Há 5 anos morria Steve Jobs, porém suas lições e importância estão vivíssimas!

Há 5 anos morria Steve Jobs, porém suas lições e importância estão vivíssimas!

Quando perguntado sobre o processo de concepção do Macintosh, John Sculley, que foi CEO da Apple entre 1983 a 1993 e acabou por se tornar um dos maiores desafetos na vida de Steve, disse que Jobs não “criou nada mas criou tudo“. Essa frase dita em 1984, um ano antes de Sculley e o conselho da Apple afastar Jobs é a definição mais justa!

A frase ele não criou nada mas criou tudo é definitivamente propícia para definir a trajetória de Steve Jobs. Ele não era o cara mais brilhante em eletrônica ou engenharia, não era designer, não tinha o comportamento corporativo que a grande maioria ao seu redor tinha, ele não era nada, mas era tudo. Na verdade Steve sempre foi um insistente, um maníaco por suas convicções e um motivador com uma bela pitada de tirania. Além de ter a sorte de ser cercado durante toda sua vida (principalmente no sentido corporativo) de pessoas incríveis, inquietas, e que com uma bela dose de “chicotadas” conseguiam trazer para a realidade as ideias de Jobs.

Steve Jobs sempre esteve longe de ser um humano a ser seguido fora do âmbito corporativo (e em alguns momentos até dentro dele também), já que diversos “esqueletos no armário” mancharam sua trajetória como, por exemplo, a questão da sua filha Lisa, fruto de um relacionamento nos anos 70 com a pintora Chris-Ann Brennan. Chris-Ann ficou grávida em 1977, um ano depois que a Apple, primeiro grande feito na vida profissional de Jobs, iria ganhando forma. A reação de Steve foi a pior possível, rejeitou a criança por anos e inclusive se negava a contribuir financeiramente. Só após um teste de DNA que comprovou a paternidade é que Steve passou e ajudar, e aos poucos começou a se aproximar da criança

Assim como aconteceu em outras ocasiões, Steve tentou se redimir a longo dos anos, sempre à sua maneira, como em 1983 quando a Apple lançou o primeiro computador com mouse e interface gráfica, elementos que permitiram que pessoas que não tinham conhecimentos avançados em eletrônica ou qualquer parafernália pudessem operar, esse computador foi batizado de Lisa. Steve por muito tempo quando indagado se o nome era em homenagem a sua filha dizia que na verdade Lisa significava Local Integrated Software Architecture. Após muitos anos, Jobs admitiria a Walter Isaacson, autor de sua biografia, que o nome do computador era em homenagem a filha.

Steve Jobs e o Apple Lisa

E mesmo não sendo o melhor espelho de ser humano (e na verdade quem pode se considerar o tal? ) Jobs tinha uma capacidade imensa de motivar as pessoas ao seu redor, e extrair o melhor que elas tinham para dar. Aos que não fizeram parte dos meandros da Apple e das demais empresas em que liderou, onde com certeza tinham o Jobs motivador, rígido e arrogante em sua plenitude, em cada apresentação de produtos conduzida por ele era um convite a isso, um ultimato para que tudo que você conheceu até então iria ser mudado com um novo “brinquedinho” que ali seria apresentado.

Já em relação a sua vivência, e a experiência com os acertos e erros que a vida pode dar, Jobs também tinha grande capacidade de impactar, como, por exemplo, no discurso para os formandos em Stanford em 2005. Durante essa aula gratuita de liderança onde percorreu por diversos pontos da sua vida como a questão da sua adoção, Jobs diz que “você não consegue conectar os fatos olhando pra frente, você só os conecta olhando para trás, e que de alguma forma você tem que acreditar que eles vão se reconectar no futuro”. 

Steve Jobs durante o discurso em Stanford

Essa questão da conexão dos pontos está relacionada com a sua crença, “é preciso acreditar em alguma coisa”, destaca Jobs. Então é de suma importância que você acredite que seu esforço e decisões feitas hoje terão algum sentido no futuro. O primeiro a acreditar em você tem ser você, e esse acabou sendo um dos elementos principais na trajetória de Jobs. Por mais que alguma de suas ideias soasse desconexa ou sem sentido, ele tinha a real convicção que daria certo. Isso não garante o sucesso e nem que realmente algo incrível acontecerá, mas pelo menos é um grande impulso para que você tente fazer algo diferente do que fez até então.

A própria história da Apple e da NeXT, empresa que Jobs fundou ao ser chutado da gigante da maça, comprovam isso. A Apple foi constituída basicamente por dois Steves, Jobs e Wozniak, Jobs era o cara que gostava de eletrônica e não tinha conhecimentos ultra avançados, mas era o cara turrão, insistente e que via nas ideias de Wozniak, esse sim, o gênio da eletrônica e que fazia tudo por hobby e por amor, a possibilidade de criar um negócio que mudasse a vida deles mesmos e de todo o mundo.

Os dois Steve, Jobs e Wozniack

Sem essa insistência e visão de Jobs a Apple não teria saído de um passatempo, não teria se tornado a corporação que é hoje e principalmente não teria mudados tantos aspectos da indústria como fez por muitos anos. Já com a NeXT aparece o lado de Jobs que aguenta as “porradas da vida”. A NeXT foi criada depois que Jobs foi demitido da Apple, já que a empresa que era uma fábrica de sonhos de Steve havia se tornado uma grande corporação com grandes acionistas e que não suportavam o estilo menino chorão e mimado de Jobs.

Steve Jobs na NeXT

A NeXT, que significa próximo em português, era isso, era continuar, seguir em frente, era continuar avançando. O período que se viu afastado da Apple foi altamente produtivo e de reaprendizado para Jobs, no mesmo discurso em Stanford, ele disse que ficou devastado, já que o que tinha sido o foco da sua vida adulta tinha ido embora, porém após alguns meses viu que ainda amava o que fazia, e definiu esse momento da seguinte forma:

“O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa”.

Steve também sempre se saiu bem nas entrevistas, principalmente em situações quando era necessário que fizesse alguma previsão de mercado. Durante uma histórica entrevista de Steve para a Playboy em 1985, época em que um computador no lar ainda era algo distante e que nem passava pela cabeça de muitas pessoas.

Em 1985 o Macintosh, (uma das criações mais valorizadas por Steve e que ao mesmo tempo acabou ajudando que Jobs fosse enxotado da Apple) estava a um ano no mercado, e acabou rivalizando com o IBM PC, que no contexto geral saiu vencedor do confronto. 

Em um momento da entrevista o repórter pediu para que Steve desse razões concretas para que uma pessoa comprasse um computador, no meio da resposta Jobs disse que estávamos apenas no início de uma revolução na vida das pessoas, uma revolução tão importante quanto a proporcionada pelo telefone. Essa era mais uma característica de Jobs, sua capacidade de criar frases de efeito cheias de simbolismo e analogias, em certa ocasião chegou inclusive a dizer que o computador era como uma “bicicleta para a mente”.

Por mais que essas declarações de forma isolada fossem apenas declarações, o contexto era muito mais amplo e criou ao longo dos anos a identidade da Apple e o estilo de liderança implantado por Steve. Na mesma entrevista para a Playboy, Jobs foi questionado se achava viável que as pessoas investissem na casa dos  US$ 3 mil em algo ( o computador) que era como um ato de fé, algo que poderia ou não se tornar indispensável ao longo dos anos.

A resposta de Steve foi sensacional, fazendo uma analogia com o telefone, o telégrafo e dando uma bela alfinetada no seu concorrente, a IBM.

“No futuro não será um ato de fé. O problema é que hoje as pessoas querem saber coisas específicas e a gente não sabe o que dizer. Mas há 100 anos, se alguém perguntasse a Alexander Grambell o que poderia se fazer especificamente com um telefone, ele também não teria sabido responder. Enfim, há coisas que hoje não se pode conceber, mas acontece.

Em 1844 foi inventado o telégrafo, uma fanstática inovação no mundo das comunicações; em poucos minutos podia-se enviar mensagens de lugares distantes. Muita gente falou em colocar um aparelhinho de telégrafo em cada escrivaninha para aumentar a produtividade. Não funcionou. Havia aquele negócio de código Morse, pontos e traços. Felizmente, Graham Bell inventou o telefone. Fazia exatamente o que o telégrafo fazia, só que as pessoas podiam usá-lo com facilidade.

Tem gente dizendo que precisamos colocar um IBM-PC em cada escrivaninha da América. Não funcionou. Desta vez, é preciso aprender programação, ninguém vai fazer isso. É aí que entra o Macintosh: nosso computador é o telefone da indústria de computadores.”

 

Chega a ser irônico quando algumas pessoas se lamentam que a era dos computadores se tornou banal e que não há mais o interesse por coisas mais complexas em termos de hardware, e acabam apontando os smartphones e tablets como pívô desa fase mais “descartável”. Steve ao se deparar com isso devia dar boas risadas, já que a base dos seus produtos girava em torno da facilidade, a eliminação de etapas e que pessoas sem nenhum conhecimento pudessem lidar com o aparelho, e isso se tornou referência de mercado, e permitiu que novas empresas e produtos fossem desenvolvidos.

Para comprovar esse toque de Steve e da Apple na praticidade do uso nem é preciso recorrer a aparelhos mais recentes como o iPod, iPad ou iPhone podemos nos concentrar na sua própria história com computadores. O Apple I primeiro computador desenvolvido por Steve Wozniack e que virou o primeiro produto da Apple, ainda não era o que conhecemos hoje como computador, e necessitava de um alto conhecimento técnico para mexer com ele, isso sem contar que não era apresentável como um item de consumo geral, o design impressionaria um grande fã de gambiaras eletrônicas, mas jamais conquistaria um consumidor comum acostumado com eletrodomésticos. Steve chegou a dizer que sua ideia era criar o primeiro computador completamente empacotado. A concepção do empacotado viria com o Apple II, que começou a ser vendido no dia 10 de junho de 1977.

Apple I

Apple II

Essa ideia do completamente empacotado ao passar do tempo se tornou regra no ramo da computação e continua sendo seguida até os dias de hoje, há espaço ainda para o pessoal mais tradicional que gosta e tem a necessidade de compreender completamente o que está usando, mas no geral a regra da tecnologia sempre será a simplicidade e objetividade, e nesse quesito Jobs sempre esteve à frente de seu tempo.

Ao longo da vida Steve Jobs enfrentou diversos oponentes, desde a IBM, a John Sculley e claro, Bill Gates, esse último que era uma espécie de aliado no início passou a integrar a lista negra de Jobs e terminou como um dos responsáveis por salvar a Apple da falência, com o investimento de US$ 150 milhões na companhia em 1997, anunciado durante o evento Macworld daquele ano. Em 1997 Steve ainda estava num processo de readaptação com “a gigante da maça” já que graças a aquisição da NeXT por parte da Apple ele estava de volta a empresa que ajudou a fundar, a princípio como uma espécie de consultor, mas rapidamente assumiu o posto que desde o início nunca tinha sido seu, CEO, o líder institucional. Esse era o mais novo e importante desafio para Jobs, já que além do cargo ser de extrema responsabilidade, a Apple estava completamente perdida, sem nenhum horizonte e caminhava para a falência.

Porém o cara que não era nada, mas era tudo, mostrou que o seu estilo nada convencional de liderança era funcional, e que a sua busca incessante por bons produtos seria o que tiraria a Apple da lama. E assim o fez. Essa segunda passagem de Jobs, de 1997 a 2011, sem dúvidas foi a mais impactante e que acabou o tornando uma espécie de “Deus” para os fãs da Apple e alguns analistas. 

Durante esse período a Apple lançou produtos e serviços inesquecíveis, como o iMac em 1998, o Mac OS X em 2000,  iPod em 2001, o iTunes em 2003, o iPhone em 2007, o iPad em 2010 e o iCloud em 2011. Além desses lançamentos, Jobs assumiu uma postura similar a de um avatar, um total garoto propaganda com características que rapidamente seriam lembradas. Dentre essas características e mais aparente era a vestimenta, de 1998 até o ano da sua morte em praticamente todos os momentos importantes que era preciso fazer a associação da sua imagem com a da Apple, Steve era visto com suéter preto, calça jeans tradicional, e tênis. Em 1998 uma capa da revista BusinessAge retratou muito bem como Steve estava sendo recebido de volta ao lar: How a loser be come a Winner Again ( como o perdedor se tornou vencedor novamente).

 

Através desse traje que se transformou em sua marca registrada, foi possível acompanhar a luta de Jobs com seu adversário mais duro: O câncer. Steve foi diagnosticado com um câncer raro em outubro de 2003, a imagem da tomografia mostrada pelos seus médicos acusava um tumor no pâncreas que ataca um a cada 100 mil pacientes de câncer. E ao longo do seu tratamento e batalha contra a doença, foi possível perceber o quanto Jobs foi ficando debilitado, uma aparência sempre jovial e marcante a partir de 2009 foi transformada em um misto de tristeza e incredulidade.

Como sempre fez, Jobs lutou com mais essa adversidade, teimoso como sempre, chegou inclusive a rejeitar o tratamento durante um tempo, já que acreditava que iria se curar através de uma dieta especial. Em 2004 tomou a decsão de retirar o tumor. No discurso em Stanford no ano seguinte, ele chegou a comentar o problema, e claro que mais uma vez desferiu uma bela lição:

“Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.

Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração”.

O que parecia estar sanado, continuou se perpetuando ao decorrer dos anos seguintes, em janeiro de 2009 chegou a pedir licença da Apple para fazer um transplante de fígado, já que a doença estava de volta e se espalhando pelo seu corpo.  Em junho do mesmo ano retornou ao batente. Em janeiro de 2011 teve que se ausentar temporariamente, em agosto se afastou definitivamente, e jamais retornou, já que no mesmo mês, há exatos 5 anos, aos 56 anos de idade Steve Jobs viria a falecer.

Confira abaixo a carta que Steve Jobs deixou ao seus funcionários quando decidiu renunciar definitivamente ao cargo de CEO da Apple.

“Eu sempre disse que, se houvesse um dia em que eu não pudesse mais cumprir meus deveres e atender às expectativas como presidente-executivo da Apple, eu seria o primeiro a informá-lo. Infelizmente, esse dia chegou.

Por meio desta, renuncio do cargo de presidente-executivo da Apple. Gostaria de servir, caso o Conselho o aprove, como presidente do Conselho da Apple, diretor e funcionário da Apple.

Quanto ao meu sucessor, recomendo fortemente que executemos nosso plano de sucessão com a nomeação de Tim Cook como presidente-executivo da Apple.

Acredito que a Apple está à frente de seus dias mais brilhantes e inovadores. E estou ansioso para observar e contribuir para seu sucesso no meu novo posto.

Fiz alguns dos melhores amigos da minha vida na Apple, e agradeço a todos vocês pelos muitos anos nos quais pude trabalhar ao seu lado.”

 

Embora eu nunca tenha sido um fã e comprador dos produtos da Apple, na verdade fiz o caminho do rival, adotando PCs e Windows, smartphones Android e Windows Phone, ao invés de Mac e OS X ou iPhone, isso nunca interferiu na minha visão sobre a importância da Apple e principalmente de Jobs. 

Conhecer a história de vida Jobs e sua carreira é importante para todos, já que como qualquer ser humano há altos e baixos, e reviravoltas que só a vida pode dar. Sempre quando lembro de Steve Jobs, além de suas previsões de mercado e produtos concebidos em sua gestão me recordo da sua grande capacidade de distorcer a realidade a seu favor, e imprimir discursos sensacionais.

Durante esse artigo citei por diversos momentos o discurso de Steve na faculdade de Stanford em 2005, e com sua licença quero fazer a última e mais importante menção.

Steve Jobs encerrou o discurso citando o Whole Earth Catalog, que era um catálogo muito conhecido nos anos 60, e que Steve dizia que era como uma espécie de Google em formato de livro, lançado 35 anos antes do Google realmente aparecer. Nos anos 70, Stewart Brand, idealizador do projeto, e sua equipe publicaram a última edição do catálogo, e na contracapa dessa edição de despedida havia uma estrada ensolarada com os seguintes dizeres abaixo: Stay Hungry, Stay Foolish, que em português significa “continue com fome, seja tolo”.

Isto é, continue buscando conhecimento, continue se aperfeiçoando, e sempre seja tolo e humilde para reconhecer que nunca irá ter todo o conhecimento e experiência necessária, uma espécie de “só sei que nada sei” mais contemporânea.

Essa meta esteve junto com Steve ao longo de sua vida, e boa parte do seu sucesso veio através dessa constante sede em aprender e mudar. Portanto, Stay Hungry, Stay Foolish.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
Leia mais
Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X