Cinco grandes distribuições Linux que não sobreviveram

Cinco grandes distribuições Linux que não sobreviveram

Gone But Not Forgotten: Five Great Linux Distributions That Did Not Survive
Autor original: Caitlyn Martin
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

Se você deu uma olhada no DistroWatch nos últimos cinco ou seis dias, deve ter visto vários anúncios de distribuições Linux conhecidas. É provável que você também tenha visto alguns nomes que não conhecia, caso ainda seja meio novato no Linux. No momento, o banco de dados do DistroWatch contém 278 distribuições que foram descontinuadas, e há mais 36 listadas como inativas. Dessas 314 distribuições e incontáveis outras que nunca chegaram a ser listadas no DistroWatch, muitas não devem mesmo ser lembradas. Outras eram promissoras, mas por um motivo ou outro acabaram abandonadas. Um número menor delas era realmente excepcional, mas ainda assim não conseguiu sobreviver. Nesta semana, decidi me deixar levar pela nostalgia e dar uma olhada em cinco distros que me pareceram especiais em certos momentos. Obviamente, a lista é baseada na minha própria experiência. Se você já usa Linux há um bom tempo, talvez tenha sua própria lista.

1. Caldera OpenLinux

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O Caldera OpenLinux (originalmente Caldera Network Desktop) foi lançado em 1994 por ex-funcionários da Novell depois que a empresa mandou para o limbo seu projeto para desktops, o Corsair. A versão 1.0 foi lançada no ano seguinte. Lá pelo fim dos anos 90, o Caldera era considerado uma das maiores distribuições Linux. O texto a seguir foi extraído de um obituário da distro que Ladislav escreveu para o LWN.net em 2003: “Há quatro anos, o Caldera produziu uma das melhores distribuições Linux de todos os tempos, conquistou uma fatia de mercado respeitável e estabeleceu uma vasta presença internacional. […] O Caldera OpenLinux 2.3 [lançado] em agosto de 1999 […] causou um impacto expressivo no mercado Linux ao apresentar o Lizard. O Lizard do Caldera foi o primeiro instalador gráfico a acompanhar uma distribuição Linux. O OpenLinux 2.3, e especialmente o OpenLinux eDesktop 2.4, foram muito bem recebidos pelos fãs do Linux.”

O Caldera OpenLinux também incluiu o COAS, uma das primeiras e, na época, sem dúvida a melhor ferramenta gráfica integrada de administração e configuração. O OpenLinux também tinha um desktop KDE bem acabado, em uma época em que muitas distribuições populares ainda tinham muitas pontas soltas. O artigo da Wikipédia sobre a distro deixa clara a importância do Caldera OpenLinux para o desenvolvimento do desktop Linux atual: “O OpenLinux não foi o ‘exterminador da Microsoft’, mas mostrou à comunidade Linux o que era necessário para a criação de um sistema operacional de destaque para os desktops com o kernel do Linux. De muitas formas, os últimos dez anos de progressos no desktop consistiram na implementação bem-sucedida do que o Caldera tentava fazer com as ferramentas que possuía. […] Era uma distribuição poderosa e com poucos bugs (para os padrões do Linux) que funcionava bem em uma boa variedade de hardware.”

O Caldera OpenLinux foi a terceira distribuição que eu experimentei, depois do Red Hat e do Slackware. O Caldera era tão poderoso quanto as outras, mas admiravelmente fácil de usar e de ensinar para novatos no Linux. Quando eu comecei a trabalhar com Linux como freelancer em 1999, o Caldera OpenLinux era a minha distribuição favorita. Ele era bom mesmo.

Embora o OpenLinux tenha obtido êxito em termos de popularidade na comunidade Linux, ele falhou miseravelmente enquanto negócio. Vários modelos de negócios diferentes tentaram fazer o Caldera dar lucro, mas nenhum deles teve sucesso. Em 2001, o Caldera anunciou um novo modelo de licenciamento por usuário. Embora a versão básica de desktop do OpenLinux 3.1 continuasse livre para download para uso não comercial, a nova licença gerou pesadas críticas. Richard Stallman disse: “O licenciamento por usuário perverte o sistema GNU/Linux, transformando-o em algo que respeita sua liberdade tanto quanto o Windows.”

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Caldera OpenLinux 3.1.1, lançado em 30 de janeiro de 2002

A maioria dos leitores que usa Linux há algum tempo já sabe o que aconteceu depois. O Caldera comprou o DR-DOS da Novell e processou a Microsoft, conseguindo um bom dinheiro em um acordo. Esse dinheiro foi usado, em parte, na compra da SCO (que na época era uma empresa de UNIX bem sucedida) e na contratação de uma nova gerência. A lição aprendida com o caso do DR-DOS foi a de que provavelmente dava mais lucro envolver-se em litígio do que produzir uma distribuição Linux. A SCO Linux, sucessora do Caldera, foi descontinuada em 2003. O anúncio de Ladislav na época refletiu a raiva e o desgosto que boa parte da comunidade Linux sentiu.

Levando-se em conta tudo o que aconteceu com a SCO, seria fácil dizer “já vai tarde”. Mas para aqueles dentre nós que se lembram do quanto o Caldera contribuiu para o desenvolvimento do desktop Linux, as coisas não são tão simples. Os desenvolvedores que fizeram do Caldera OpenLinux uma distribuição líder no fim dos anos 90 não tinham nenhuma relação com a gerência que acabou destruindo a distro e a empresa junto.

2. Storm Linux

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Ao mesmo tempo em que o Caldera OpenLinux alcançava o topo da popularidade, uma startup de Vancouver, no Canadá, a Stormix Technologies, apresentava uma nova distribuição chamada Storm Linux. No fim dos anos 90, o Debian GNU/Linux já estava bem estabelecido, mas tinha a reputação de ser difícil de instalar e usar. Quase cinco anos antes de Mark Shuttleworth lançar o Ubuntu, o Storm Linux trouxe aos usuários a primeira distribuição baseada no Debian feita para ser fácil de usar no desktop, lançando novas versões regularmente (e com frequência). O Storm também incluía uma ferramenta gráfica e modular de administração do sistema, o SAS ou Storm Administration System.

O Storm Linux foi muito bem recebido pela comunidade Linux. Eu consegui uma cópia do Storm Linux 2000, baseado no Debian Potato, em uma das revistas sobre Linux que eu assinava. Foi a primeira distribuição baseada no Debian que eu experimentei e gostei. Era para o Storm Linux ter tido êxito, mas ao contrário do que aconteceu com o Ubuntu, faltaram fundos. Menos de dois anos depois do lançamento da Stormix Technologies, a empresa passou por uma “reorganização“, ou seja, faliu. Menos de três meses depois, os funcionários remanescentes foram demitidos e a distro chegou ao fim. A queda do Storm Linux foi a primeiríssima notícia dada no DistroWatch.

3. TurboLinux Lite

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O distribuidor japonês TurboLinux continua muito vivo, e tem uma distribuição comercial para uso corporativo. É pena que o TurboLinux Lite, uma versão livre feita para ser leve, tenha durado tão pouco tempo. Ele foi apresentado no segundo trimestre de 1999, na versão 2.0.

Em agosto de 1999, o TurboLinux 4.0 oferecia um desktop GNOME. O TurboLinux Lite usava um ambiente para desktop padrão baseado no gerenciador de janelas AfterStep, e oferecia aplicativos mais leves. Foi a primeira distribuição que eu vi a ser desenvolvida especificamente para rodar em hardware mais antigo ou modesto. Era perfeito para minhas máquinas velhas, e ainda assim era fácil de usar e não lhe faltavam recursos. Fiquei impressionada. Sei que já faz tempo que a distro deixou de existir, mas o conceito de leveza e alta funcionalidade foi copiado de lá para cá por um grande número de distribuições. Infelizmente, o TurboLinux Lite não trazia lucros para a empresa, e foi encerrado no ano 2000.

4. Feather Linux

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O Feather Linux era uma minidistribuição britânica baseada no Knoppix. Ele ficava no meio do caminho entre o completíssimo Knoppix e o microscópico Damn Small Linux. Como o nome sugere, o Feather Linux (“Linux Pena”), era leve e rodava bem em hardware antigo.

Eu conheci o Feather Linux no final de 2003. Na época ele já era razoavelmente conhecido, e tinha uma boa cota de usuários. A iso ainda tinha menos de 50 MB na época, como o Damn Small Linux, mas cresceu rapidamente, chegando aos 120 MB na versão 0.7.5. Sem limitar o tamanho da iso de forma tão severa quanto o Damn Small Linux, os desenvolvedores do Feather Linux conseguiram oferecer aplicativos maiores e mais poderosos, e em maior variedade. Tudo isso sem abandonar o objetivo de manter a distro extremamente leve. Em 2005, eu descreveria o Feather Linux como a minidistro mais utilizável e completa das que estavam disponíveis na época. A distro era muito popular e tinha uma comunidade ativa ao seu redor.

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Feather Linux 0.5.8, lançado em 5 de setembro de 2004

No segundo trimestre de 2005, foi anunciada no fórum do Feather Linux uma mudança no time de desenvolvedores que lideravam o projeto. Veio uma nova versão, e falava-se na versão 0.8.0 naquele mesmo ano. Infelizmente, isso nunca aconteceu. O Feather Linux ainda é listado com “inativo” no DistroWatch, mas já se passaram quatro anos sem novas versões, e é provável que o Feather tenha sido descontinuado.

5. AliXe

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Quando ficou claro que o desenvolvimento do Feather Linux havia parado eu mudei para distros live CD baseadas no Slackware. Essas distros tinham um melhor desempenho no meu hardware antigo. Fiquei impressionada com o design do Slax, mas o desktop KDE era mais pesado do que eu desejava. Em 2006, o Slax deu origem a várias distribuições derivadas. As duas que mais me impressionaram tinham desktops Xfce e IceWM, respectivamente, e conseguiam incluir mais aplicativos e ter um melhor desempenho em uma iso pequena. A primeira era o Wolvix Cub. A segunda, o AliXe.

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O AliXe 0.09 “ICE”, lançado em 20 de novembro de 2006

O AliXe era um projeto-solo da desenvolvedora canadense Sylvie Migneault (conhecida como Alisou), que tinha o objetivo de promover o Linux na comunidade de língua francesa de Quebec. A distro bilíngue (inglês e francês) ia bem além desse objetivo. Embora a iso fosse relativamente pequena (um pouco abaixo dos 330 MB na versão 0.11b, com desktop Xfce), trazia um compilador gcc, e ferramentas de desenvolvimento que não costumavam aparecer em distros leves em live CDs. Isso, somado ao fato de que eu precisava dos dois idiomas, fez com que o AliXe parecesse o live CD ideal para mim, como ficou claro na análise bastante favorável que eu escrevi.

Desde o lançamento da versão 0.11b, em novembro de 2007, a desenvolvedora passou a trabalhar em outros projetos relacionados ao EeePC, dos quais o mais notável é o ZenEee. O AliXe ainda é listado como ativo no DistroWatch, mas o site não é mais atualizado e nem se fala no desenvolvimento de uma nova versão no blog Tuxee de Migneault. Aliás, o blog também deu uma parada nos últimos meses. Espero que Migneault esteja bem, e que decida dar continuidade ao AliXe no futuro. Como a distro já está inativa há dois anos, temo que seja o fim dela.

Conclusão

Sem dúvida, os leitores do DistroWatch vão se lembrar de outras distribuições Linux impressionantes que também foram descontinuadas. Como eu observei no início deste artigo, esta lista é pessoal e está longe de ser definitiva. O mais notável nessas cinco distribuições é o fato de terem conseguido inovar de alguma maneira. Na maioria dos casos, essas inovações tiveram continuidade em outras distros, e os avanços nas áreas em que se focavam continuam até hoje.

Créditos a Caitlyn Martindistrowatch.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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