Primeiras impressões do FreeBSD 8.0

Primeiras impressões do FreeBSD 8.0

First look at FreeBSD 8.0
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

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Às vezes eu tenho a impressão de que as distribuições Linux ofuscam todos os outros aspectos do ecossistema do código aberto. Pode ser muito fácil pular de um Linux para o outro, e dele para outro, sem tomar consciência de que há muitas outras opções disponíveis. Nesta semana, decidi seguir numa direção diferente e explorar o mais recente lançamento das comunidades BSD: O FreeBSD, versão 8.0.

O sistema operacional do FreeBSD é muito flexível e adequado a diversos ambientes, incluindo sistemas embarcados e desktops. Porém, como mote do projeto (“O Poder de Servir”) indica, o FreeBSD conquistou a maior parte de sua forte reputação rodando em servidores. Tendo isso em mente, peguei emprestado um velho desktop com CPU de 1 GHz e 512 MB de RAM e instalei a versão mais recente do FreeBSD nele para ver como ele se sairia como servidor doméstico.

Uma das primeiras coisas que se destacam no projeto FreeBSD é o site. O layout é fácil de ler, a apresentação é profissional e há mais documentação do que você pode imaginar. É maravilhosamente fácil encontrar qualquer informação da qual você precise no site. Há um amistoso fórum da comunidade para quando você tiver problemas ou precisar de ajuda. A versão mais recente do sistema operacional vem em diferentes “sabores”, incluindo uma edição em CD com o sistema básico e uma edição em DVD com todos os requintes. O sistema operacional roda em arquiteturas Sparc64, PowerPC e x86 de 32 e 64 bits, dentre outras. Há uma boa variedade de versões disponíveis, e é provável que haja uma opção adequada de download para todos. Eu baixei a imagem de CD para máquinas i386 e iniciei meus testes.

Antes de chegarmos à parte divertida, é importante que eu esclareça uma coisa. Eu raramente uso um BSD no meu trabalho ou na minha vida pessoal. E é ainda mais raro para mim administrar um sistema BSD. Por fim, esta análise marca a primeira vez em que eu instalei do zero, configurei e rodei um servidor FreeBSD. Espero que, caso surja algum erro na minha análise, um usuário do FreeBSD possa me corrigir na seção de comentários. Tendo dito isso, vamos seguir com a minha aventura!

Instalação e primeira inicialização

Ao inicializar pelo CD, o sistema oferece um menu de inicialização. Aceite o padrão e você será levado ao instalador do sistema. A maior parte do instalador do FreeBSD consiste em menus de texto que guiam o usuário por um processo bastante longo e detalhado de configuração do sistema. O processo seria muito intimidador, não fossem as instruções extensas e úteis e a adoção de padrões que fazem sentido. Na verdade, as opções padrão são tão bons que passei pelos menus todos sem mudar nada. As pessoas que fizeram o instalador conseguiram criar uma ferramenta de configuração detalhada e muito poderosa sem torná-la assustadora para novatos no FreeBSD. O instalador segue pela configuração de partições e pontos de montagem, pela configuração do gerenciador de inicialização e pela escolha dos pacotes que serão instalados. Seguimos então para a configuração de uma conexão de rede, habilitando os serviços de rede necessários e escolhendo um fuso horário. Ao fim, o instalador solicita uma senha para a conta de root e recomenda a criação de um usuário comum para as tarefas do dia a dia.

Quando o novo sistema se inicia, o usuário é apresentado a uma tela de login em modo texto. Ao fazer o login, algumas sugestões úteis são oferecidas. Essas sugestões indicam ao usuário como obter ajuda pelo site do FreeBSD, pelas listas de discussão e nas páginas de manual. Além disso, a cada login, uma breve dica é exibida, o que pode ser útil para novatos ou servir como mera curiosidade. Algumas dicas que eu vi incluem o uso do calendário na linha de comando e como impedir que o terminal emita bipes. O sistema vem com uma seleção pequena de shells, limitando o usuário ao sh, ao csh ou ao tcsh. Os arquivos de configuração podem ser alterados com o popular editor vi. Nesse momento, o servidor está cheio de potencial a ser realizado.

O hardware de um servidor costuma ser bem entediante para pessoas acostumadas a desktops tridimensionais. Mas isso não o torna menos importante. Nos meus testes com o FreeBSD, o teclado funcionou sem problemas. O mouse PS/2 foi configurado durante a instalação, mas não cheguei a usá-lo. A placa de vídeo não teve muito trabalho, já que usei um console de texto o tempo todo, mas funcionou sem sustos. Meu único problema com o hardware foi com a placa de som. O som não funcionou de primeira, e até acabar de escrever este artigo eu não consegui resolver isso. Pedi ajuda na comunidade, e alguns voluntários muito gentis estão me ajudando.

O projeto FreeBSD leva a segurança a sério, e se esforça para manter o sistema bem fechado sem atrapalhar o usuário. O instalador se certifica de que a conta de root seja protegida por senha e recomenda a criação de uma conta comum, explicando o porquê disso. Por padrão, todos os serviços de rede vêm desativados. Uma coisa que estranhei no FreeBSD é que o conteúdo dos diretórios home, incluindo o do usuário root, pode ser lido por outros usuários. Dá para tornar os diretórios home particulares, mas achei esquisita essa configuração que vem como padrão.

Criar contas de usuário novas em um sistema FreeBSD é bem simples. O administrador do sistema usa o comando “adduser” e responde a algumas perguntas básicas sobre o novo usuário. A maioria dessas perguntas oferece padrões razoáveis, tornando o processo rápido. A remoção de usuários também é simples. O administrador pode se livrar de usuários indesejáveis, ou pelo menos se livrar de suas contas, com o comando “rmuser” seguido pelo nome de login. A operação é bem segura, já que a ferramenta confirma a operação antes de apagar qualquer coisa.

Pacotes de software

O núcleo do sistema FreeBSD pode ser muito ampliado, graças à coleção de Ports. O sistema de Ports é uma vasta biblioteca de software que (para o usuário final) age de forma semelhante aos repositórios do Linux. No momento, há mais de 18.000 pacotes de software na coleção de Ports do FreeBSD, o que permite ao sistema operacional assumir qualquer função que o administrador do sistema desejar. Novos pacotes binários podem ser instalados, executando o comando “pkg_add” e fornecendo o nome do pacote desejado. Se não tiver certeza do nome do pacote, uma lista completa pode ser encontrada no site do FreeBSD. O comando “pkg_add” é simples de usar e muito poderoso, cuidando inclusive das dependências. Os pacotes indesejáveis podem ser removidos usando uma ferramenta auxiliar chamada “pkg_delete”. As duas ferramentas trabalharam com muita rapidez no meu computador. Minha única reclamação sobre o pkg_add é que o progresso do download não é exibido, mesmo quando o programa é executado em modo verbose. Ao baixar pacotes grandes, eu sempre fico na dúvida se o pacote ainda está sendo baixado ou se o download parou.

Obviamente, é importante manter o software atualizado regularmente. Para isso existe a ferramenta “freebsd-update”. Com ela fica fácil baixar e instalar atualizações para o sistema operacional básico. Caso uma atualização tenha efeitos indesejáveis, o freebsd-update pode desfazer atualizações recentes, restaurando o sistema ao seu estado anterior. Quando uma versão do FreeBSD se aproxima do fim do ciclo de suporte, a ferramenta de atualização avisa ao administrador e, caso ele deseje, atualiza o sistema para a próxima versão. Como a coleção de Ports é separada do núcleo do sistema do FreeBSD, ela conta com seu próprio mecanismo de atualização. Os usuários vindos do Linux podem demorar um pouco para se acostumar a essa diferença entre o sistema operacional principal e os Ports. Uma das ferramentas de atualização da coleção de Ports é o “portupgrade”. Há algumas maneiras de manter os aplicativos dos Ports atualizados, mas essa parece ser a mais fácil. Embora o conceito de ferramentas de atualização diferentes em um mesmo sistema seja estranho para quem não está acostumado, os aplicativos em si funcionam bem e de maneira semelhante às suas contrapartes no Linux.

O sistema operacional FreeBSD não consome muitos recursos. Com uma coleção completa de binários, o compilador, a documentação e o sistema de Ports, minha instalação exigiu 1 GB de disco, além do espaço para swap. No total, um sistema recém instalado usa por volta de 60 MB de RAM. O sistema é leve, e a linha de comando responde bem. Em vários momentos da semana, quatro usuários fizeram login simultaneamente, baixaram pacotes, testaram os serviços de rede, usaram o compilador ou procuraram por arquivos. Em nenhuma situação o sistema ficou lento ou deu qualquer sinal de estar sendo usado por outras pessoas.

O sistema de arquivos ZFS foi incluído no FreeBSD 8.0; já tive boas experiências com ele no passado e sei que funciona bem. No entanto, meu pequeno servidor não tem os recursos necessários para a realização de experiências apropriadas com ele. Em sistemas que tenham RAM e espaço em disco suficientes para justificar seu uso, eu recomendo fortemente uma olhadinha na implementação do ZFS do FreeBSD, nem que seja só pelo recurso de snapshot. Poder restaurar arquivos sem recorrer a mídia de backup independente pode poupar um tempo enorme.

Um servidor não seria muito útil sem alguns serviços de rede em execução, e por isso eu baixei alguns com o gerenciador de pacotes pkg_add. O primeiro serviço que eu instalei foi o servidor FTP bftpd. Botar o serviço para rodar foi bem simples. Copiei o arquivo de configuração de exemplo para o diretório /etc e executei o bftpd. Surgiu um erro avisando que não havia sido possível criar um arquivo de log. Descobri que o diretório que deveria abrigar o arquivo de log não existia. Criei o diretório, rodei o bftpd de novo e voilà, servidor FTP funcionando. A próxima etapa foi baixar o servidor web dhttpd. Também foi simples fazê-lo funcionar, e eu só tive que rodar o comando dhttpd. Isso me proporcionou um servidor web sem conteúdo algum. Criei alguns arquivos HTML e confirmei que o servidor web estava funcionando. Como o instalador do sistema já havia configurado o OpenSSH para mim, a máquina estava rodando três serviços de rede. Todos eles funcionaram sem apresentar problema algum até agora.

É útil poder oferecer serviços de rede ao mundo, e também é bom poder escolher quem poderá acessar esses serviços. Com isso em mente, decidi configurar um firewall. O Guia do FreeBSD menciona três ferramentas diferentes (Packet Filter, IPFILTER e IPFIREWALL) que podem ser usadas para erguer um firewall. Todas parecem igualmente aptas para a tarefa, e escolhi a ferramenta IPFILTER, ou IPF, porque sua sintaxe me pareceu mais familiar. Para administradores com um firme domínio dos conceitos de um firewall, o IPF é bem direto. Não é fácil de usar ao ponto de ser só apontar e clicar, mas consegui configurar um filtro rapidamente com a ajuda da documentação do projeto.

Conclusão

No passado, eu me referi ao FreeBSD como estável e poderoso. A nova versão confirma essa reputação. Depois de passar uma semana instalando, configurando e usando a versão mais recente do FreeBSD, eu gostaria de acrescentar que trata-se de um sistema operacional muito maduro e bem acabado. Superficialmente, o sistema parece complexo e arcano, mas muita coisa foi feita para que cada etapa de cada tarefa seja tranquila para o administrador. Isso se deve em grande parte ao Guia do FreeBSD, mas também vale dar crédito às man pages, que ao contrário do que costumamos ver, são bastante claras. A saída, as mensagens de erro e os padrões da maioria dos comandos foram úteis, contribuindo para o jeitão amigável do sistema. Há várias pequenas surpresas para quem vem do Linux, geralmente pequenas diferenças em comandos e no layout do sistema de arquivos, mas nada de muito significante. A verdade é que os diretórios do FreeBSD são claros e bem organizados. Visitei os fóruns do projeto em vários momentos da semana, e sempre encontrei um integrante amistoso da comunidade disposto a me ajudar. A versão 8.0 do sistema operacional FreeBSD é rápida, amigável, bem acabada e sólida; recomendo fortemente seu uso a todos os interessados em configurar seus próprios servidores.

tela

Desktop padrão do FreeBSD 8.0, com KDE 4.3.4

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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