Divagações sobre o crescimento dos tablets

Divagações sobre o crescimento dos tablets

Caminhando pelo salão de embarque de qualquer aeroporto, ou mesmo por parques em bairros de classe média alta você notará um fenômeno interessante: existem cada vez mais pessoas carregando e usando tablets, muitas vezes até para tarefas aparentemente ridículas, como tentar tirar fotos usando um. O número de adeptos dos tablets vem crescendo e rapidamente está se tornando mais comum ver alguém usando um tablet em público do que um notebook.

Por um lado, existe o fator modismo. Muitos destes novos usuários estão simplesmente tentando encontrar usos para seus novos brinquedos, seguindo tendências ditadas pela mídia. Outros entretanto estão realmente utilizando os tablets (em alguns casos até mesmo para tarefas úteis!), muitas vezes em situações em que não seria viável utilizar um notebook. Outro fator importante é que (com exceção dos tablets da China e alguns tablets de baixo custo nacionais, que crescem entre a população de baixa renda), a maioria destes novos usuários de tablets já possuem um PC desktop e/ou um notebook e também um smartphone. Em outras palavras, o tablet pareceu atrativo o suficiente para que a pessoa investisse em um terceiro dispositivo, que essencialmente faz o que os outros dois anteriores também fazem. Vamos então a algumas considerações sobre o que os tablets andam fazendo de certo e quais são as perspectivas para o futuro da plataforma.

Formato: De certa forma, podemos dizer que a humanidade está habituada ao uso de tablets desde a antiguidade. Dos tabletes de barro aos cadernos e pranchetas, todos oferecem uma experiência de uso similar à dos tablets, seja segurados em usa das mãos ou apoiados sobre uma mesa. Com isso, manusear um tablet soa mais familiar para a maioria das pessoas do que um notebook, por exemplo. Isso explica a atratividade dos tablets para a população em geral, que não tem muita familiaridade com a tecnologia.

Não apenas eles são fáceis de carregar, mas podem ser tanto segurados com uma das mãos, quanto apoiados sobre o colo ou sobre uma mesa, o que torna o uso possível na maioria das situações, de filas a reuniões.

Tempo de “set-up”: Mesmo que você coloque o notebook para dormir, são necessários alguns segundos até que você possa efetivamente começar a usá-lo, já que você precisa tirá-lo da bolsa, acomodá-lo em algum lugar, abrir a tampa, esperar o sistema acordar e assim por diante. Isso faz com que você acabe pensando duas vezes antes de usá-lo. Os tablets por sua vez estão sempre prontos para o uso, o que acaba fazendo com que sejam utilizados mais vezes em intervalos curtos. Este é um dos principais motivos de vermos tantas pessoas usando tablets, muito embora o total de unidades vendidas no Brasil seja ainda relativamente modesto.

Consumo x produção de mídia: PCs e notebooks podem ser considerados dispositivos mistos, que permitem tanto produzir quanto consumir mídia. Entretanto, eles acabam sendo mais adequados para a primeira tarefa, especialmente no caso dos desktops. Poucos topariam assistir um filme completo, ou passar muito tempo ouvindo música sentados na frente de um desktop. Os notebooks e netbooks são mais flexíveis, mas mesmo eles possuem suas limitações, sendo pouco confortáveis de usar quando se está deitado por exemplo.

Os tablets por outro lado são muito ruins para tarefas de produção (mesmo digitar e-mails usando o teclado virtual acaba sendo demorado), mas por outro lado são muito práticos como dispositivos de consumo de mídia, permitindo assistir confortavelmente vídeos, ler páginas longas, e-books, e assim por diante. Tipicamente, usuários de tablets os usam para tarefas como acessar páginas, ler o facebook, assistir vídeos, fazer video-conferência, etc. tarefas que já executavam (e que muitas vezes continuam executando) também no PC ou notebook, mas apreciam a liberdade de movimento oferecida pelo tablet.

O fato de o tablet ser deficitário na hora de escrever e carecer de aplicativos de produtividade também acaba sendo um fator tranquilizador para workaholics em geral, que podem usá-los nos momentos de lazer sem acabarem se envolvendo de novo com o trabalho como acabaria acontecendo caso estivessem usando um PC.

É precisamente o fato de não servirem bem para a produção de conteúdo que faz com que os tablets não substituam os PCs, já que mesmo tablets conversíveis, como o Asus Transformer acabam sendo desconfortáveis na hora de escrever (teclado pequeno, inadequação ou ausência do touchpad, etc.), carecem de aplicativos de produtividade e apresentam um desempenho ruim na hora de rodar muitos aplicativos simultâneamente e manter muitas páginas abertas simultâneamente, não muito diferente do que temos no caso dos netbooks com o Atom.

Preço: Os tablets flutuam em uma faia muito grande de preços, fazendo com que atendam a públicos bem diferentes. De um lado temos os tablets Chineses, que oferecem uma experiência muito ruim de uso (tela resistiva, processadores lentos, construção barata, bugs de software, etc.) mas por outro custam muitas vezes abaixo dos US$ 100, e no outro extremo tablets high-end, que oferecem uma qualidade muito melhor, mas custam de 400 a 550 dólares, em muitos casos beirando a casa dos R$ 2000 por aqui.

Tablets mais caros são tipicamente comprados por quem já tem um PC e/ou notebook e quer apenas um dispositivo mais portátil que possa usar enquanto está em trânsito ou nos momentos de lazer. Modelos com 3G integrado são preferidos, já que o uso de e-mail, facebook, twiter e outras mídias de comunicação prevalesce. No caso dos tablets mais baratos, o uso varia muito, indo desde usuários que compram por impulso e acabam largando o tablet em algum canto depois de poucos dias, até usuários que os usam intensivamente para ler e-books, assistir vídeos (a maioria dos modelos atuais suportam decodificação de vídeo via hardware, permitindo assistir vídeos H.264 mesmo que o processador seja fraco), navegar na web e tudo mais.

Os notebooks e netbooks por sua vez oferecem faixas de preço mais previsíveis, a partir dos US$ 400 no caso dos notebooks e US$ 200 no caso dos netbooks. Com exceção dos tablets da China, a maioria dos tablets são mais caros que os netbooks, e esta é uma tendência que deve se manter, já que embora tenham menos componentes, os tablets usam uma construção mais cara, com custos de desenvolvimento maiores, telas mais caras e um nível de miniaturização muito maior. Em 2012 teremos o lançamento de vários modelos de tablets na casa dos US$ 300 a 400, mas por outro lado os netbooks cairão para casa dos US$ 200 a 300. Em outras palavras, por mais que os tablets cresçam, os netbooks continuarão a ser populares.

Tablets x smartphones: Além dos PCs, os tablets enfrentam concorrência dos smartphones, que oferecem basicamente os mesmos recursos em um formato mais portável. A grande vantagem no caso dos tablets é o tamanho da tela, que torna a navegação e o consumo de mídia muito mais agradável. Com os smartphones crescendo e adotando telas de 4.3″ a 5″, os tablets tendem a oferecem telas de 9″ a 10″, já que tablets com telas de 7″ ficam perigosamente próximos dos smartphones. Casos de pessoas carregando tanto um smartphone quanto um tablet continuarão a ser comuns, por mais redundante que a combinação possa parecer.

Unidade: Em resumo, os tablets não substituirão os PCs, os notebooks e nem mesmo os netbooks, mas por outro lado eles são uma tecnologia que veio para ficar. Muito se especulou ao longo das últimas décadas sobre dispositivos que oferecessem a flexibilidade de uso dos tablets e o formato definitivo está finalmente entre nós. Com exceção dos que se sentirem confortáveis fazendo todas essas tarefas em um smartphone, a grande maioria de nós vai acabar adquirindo um tablet em algum momento.

A linha divisória entre os notebooks e os tablets também tende a diminuir com o tempo, especialmente depois da introdução do Windows 8, que permitirá que o mesmo sistema operacional seja usado em PCs e tablets. Mesmo no mundo Linux podemos notar mudanças nesse sentido, com o Ubuntu por exemplo adotando o Unity, que nada mais é do que uma tentativa de preparar o sistema para a era dos tablets, tentando oferecer uma interface que funcione tanto com o teclado e mouse quanto com uma tela touch-screen. Notebooks com teclados destacáveis e tablets com docks se tornarão cada vez mais comuns.


 

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