Montando trilhas em Ogg com Audacity, VLC e a linha de comando

Montando trilhas em Ogg com Audacity, VLC e a linha de comando
logo-fsm

Assembling Ogg Soundtracks for an Ogg Video with Audacity, VLC, and Command Line Tools

Autor original: Terry Hancock

Publicado originalmente no: freesoftwaremagazine.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

O Ogg Vorbis e o Ogg FLAC (a versão de fluxo Ogg para o Free Lossless Audio Codec, ou Codec Livre de Áudio sem Perdas) são codecs populares com licenças livres e sem patentes para quem deseja manipular sons. Esses são os formatos que vou usar em um arquivo de vídeo Ogg Theora complexo que estou criando para minha experiência “Lib-Ray”. A ideia é criar um formato alternativo para distribuir vídeo de alta definição. Para isso, vou ter que enfrentar vários desafios técnicos usando as ferramentas de linha de comando do FLAC, o Audacity e o VLC, como vou mostrar aqui.

Criação de filmes com software livre

Este artigo é parte de uma série sobre os desafios que eu encontrei na produção de dois filmes de licença livre, Marya Morevna, no Projeto Morevna, e Lunatics, do projeto Anansi Spaceworks.

Recentemente eu comecei a trabalhar em uma maneira alternativa de empacotar vídeo HD para distribuição, como eu já mencionei em meu artigo sobre o Blu-Ray. Optei por usar um filme da Blender Foundation, “Sintel”, como protótipo, já que todos os arquivos necessários estão disponíveis.

Áudio

O áudio deste projeto vem em dois formatos: FLAC e Vorbis (este último usa compactação com perdas e ocupa bem menos espaço). Eu uso as faixas FLAC de alta fidelidade para as faixas estéreo e surround 5.1 principais. Também uso a faixa contendo apenas a música e os efeitos (que pode ser usada como base para uma nova dublagem).

Só que os arquivos FLAC da trilha sonora surround 5.1 são separados, um arquivo para cada canal, e eu preciso de um único arquivo FLAC multicanal para combiná-lo de forma apropriada ao meu vídeo Theora.

Isso é problemático. O FLAC não tem uma coleção enorme de ferramentas de linha de comando. O flace o metaflacnão dão conta do recado. Fiquei um tempo sem saber o que fazer, mas outro dia descobri que o Audacity, a partir da versão 1.3.3 (estou usando a 1.3.12), podia exportar dados para formatos multicanal. Assim ficou bem mais fácil!

Vamos ver como fazer isso.

Reunindo os arquivos FLAC da trilha sonora

A primeira coisa a fazer é baixar os arquivos que serão usados – no caso, os arquivos do projeto Durian, da Blender Foundation. Eles estão disponíveis para download em um servidor do Xiph.org. O arquivo que eu quero é o sintel-master-51-flac.zip, que contém os cinco canais da trilha sonora separados em arquivos FLAC de canal único.

Vou aproveitar para pegar também a trilha sonora estéreo original. Trata-se de um arquivo FLAC único, com dois canais estéreo multiplexados. Também há uma faixa apenas com a música e os efeitos sonoros (apropriada para dublagens).

Figura 1: primeiro nós baixamos as cinco faixas surround 5.1 em separado

Figura 1: primeiro nós baixamos as cinco faixas surround 5.1 em separado

Naturalmente, vamos descompactar o zip para acessar seu conteúdo:

$ mkdir Soundtrack
$ cd Soundtrack
Soundtrack$ unzip ../sintel-master-51-flac.zip
Archive: ../sintel-master-51-flac.zip
creating: sintel-master-51-flac/
inflating: sintel-master-51-flac/sintel-master-51-c.flac
creating: __MACOSX/
creating: __MACOSX/sintel-master-51-flac/
inflating: __MACOSX/sintel-master-51-flac/._sintel-master-51-c.flac
inflating: sintel-master-51-flac/sintel-master-51-l.flac
inflating: __MACOSX/sintel-master-51-flac/._sintel-master-51-l.flac
inflating: sintel-master-51-flac/sintel-master-51-lfe.flac
inflating: __MACOSX/sintel-master-51-flac/._sintel-master-51-lfe.flac
inflating: sintel-master-51-flac/sintel-master-51-ls.flac
inflating: __MACOSX/sintel-master-51-flac/._sintel-master-51-ls.flac
inflating: sintel-master-51-flac/sintel-master-51-r.flac
inflating: __MACOSX/sintel-master-51-flac/._sintel-master-51-r.flac
inflating: sintel-master-51-flac/sintel-master-51-rs.flac
inflating: __MACOSX/sintel-master-51-flac/._sintel-master-51-rs.flac
Soundtrack$ ls
__MACOSX sintel-master-51-flac
Soundtrack$ cd sintel-master-51-flac
Soundtrack/sintel-master-51-flac$ ls
sintel-master-51-c.flac sintel-master-51-lfe.flac sintel-master-51-l.flac sintel-master-51-ls.flac sintel-master-51-r.flac sintel-master-51-rs.flac
Soundtrack/sintel-master-51-flac$

Carregando os arquivos no Audacity

Agora vamos abrir o Audacity e carregar cada canal de som surround em uma faixa separada. Para isso, escolha Arquivo?importar e escolha o arquivo sintel-master-51-l.flac. O arquivo é carregado em uma faixa no Audacity. Repita o procedimento com os outros arquivos, até que todos estejam carregados (figura 2).

Figura 2: importando os canais FLAC separados para o Audacity

Figura 2: importando os canais FLAC separados para o Audacity

Para não ter que rolar a tela, use Exibir?Ajustar verticalmente para compactar todas as faixas na mesma tela (figura 3).

Figura 3: dá para espremer todas as faixas na mesma tela usando a opção “Ajustar verticalmente”

Figura 3: dá para espremer todas as faixas na mesma tela usando a opção “Ajustar verticalmente”

Você vai notar que os nomes das faixas são tirados dos nomes dos arquivos, e é difícil lê-los porque as partes diferentes dos nomes ficam fora da janela. Para resolver isso, clique na setinha de menu de cada faixa, escolha “Nome…” e mude para algo menor, mais fácil de identificar (figura 4). Isso é só para que o usuário se oriente, para o Audacity não faz a menor diferença.

Figura 4: mude os nomes para que fique mais fácil reconhecer os canais

Figura 4: mude os nomes para que fique mais fácil reconhecer os canais

Nesse ponto eu carreguei e mudei o nome de todos os meus canais. Agora, vamos exportá-los como um FLAC multicanal.

Exportação multicanal com o Audacity

Primeiro, conferimos se o Audacity está no modo certo para exportar arquivos multicanal. Para isso, escolha Editar?Preferências e examine a seção “Importar / Exportar”. O botão de opção “Usar mixagem personalizada” precisa ficar marcado (figura 5).

Figura 4: mude os nomes para que fique mais fácil reconhecer os canais

Figura 5: marque a opção de exportação “Usar mixagem personalizada”

Exportação do arquivo

Em seguida, escolha Arquivo?Exportar para exportar o arquivo. É hora de definir um nome de arquivo. Também é possível informar metadados a serem incluídos no arquivo. Uma janela de diagrama de rede será exibida, permitindo que você escolha qual faixa será armazenada em cada canal numerado do arquivo (figura 5). Note que usei a abreviação “MUX”, que indica “multiplexado”, para indicar que todas as seis faixas de áudio serão codificadas no arquivo.

A convenção para som multicanal em arquivos FLAC é documentada na especificação do formato FLAC, e no caso do som surround 5.1 é: canais esquerdo, direito, central, LFE, surround esquerdo e surround direito. Como eu já carreguei os arquivos nessa ordem, o mapeamento padrão já está correto, como mostra a figura 5. Mesmo assim, é bom conferir.

Depois, é clicar em “Salvar” e esperar o fim da exportação. Após alguns momentos, o arquivo é gravado no disco.

Pronto!

Figura 5: exportando as faixas como uma única faixa surround 5.1

Figura 5: exportando as faixas como uma única faixa surround 5.1

Testes

Só por curiosidade, eu tentei recarregar o arquivo “MUX” em uma nova sessão do Audacity. O resultado foi o esperado: o arquivo é dividido em várias faixas, representadas no Audacity como faixas em mono. Os nomes das faixas são derivados dos nomes dos arquivos, com um número ao fim indicando o canal numérico representado. Portanto, o canal esquerdo é o número um (ou seja, ganhou o rótulo “sintel-master-51-mux 1“), e o canal LFE é o número quatro (“sintel-master-51-mux 4“).

O VLC reproduziu o arquivo direitinho.

Conversão para formatos Ogg

Agora a faixa de som surround 5.1 está codificada em um único arquivo FLAC multicanal. Também tenho as versões em estéreo e contendo apenas a música e os efeitos sonoros, também em estéreo.

Só que ainda tenho que converter esses arquivos FLAC nativos em arquivos Ogg. O utilitário de linha de comando flacdá conta disso:

$ flac sintel-master-51-MUX.flac --ogg -o sintel-master-51-MUX.oga
flac 1.2.1, Copyright (C) 2000,2001,2002,2003,2004,2005,2006,2007 Josh Coalson
flac comes with ABSOLUTELY NO WARRANTY. This is free software, and you are
welcome to redistribute it under certain conditions. Type `flac' for details.
sintel-master-51-MUX.flac: wrote 165552085 bytes, ratio=0.999
$
$ flac sintel-master-STEREO.flac --ogg -o sintel-master-STEREO.oga
flac 1.2.1, Copyright (C) 2000,2001,2002,2003,2004,2005,2006,2007 Josh Coalson
flac comes with ABSOLUTELY NO WARRANTY. This is free software, and you are
welcome to redistribute it under certain conditions. Type `flac' for details.
sintel-master-STEREO.flac: wrote 71535004 bytes, ratio=1.000
$
$ flac sintel-music+effects-STEREO.flac --ogg -o sintel-music+effects-STEREO.oga
flac 1.2.1, Copyright (C) 2000,2001,2002,2003,2004,2005,2006,2007 Josh Coalson
flac comes with ABSOLUTELY NO WARRANTY. This is free software, and you are
welcome to redistribute it under certain conditions. Type `flac' for details.
sintel-music+effects-STEREO.flac: wrote 74268073 bytes, ratio=1.000
$

“Ripando” as faixas dos comentários para Ogg Vorbis com o VLC

Para os comentários eu uso o Vorbis. Ele é bem mais compacto, e a qualidade não é tão importante, desde que dê para entender o que está sendo dito.

Usei o VLC para ripar as faixas de comentários da versão DVD do Sintel e convertê-las para Ogg Vorbis, já que não conheço nenhum utilitário online que faça isso. Obviamente, tenho que copiar o DVD para o meu HD (para fazer isso, é só usar o utilitário dvdbackup, disponível em um pacote Debian de mesmo nome):

$ dvdbackup -i /dev/dvd1 -M

O -M significa “mirror” (espelho), já que faremos uma cópia completa do conteúdo do DVD. A opção -i diz onde encontrar o DVD (no meu computador, a unidade de DVD é /dev/dvd1, o que não é muito comum. Geralmente o certo seria /dev/dvd).

Depois uso o VLC para ripar as faixas de som do arquivo VTS_01_0.VOB do DVD. Essa é a versão do vídeo com as faixas de comentários (que são oito). Para fazer isso, abra o VLC e escolha Mídia?Converter/Salvar…. Uma janela será aberta. Clique no botão “Adicionar” para adicionar o arquivo VOB em questão.

Para definir a faixa de áudio que vamos converter, clique na caixa “Mostrar mais opções” para que um grupo de campos adicionais seja exibido abaixo. No campo de opções de edição, informe “:audio-track=0” para gravar a primeira faixa (a numeração começa em zero).

Depois disso, clique em “Converter/Salvar…” e a caixa de diálogo vai mudar, permitindo que você informe valores para a saída. Escolha o arquivo que será gravado. Em seguida, use o menu suspenso para selecionar “Áudio – Vorbis (OGG)” como codec de saída. Para fechar, clique no botão “Iniciar” para começar a ripar a faixa. A figura 7 mostra todo o processo.

Figura 7: ripando as faixas de comentários da imagem do DVD “Sintel” usando o VLC

Figura 7: ripando as faixas de comentários da imagem do DVD “Sintel” usando o VLC

O controle deslizante na janela do VLC vai exibir o andamento da conversão. Quando estiver tudo acabado, você deve repetir o processo com “:audio-track=1” e todas as outras faixas até “:audio-track=7“, a última disponível.

E é isso aí, agora temos todas as faixas de áudio das quais precisamos para nosso vídeo Ogg Theora. Nas minhas próximas colunas, vou construir o vídeo, criar as legendas e montar o resultado em um único arquivo multimídia.

Terry Hancock é responsável técnico e um dos proprietário da Anansi Spaceworks. No momento, ele trabalha em uma série animada livre sobre o desenvolvimento espacial chamada Lunatics, além de contribuir com o Morevna Project.

Créditos a Terry Hancockfreesoftwaremagazine.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X