O possível fim do Celeron

O possível fim do Celeron

O Celeron surgiu originalmente como uma versão castrada do Pentium II, que era vendida sem os chips de cache L2 e sem o encapsulamento externo:

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O desempenho do Celeron original era muito ruim, mas ele foi logo substituído pelo Celeron Mendocino, uma espécie de prévia do Pentium III, que oferecia 128 KB de cache Integrado full-speed. Com menos cache, ele era naturalmente um pouco mais lento que as versões mais caras do Pentium II e do Pentium III, mas o fato de ele ser muito mais barato e oferecer boas margens de overclock (facilitado pelo uso do FSB de 66 MHz) fizeram com que o Celeron se tornasse uma verdadeira sensação entre o público técnico.

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A partir daí, o Celeron continuou presente em quase todas as linhas de processadores da Intel, sempre como uma versão castrada de algum processador mais caro, fosse com menos cache L2, com parte dos núcleos ou o gerenciamento de energia desativado, ou ambas as coisas combinadas, mas oferecendo em troca um preço baixo e boas margens de overclock. Esta presença constante do Celeron foi um dos grandes motivos da Intel não ter perdido uma fatia maior do mercado de PCs de baixo custo para a AMD, apesar da Investida do Sempron e das versões mais baratas do Athlon X2.

Com a Introdução da plataforma Core, o Celeron perdeu muito de seu charme, já que foi parcialmente substituído pelo Pentium E, que oferecia dois cores, mais cache e suporte ao EIST a um preço pouca coisa mais alto. O Celeron (representado então pela família 4xx) passou a ser então visto como um chip desajeitado, que oferecia um desempenho ruim e desperdiçava muita energia devido à desativação em fábrica do sistema de gerenciamento de energia.

Estes fatores faziam com que mesmo o overclock no Celeron deixasse de ser atraente, já que operando a uma frequência mais alta, ele só fazia desperdiçar mais energia. O Pentium E (combinado com o Phenom X3) se tornou o novo pé-de-boi de quem queria um bom desempenho (via grandes overclocks) sem gastar muito e o Celeron se tornou apenas uma vala comum para os desavisados que queriam um PC apenas para falar no MSN e acessar o Orkut.

As coisas mudaram um pouco com o Celeron E1xxx, que se tornou uma espécie de “Pentium E de pobre”, oferecendo dois cores e basicamente os mesmos recursos, porém com menos cache e um preço também mais baixo. Eles restauraram a dignidade do processador, fazendo com que ele voltasse a ser uma opção aceitável.

Como de praxe, eles nada mais eram do que versões castradas do Pentium E com core Allendale (de 65 nm), com apenas 512 KB de cache L2, compartilhados entre os dois núcleos. Diferente dos Celerons 4xx, eles oferecem suporte ao EIST, o que os torna processadores bem mais eficientes. Entretanto, a pouca quantidade de cache anula grande parte dos ganhos oferecidos pelo segundo núcleo. Ele foi lançado em quatro versões, mudando apenas o clock:

Celeron E1600: 2.4 GHz, 512 KB, bus de 800 MHz, LGA-775, dual-core
Celeron E1500: 2.2 GHz, 512 KB, bus de 800 MHz, LGA-775, dual-core
Celeron E1400: 2.0 GHz, 512 KB, bus de 800 MHz, LGA-775, dual-core
Celeron E1200: 1.6 GHz, 512 KB, bus de 800 MHz, LGA-775, dual-core

Curiosamente, a Intel vendeu todas as versões pelo mesmo preço, US$ 53, que era o preço de venda do Celeron 450 na época do lançamento. Ao lançar o E1200, a Intel descontinuou o Celeron 450, ao lançar o E1400 ela descontinuou o E1200 e assim por diante. Essa rápida sucessão fez com que os diferentes modelos do Celeron 4xx e E1xx fossem vendidos por preços muito similares por diferentes vendedores, de acordo com os lotes comprados por cada um.

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Em 2009, a transição para os 45 nm chegou ao Celeron, com o lançamento da série E3xxx, composta por modelos com 1 MB de cache L2, baseados no Wolfdale-3M. Apesar do pouco cache, eles são processadores bem mais equilibrados, com suporte ao EIST, EM64T e ao Intel-VT. Basicamente, um Celeron E3xxx é um meio Core 2 Quad Q7xxx:

Celeron E3400: 2.6 GHz, 1 MB, bus de 800 MHz, LGA-775, dual-core
Celeron E3300: 2.5 GHz, 1 MB, bus de 800 MHz, LGA-775, dual-core
Celeron E3200: 2.4 GHz, 1 MB, bus de 800 MHz, LGA-775, dual-core

O E3200 entrou para a história como o processador com preço de lançamento mais baixo na história da Intel, custando apenas US$ 43 em lotes de 1000. O E3300 por sua vez substituiu o E1600, mantendo o preço tabelado de US$ 53. Com o lançamento das novas versões, muitas lojas passaram a oferecer os modelos da série E1xxx por preços bem mais baixos.

Em termos de desempenho, não existe comparação entre o desempenho dos Celerons E3xxx e os antigos Celerons 4xx, já que além de serem dual-core, eles possuem mais cache. Ao comparar processadores com grandes caches L2, como os Core 2 Duo E8xxx e os E7xxx, a diferença de desempenho é muitas vezes bem pequena, já que mesmo possuindo apenas metade do cache dos E8xxx, os Core 2 Duo E7xxx ainda conservam 3 MB, que são mais do que suficientes para a maioria dos aplicativos.

Apesar das melhorias, o Celeron continuou a ser o processador mais lento dentro da linha da Intel, usado mais como uma forma de vender chips com defeitos localizados (que são transformados em Celerons através da desativação seletiva de componentes) do que como uma fonte real de lucros. O Celeron passou a ser visto como um “mal necessário” pelos executivos da Intel, que só não o descontinuaram devido ao receio de perder terreno para o Sempron no mercado de PCs de baixo custo.

Entretanto, mesmo esse essa humilde posição entrou em cheque com a introdução do Core i3, que assumiu o posto de processador de baixo custo dentro da linha da Intel, servindo como entrada para os Core i5 e Core i7. O Pentium G9xxx baseado no Clarkdale (com vídeo integrado) passou a ser o novo pé de boi, complementado pelas sobras de estoque dos Core 2 Duo e Pentium E, que continuaram a ser vendidos.

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Ao mesmo tempo em que o Core i3 e o Pentium G9xxx atacam de cima, o Atom dual-core passou a atacar de baixo, invadindo o mercado de desktops na forma dos nettops e de placas mini-ITX de baixo-custo com processador integrado, atendendo ao público que quer apenas um PC compacto e/ou de baixo-custo.

Com toda esta redundância dentro da linha da Intel, a posição do Celeron se tornou cada vez mais incerta. Naturalmente, não existe nenhuma dificuldade técnica para a Intel em criar uma versão do Celeron baseada no Clarkdale, já que há muito tempo a linha Celeron é composta por chips castrados, vindos das linhas de produção das linhas mais caras.

De fato, a Intel já ensaiou o lançamento de uma versão do Celeron de 32 nm, o Celeron G1101, que oferece dois núcleos e 2 MB de cache L2 (porém sem suporte ao Hyper Threading e outras limitações), que passou a ser vendido em quantidades limitadas para integradores:

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Entretanto, é difícil imaginar que esta nova linha continue por muito tempo, já que o Pentium G9xxx já é vendido a um custo baixo (dentro do padrão da Intel) e eles agora oferecem o Atom como opção para quem quer apenas um processador o mais barato possível.

Isso explica a relutância da Intel em vender o Celeron G em quantidade, já que correm o risco de ver ele atrapalhar as vendas, uma vez que ele é muito mais caro de produzir que o Atom e tem que ser vendido mais barato que o Pentium G9xxx, uma combinação de fatores aos quais os executivos da Intel têm alergia. A solução natural seria descontinuar silenciosamente o Celeron e tentar alavancar as vendas do Atom dual-core, oferecendo-o como uma espécie de sucessor espiritual da linha, uma manobra que pode vir a ser anunciada nos próximos meses.

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