LibreOffice versus OpenOffice.org

LibreOffice versus OpenOffice.org
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LibreOffice versus OpenOffice.org

Autor original: Jesse Smith

Publicado originalmente no: distrowatch.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

Como nossos leitores já sabem, o OpenOffice.org é um pacote de escritório e produtividade. Ele surgiu quando a Sun comprou o StarOffice e decidiu oferecer uma versão livre e de código aberto dele. O pacote OpenOffice.org teve boa recepção na comunidade de código aberto, principalmente por sua gama de recursos, por ser bastante completo e por ter interface semelhante (na época) à do Microsoft Office. O OpenOffice.org não era perfeito; ele era grande, relativamente lento e era difícil conseguir submeter patches ao projeto.

O problema dos patches fez com que algumas pessoas criassem um fork (ou um semifork) do OpenOffice.org, resultando em um produto semelhante, só que com patches da comunidade. Esse fork, o Go-oo, foi amplamente adotado pelas distribuições Linux mais famosas. Projetos como Debian (e consequentemente Ubuntu, Mint etc), Gentoo, openSUSE e outros começaram a trazer o Go-oo instalado, ou pelo menos a incluir os patches dele.

Depois que a Oracle comprou a Sun (e com ela os direitos do OpenOffice.org), alguns desenvolvedores e colaboradores do OpenOffice.org deixaram o projeto controlado pela Oracle para montar o LibreOffice, sob a bandeira da recém-criada The Document Foundation. O pacote LibreOffice é amplamente baseado no trabalho do Go-oo, e conquistou bastante apoio de diversas distribuições. O projeto Go-oo acabou sendo encerrado em prol do LibreOffice, e as distros que usavam o Go-oo (ou seus patches) migraram (ou estão migrando) para o LibreOffice.

Com a saída de alguns de seus desenvolvedores, e com a comunidade Linux se concentrando no LibreOffice, a Oracle anunciou que não estará mais envolvida no aspecto comercial do OpenOffice.org, e que entregará o projeto à comunidade de código aberto.

Entrevistas

OpenOffice.org

Esse foi um breve resumo do que aconteceu até hoje, mas o futuro dos dois projetos ainda é desconhecido. Para saber mais sobre essa história, eu conversei com o gerente de desenvolvimento da comunidade do OpenOffice.org, Dr. Louis Suarez-Potts.

DW: Qual é a situação atual do OpenOffice.org? Vocês têm planos para o futuro próximo?

LSP: No momento, estamos trabalhando, como de costume, na próxima versão, a 3.4. O trabalho no nosso controle de qualidade e em outros projetos relevantes segue normalmente. Muitas pessoas trabalharam duro no OpenOffice.org e no ODF.

DW: Pelo que eu entendi, a Oracle declarou recentemente que não irá mais vender ou oferecer suporte comercial ao OpenOffice.org. Ela ainda financia o projeto?

LSP: Até agora as coisas permanecem as mesmas. Uma pergunta melhor, ou talvez mais precisa, seria: quais são os planos da Oracle quanto a empregar os principais colaboradores do OOo? Para essa pergunta eu não tenho uma boa resposta. Mas vamos dizer o seguinte: mais de 50 milhões de pessoas usam o OpenOffice.org diariamente, e eu provavelmente estou subestimando a realidade em uns 50 por cento. É imperativo, e não apenas importante, que continuemos esse trabalho. Pouco importa se o nome é LibreOffice ou OpenOffice.org; o código é o mesmo (embora o LibreOffice tenha um desenvolvimento paralelo, com suas principais contribuições feitas pela Novell). Eu peço a todos que têm fichas apostadas nesse jogo que contribuam. Com dinheiro, com desenvolvedores, com pessoas: nós precisamos, mais do que nunca, que o mundo mostre de forma real seu interesse por esse produto que tantos vêm usando gratuitamente. Una-se à comunidade e faça alguma coisa; contribua com o que puder; e faça o possível para que os outros, e não apenas você, se beneficiem. Não quero ver a estratégia de “dividir para conquistar” saindo vitoriosa aqui.

DW: Você mencionou que o LibreOffice é um projeto de desenvolvimento paralelo…

LSP: Sim. Não é bem um fork, porque em um fork presume-se que o “tronco” da árvore pode existir de forma independente da “raiz”. Acho que não é o caso.

DW: Já houve alguma iniciativa de incorporação de patches do LibreOffice no OpenOffice? Ou alguma outra tentativa de compartilhamento de código entre os dois projetos?

LSP: Do LibreOffice para o OpenOffice.org? Que eu saiba, não. O LibreOffice antes era o Go-oo da Novell, e embora houvesse mais comunicação envolvendo o código e as equipes, havia patches e trechos de código que, por um motivo ou outro, a Novell se recusava a fornecer ao OOo. Mas há uma iniciativa nesse sentido sim: eu mesmo a estou tomando. Acho que a divisão e a desarticulação só favorecem nossa maior concorrente, a Microsoft. É a clássica estratégia de dividir para conquistar. O acordo de 2006 entre a Novell e a Microsoft faz a gente pensar.

LibreOffice

Também conversei com Italo Vignoli, do comitê diretor da The Document Foundation.

DW: Muitas distribuições Linux estão migrando para o LibreOffice. Você tem visto muitos patches e código sendo enviados pelas distros?

IV: Vários dos desenvolvedores principais da TDF recebem salário da Novell, da Red Hat e da Canonical, e também há um sujeito do projeto Debian. Não sei qual parcela das contribuições vem dos colaboradores ocasionais e qual vem das distros Linux, mas acho que tem muita gente contribuindo.

DW: Para um usuário final, quais são as vantagens de migrar do OpenOffice.org para o LibreOffice?

IV: O LibreOffice terá muito mais recursos baseados em um código mais limpo, e vai ser mais rápido e compatível com mais plataformas. Obviamente isso depende de quantos recursos são usados, porque um usuário básico não vai encontrar muitas diferenças.

DW: O LibreOffice também roda no Windows e no Mac OS X. Você teria como fornecer estatísticas de downloads por plataformas?

IV: O Windows sempre fica com a maior parte, com uns 90% dos downloads, e o Mac OS X e o Linux ficam com mais ou menos 6% e 4%. Esses números não incluem software instalado pelos repositórios, que respondem por um número bem grande de usuários. De modo geral, eu diria que o Windows responde por 80% dos usuários, o Linux por 15% e o MacOS pelos 5% restantes. Mas estou meio que chutando, não estou me baseando nos dados.

DW: Agora que a Oracle entregou o OpenOffice.org à comunidade, você acha que vai haver uma fusão dos dois projetos? Existe uma preocupação em manter os dois projetos compatíveis?

IV: Nós anunciamos a The Document Foundation (TDF) como um caminho futuro para a comunidade do OOo, e o LibreOffice como a evolução natural do OOo (após dez anos de história sob a tutela da Sun/Oracle). Não anunciamos a TDF como um projeto concorrente, e nunca encaramos o que restou da comunidade do OOo dessa forma, embora ela tenha tentado nos fazer parecer seus concorrentes. Infelizmente, há um distinto senhor que mal consegue representar a si próprio, mas que afirma ser o “Gerente da Comunidade” do OOo, que espalha mentiras para fomentar a confusão e o medo em torno da The Document Foundation, o que cria muitos mal-entendidos. Não acreditamos que exista algo que justifique uma fusão, já que há apenas uma comunidade, e nós criamos essa casa independente com a The Document Foundation.

Se você der uma olhada nos nossos estatutos, vai ver que os colaboradores do projeto OOo são membros potenciais da TDF, porque damos valor ao que eles fizeram pelo OOo. As pessoas que veem duas comunidades independentes e a necessidade de uma fusão estão difundindo essas inverdades sobre a TDF porque sabem que em um ambiente meritocrático eles não encontrariam espaço para seus egos.

Veja a compatibilidade de software: limpamos a base de código para tornar o código mais gerenciável, internacional (o código do OOo é comentado em alemão) e fácil de manter. A compatibilidade vai se basear no formato de documento, que é o mesmo, mas infelizmente o código vai começar a apresentar diferenças expressivas.

Por outro lado, seria absurdo aumentar o débito tecnológico que o OOo acumulou ao longo dos anos. O software precisa ser mantido e atualizado de acordo com as tecnologias de desenvolvimento mais recentes, e nós simplesmente começamos a fazer o que era necessário. A propósito, a necessidade de se limpar o código foi anunciada pelo gerenciamento da Sun em 2006, mas o projeto nunca decolou.

Deixamos nossos agradecimentos a Louis Suarez-Potts e a Italo Vignoli por compartilharem suas ideias a respeito desses importantes projetos.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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