPerfect ou dBase, foram originalmente escritos para CP/M e, só depois, portados para o MS-DOS.

É razoável supor que, após um determinado tempo, o CP/M atingiria um nível de funcionalidade e de recursos similar às últimas versões do DOS e que a IBM poderia desenvolver sua própria versão do sistema. Eventualmente, seria preciso criar uma interface gráfica para ele. Nisso, poderíamos estar usando, hoje, um OS/2 baseado em CP/M ou alguma interface criada pela Digital Research que, com o desenrolar da história, tomaria o lugar da Microsoft e seria a inimiga número 1 de Stallman e de sua turma. Não é possível dizer, porém, se essa interface criada pela DR seria similar ao Windows, mas eu acredito que a informática não seria muito diferente do que é hoje caso essa tenha sido a opção escolhida, a qual também parece ser a mais provável (se quiser fundir seus neurônios, basta pensar que, caso Bill Gates existisse nesse realidade e tivesse sido contratado pela Digital Research, ele poderia ter assumido a companhia após a morte de Kildall, que ocorreu em 94…).

3) A IBM cria o PC e desenvolve seu próprio sistema

Sem a Microsoft para desenvolver o DOS e com a negociação com Kildall infrutífera, a IBM desenvolveria seu próprio clone do CP/M, que viria a ser o PC-DOS. É meio improvável, visto que ela tinha pressa em lançar o PC no mercado, mas se ela tivesse ido por esse caminho – talvez até comprando o QDOS – certamente o OS/2 – ou qualquer equivalente a ele – seria o principal sistema do mundo moderno. A IBM até poderia vender sua divisão de PCs para a Lenovo, mas continuaria com o desenvolvimento de seu sistema operacional por mais tempo.

4) IBM compra a Apple

Essa possibilidade é a mais improvável de todas porque Steve Jobs, talvez por ser hippie, definitivamente não queria vender sua recém-criada empresa para os ultrapassados executivos da IBM, mas se em uma remota possibilidade ele concordasse com a operação, hoje todos os PCs seriam clones do Mac e executariam o OS X. A própria arquitetura do System não permitiria que ele fosse muito longe e a mudança para a base UNIX seria inevitável. O OS/2 seria baseado no sistema da Apple ou talvez não existiria.

5) A IBM cria o PC, mas aposta no UNIX

Embora a IBM quisesse criar um computador com um sistema similar ao CP/M, é sabido que o sistema dominante na época do lançamento do PC, tido como padrão nas grandes universidades, empresas e órgãos militares, era o UNIX e suas variantes (até a Microsoft estava envolvida com o UNIX quando a IBM veio contata-la). Talvez a IBM não o tenha adotado porque as configurações do primeiro XT não dariam conta de rodá-lo com toda a potência necessária. Mas isso poderia ser facilmente resolvido: a IBM poderia ter abandonado a aliança com a Intel e criado seu próprio processador com potência suficiente para rodar um pequeno UNIX ou feito uma aliança com a Motorola, embora os dois cenários sejam improváveis por causa do fator tempo. De qualquer forma, esse UNIX poderia ter sido feito pela própria IBM e, devido às limitações técnicas, não ter várias características: ele poderia, por exemplo, ser monousuário e monotarefa.

Um UNIX capado desses certamente seria um motivo de piadas entre os meios especializados e poderia até levar o PC para o abismo, mas considerando-se que esse pequeno sistema evoluiria com o tempo, talvez essa tivesse sido a melhor opção para a IBM, pois os empregados poderiam ficar mais a vontade com o sistema dos mainframes de seu trabalho ao simplesmente usar seu computador pessoal.

Nesse cenário, o principal concorrente da IBM deixaria de ser a Apple e passaria a ser a Sun e suas famosas estações. É provável que o SunOS, atual Solaris, fosse portado para o PC, mas tenho dúvidas em relação à recíproca. O certo é que os programas de hoje poderiam estar bem mais avançados, pois sabemos que as APIs do UNIX são mais ricas em recursos técnicos do que as do DOS ou do Windows. Também é possível que a Apple fechasse as portas na década de 90 e Steve Jobs voltasse a incomodar a IBM com o NEXTStep.

Infelizmente, nesse cenário, é provável que o Linux também não existisse, pois como sabemos, o principal motivo da criação do kernel livre foi o fato de que Linus Torvalds queria rodar um UNIX em seu PC; tento ele um PC que já rodasse UNIX, não haveria necessidade de ele continuar com sua criação – mesmo que ele fizesse seu famoso anúncio oficial em 25 de Agosto, certamente o mesmo não chamaria tanto a atenção, pois um UNIX no PC não seria uma grande novidade.

Porém, é certo que Richard Stallman continuaria com sua intenção de criar um sistema operacional totalmente livre, dessa vez tentanto libertar os usuários das garras proprietárias da Sun e da IBM. Sem o Linux para dar vida ao projeto GNU, o kernel Hurd já poderia ter sido desenvolvido e os adeptos da liberdade de software poderiam estar utilizando ele ou alguma variação do BSD, caso o bom doutor tivesse falhado em seu objetivo.

Uma coisa é certa: como virtualmente tudo seria UNIX, migrar para o software livre seria uma tarefa bem mais simples e indolor do que é hoje para alguns, afinal, o usuário já estaria acostumado à linha de comando, à estrutura de pastas e às interfaces gráficas do sistema, que teriam poucas variações significativas entre os diferentes sabores (assim como é hoje). Seria muito mais fácil portar ambientes desktop e softwares dos sistemas livres para o sistema proprietário dominante e, embora certamente nomes consagrados como Photoshop e Corel só rodassem no sistema da IBM ou da Sun, criar un “Wine” para emulá-los ou rodá-los nos ambientes livres seria uma tarefa muito mais simples e esse programa seria muito mais completo, eficaz e confiável do que é hoje – basta ver a camada de emulação do Linux nos BSDs. Pode ser até que a IBM adotasse os famosos utilitários GNU em seu sistema dominante, como hoje faz o OS X.

Além disso, graças ao seu rígido sistema de permissões, talvez não tivéssemos tantos problemas de segurança. como vírus e malwares. como temos hoje. É provável, ainda, que os usuários tivessem um maior conhecimento técnico do sistema e esse seria o cenário mais favorável aos usuários de software livre, embora pelos motivos expostos inicialmente, essa fosse a situação menos provável de acontecer.

Por: André Machado <andreferreiramachado em gmail ponto com>

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