Apresentando o Debian GNU/Linux 6.0

Apresentando o Debian GNU/Linux 6.0
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Introducing Debian GNU/Linux 6.0

Autor original: Jesse Smith

Publicado originalmente no: distrowatch.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

Logotipo do DebianEu e o Debian temos uma relação meio incomum: eu respeito o trabalho da equipe do Debian, admiro sua enorme estrutura de pacotes, a infraestrutura, a coordenação e o processo de testes que fazem parte do projeto. Muitas vezes eu me pego usando um filho ou neto do Debian no meu trabalho, ou nos computadores aqui de casa. Já trabalhei com alguns desenvolvedores do Debian na correção e na atualização de pacotes, e posso dizer que são ótimas pessoas, sempre dispostas a ajudar. Sim, tem um “mas” a caminho. Mas, até agora, eu nunca consegui instalar uma versão estável do Debian no meu hardware para uso cotidiano. Sempre que sai uma nova versão eu baixo, boto para rodar e o instalador trava em algum ponto, ou o sistema não inicia, ou então algum componente importante não é reconhecido. É uma coisa intrigante, porque muitas outras distros funcionam no mesmo equipamento, incluindo projetos baseados no Debian como o KNOPPIX ou o Ubuntu. Com o lançamento do Debian 6.0 eu tive a esperança de que essa maré de azar acabasse.

O Debian GNU/Linux 6.0 “Squeeze” contém aproximadamente 29 mil pacotes de software, e ocupa vários CDs e DVDs. Mas não é preciso ter todos os discos para instalar o Debian, basta o primeiro. Usuários com internet rápida e confiável podem baixar os pequenos CDs de instalação via rede. O projeto também mantém uma lista de fornecedores de CDs para quem tem conexão lenta ou quer contribuir financeiramente com o projeto Debian. Eu optei por baixar o Debian em um DVD, uma ISO pesada de 4,4 GB. Enquanto esperava o download ser concluído, aproveitei a oportunidade para dar uma olhada no novo site do projeto. O Debian era criticado por ter um site que parecia ter sido desenvolvido para o navegador web Lynx. O novo design continua favorecendo bastante as colunas de texto negro sobre um fundo branco simples, mas o layout foi bastante melhorado. A navegação é muito mais intuitiva, e o mapa do site na parte inferior da tela torna o acesso às informações mais rápido. O site ainda é voltado para desenvolvedores e entusiastas do Linux, e a documentação presume alguma experiência com o sistema do pinguim.

Nas notas de versão nós podemos notar que, além de um monte de novos pacotes, algumas mudanças internas importantes foram feitas desde a última versão estável do projeto. Por exemplo, não há mais suporte às arquiteturas HP PA-RISC, Alpha e ARM. O subprojeto de adaptação das ferramentas GNU para o kernel do FreeBSD agora é parte oficial da distro. Como ficamos sabendo há algumas semanas, a equipe do Debian migrou firmware presente no kernel do Linux para seu repositório de pacotes que não são livres. Isso quer dizer que o firmware não vem instalado; quem precisar vai ter que baixar e instalar depois. O “Squeeze” também tem suporte à autenticação LDAP.

Instalação e primeira inicialização

Mas chega desses detalhes dos bastidores, vamos ver como o Debian “Squeeze”, o “sistema operacional universal”, funciona. O DVD de instalação começa nos apresentando a um menu de inicialização, por onde podemos iniciar um instalador em modo texto ou um instalador gráfico, realizar uma instalação avançada, executar uma instalação automatizada ou entra em modo de recuperação. Como estou analisando o Debian enquanto distro para desktops, escolhi o instalador gráfico. Ele usa um layout simples, que de modo geral solicita uma informação por página. O visual é meio cru, como o do instalador do Red Hat de dez anos atrás. Temos a escolha do idioma, onde selecionamos nossa localização e o layout do teclado. Entramos com um nome de host e um nome de rede. Depois, informamos a senha de root e passeamos por algumas telas para a criação de uma conta de usuário comum.

O instalador pergunta o fuso horário, e felizmente as opções já são exibidas de acordo com o local que escolhemos antes. A seguir vem o particionamento do disco, e aqui o instalador do Debian se destaca com um estilo próprio. O usuário pode particionar o disco manualmente ou deixar que o instalador o conduza pela criação de partições simples, de um layout do LVM ou por um layout do LVM criptografado. Tentei tanto as opções de particionamento conduzido quanto manual, e as duas se mostraram funcionais, embora um pouco esquisitas. Enquanto os instaladores do Fedora e do Ubuntu usam uma tela para o layout do particionamento e uma janela pop-up para a configuração de uma partição específica, o Debian usa várias telas para conduzir o usuário pelas opções de cada partição. Isso torna o particionamento manual mais longo do que deveria ser. Porém, como eu já disse, o sistema funciona, e há uma ampla variedade de tipos de partições Linux oferecidas.

Com o disco particionado, o instalador copiar o sistema básico do DVD para o HD. Ao fim do processo, ele pergunta se vamos usar mais discos. No caso, não. Outra pergunta: vamos usar repositórios online durante a instalação para ter os pacotes mais atualizados? Respondi “não”, mas mesmo assim tive que esperar enquanto o instalador tentava se conectar a diversos repositórios do Debian, até finalmente exibir uma mensagem de erro dizendo que o repositório Volatile não estava disponível. Depois o instalador pergunta se queremos enviar informações sobre a popularidade dos pacotes ao projeto Debian. Escolhi “não” de novo, e mais uma vez tive que esperar enquanto o sistema me avisava que estava instalando o software de popularidade (conferi depois da instalação, e o software de popularidade não foi instalado). As duas últimas etapas foram a seleção dos grupos de pacotes que eu gostaria de instalar, a maioria para servidores. Escolhi o pacote de ambiente de desktop gráfico e, no laptop, um grupo de pacotes chamado apenas de “Laptop”. A última etapa é a confirmação de que queremos instalar o GRUB. A instalação de software para o desktop levou meia hora. Encerrado o processo, fui instruído a remover o DVD e reiniciar o computador.

Na primeira inicialização, surgiu o menu de inicialização do GRUB 2. Em seguida, o Debian começou a carregar. O processo de inicialização foi curto, e me levou até uma tela gráfica de login. O único ambiente de desktop instalado é o GNOME (versão 2.30). Fiz o login e me deparei com uma tela com uns poucos ícones para navegação e uma barra de menus no topo. O alternador de tarefas do GNOME fica na parte inferior, e o papel de parede retrata um céu escuro e estrelado. O tema dos menus e dos ícones é simples, e faz o desktop parecer mais velho do que realmente é. Uma das primeiras coisas que eu fiz foi abrir o gerenciador de pacotes Synaptic (vamos falar no gerenciamento de pacotes já já) e tentar atualizar a lista de pacotes. O Synaptic exibiu uma mensagem de erro, informando que não conseguiu atualizar minha lista de pacotes e que eu deveria inserir o DVD 1. Pelo visto o instalador deixa o disco de instalação como fonte de pacotes, e o APT não funciona se o disco for removido. Depois de remover manualmente o disco da lista de fontes, o Synaptic conseguiu se conectar aos mirrors do Debian para atualizar minha lista de programas disponíveis.

Baixando atualizações após a instalação

Baixando atualizações após a instalação

Gerenciamento de software e pacotes

O Debian tem uma vasta seleção de programa em seus repositórios, mas a instalação padrão é bem comum. O Epiphany é o navegador web padrão da distro, e o Iceweasel 3.5.16 (o Firefox sem marca do Debian) também está disponível. Temos o cliente de email Evolution, o cliente para mensagens instantâneas Empathy e o software para ligações telefônicas Ekiga. O OpenOffice 3.2 vem instalado, assim como o GIMP e o cliente BitTorrent Transmission. O gerenciador de fotos Shotwell vem incluído no menu de aplicativos, assim como o Tomboy para anotações e o habitual grupo de jogos do GNOME. Há um ripador de CDs, o player de música Rhythmbox, um player de vídeo e o aplicativo para webcams Cheese. O Debian inclui algumas ferramentas de acessibilidade, incluindo um teclado na tela e um leitor de tela. O editor de configurações GConf também está incluído, e pode ser encontrado facilmente. Temos o habitual conjunto de ferramentas de configuração de ajuste da aparência do desktop, um gerenciador de usuários, um utilitário para lidar com serviços do sistema e um gerenciador de impressoras. Em segundo plano, o Debian oferece codecs para a reprodução de formatos de mídia populares, incluindo arquivos de áudio em MP3.

O Debian tenta oferecer aos usuários soluções estritamente baseadas em software livre, e dá para notar isso ao vermos a lista de programas disponíveis. Por exemplo, o “Squeeze” vem com o Gnash, e não com o Flash. Ele funciona em alguns sites, mas a versão incluída no Debian 6.0 não reproduz vídeos do YouTube. O Java do GNU também vem no lugar do Java da Sun/Oracle. Quem preferir as versões não livres do Flash e do Java vai encontrar os pacotes disponíveis nos repositórios do Debian. Se levarmos em conta o grande foco que o Debian tem em desenvolvedores, não é surpresa encontrarmos o GCC pré-instalado no sistema. Todos esses programas rodam sobre o kernel 2.6.32 do Linux. Ou, mais especificamente, sobre uma variação livre do kernel do Linux, já que houve a migração de firmware para o repositório não livre do Debian. Esses firmwares podem ser adicionados ao sistema por meio do pacote firmware-linux. Um dos poucos itens cuja ausência eu notei na instalação padrão foi um aplicativo gráfico de firewall. O Debian roda um serviço de MTA (agente de transferência de email) por padrão, e presumo que a maioria dos usuários de desktop não precisem disso.

Navegando na web e relatando bugs

Navegando na web e relatando bugs

Além da família APT de ferramentas de linha de comando, o Debian tem dois gerenciadores gráficos de pacotes, o Synaptic e a Central de Software. Que já usou alguma distribuição baseada no Debian já deve conhecer o Synaptic. Ele é um programa poderoso, que responde rápido e funciona muito bem. O visual do Synaptic e suas opções podem assustar os novatos, mas é para eles que existe a Central de Software. Este segundo gerenciador gráfico de pacotes tem uma abordagem simplificada, apresentando o software em categorias mais fáceis de entender, e restringindo as opções a instalar e remover. A Central de Software funciona muito bem, e eu não tive maiores problemas com ela. Quando eu fechava a Central de Software o ícone ficava na bandeja do sistema, me avisando que o aplicativo ia continuar trabalhando. Mas aí, quando eu clicava no ícone para exibir novamente a janela do programa, o Synaptic era iniciado. Acho que isso vai acabar confundindo as pessoas. Além dos principais gerenciadores de pacotes, também há uma pequena ferramenta de atualização. Até o momento da escrita deste artigo, nenhum pacote de atualização havia aparecido nos repositórios do Debian, portanto eu não consegui testar a ferramenta.

Hardware

Comecei minhas experiências com o “Squeeze” no meu laptop HP (CPU dual-core de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel). O sistema operacional se saiu bem no laptop, configurando a tela com uma resolução adequada. O áudio funcionou direitinho, e o touchpad foi detectado corretamente. Minha placa de rede sem fio Intel não foi detectada. No desktop (CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo da NVIDIA) eu senti que o sistema respondia um pouco melhor. Novamente, o sistema escolheu uma resolução apropriada para a tela, mas eu tive que mexer um pouco nos controles de áudio para que saísse som pelos alto-falantes. Nas duas máquinas o sistema carregou rápido e o desktop se mostrou bem ágil. Rodei o Debian em um ambiente virtual, e com 128 MB eu conseguia fazer login e executar funções básicas, embora o desktop tenha ficado um pouco lento. Para tarefas comuns, como navegar pela internet, ouvir música e escrever textos, 512 MB me pareceram adequados. Uma instalação do Debian a partir do DVD ocupa 3 GB de espaço em disco, o que foi um tanto curioso, porque a instalação padrão é menor do que a ISO que eu baixei.

Ao falarmos sobre o Debian e sobre o que ele apresenta, é importante separarmos a infraestrutura do Debian da distribuição. Com o “Squeeze” lançado, muita gente discute se o Debian é relevante diante de distribuições mais recentes como o Ubuntu e o Mint. É claro que projetos como o Ubuntu, o Knoppix, o MEPIS e muitos outros são baseados em pacotes do Debian. Ele é o pai (e o avô) de dezenas de distros ativas. Sem a infraestrutura do Debian, esses projetos nem existiriam, ou no mínimo seriam bem menos ricas. Eu acho que o Debian tem um dos melhores sistemas de acompanhamento de bugs do ecossistema de código aberto, que seus repositórios estão cheios de tesouros em software, e que ele conta com uma ótima documentação. O Debian tem uma abordagem aberta, e sua equipe tem um compromisso com o software livre e de código aberto.

Habilitando serviços e procurando software no Debian

Habilitando serviços e procurando software no Debian

Conclusões

E como o Debian 6.0 se saiu nos testes? Em um primeiro momento eu fiquei um pouco decepcionado. O instalador gráfico parece estar dez anos atrasado em relação às outras distros de renome. O problema do gerenciador de pacotes desistir depois de não encontrar o DVD não deveria ter sobrevivido à fase de testes. A maior parte do primeiro dia de testes teve uma série de pequenos problemas que eu esperava encontrar em software beta, mas não em uma distro que passou meses sem incluir novos recursos, só corrigindo bugs. E é por isso que esta análise está aparecendo bem depois do lançamento oficial da distro. A coisa começou mal, e eu quis dar à distro uma chance de me conquistar. Após alguns dias, as virtudes do Debian acabaram se destacando. Por exemplo, a implementação do GNOME é bem leve, deixando este ambiente de desktop que geralmente é meio pesadão mais ou menos no nível de um Xfce. O sistema é rápido e responde bem, inicia rápido e o software incluído é estável, sem estar muito defasado. Tirando os probleminhas iniciais com os gerenciadores de pacotes, adicionar e remover software foi fácil.

É claro que há um monte de software disponível, e adicionando o repositório não livre eu achei tudo o que procurei. Gostei do Debian “Squeeze”, mas não ao ponto de recomendá-lo. Isso pode soar estranho, mas eu acho que o Debian não é uma das melhores distribuições baseadas no Debian. Quem quiser uma distro livre com as forças do Debian pode encontrar o que procura no Trisquel; quem quiser um Debian bem-acabado onde tudo funciona de primeira pode testar o Mint (que tem uma edição estilo Debian). Quem quiser tirar proveito do baixo consumo de recursos do Debian pode ter resultados melhores com o Saline. Administradores que querem uma distro para servidores podem resolver tudo rapidinho com o Ubuntu para servidores, curtindo cinco anos de atualizações e contando com a opção de adquirir suporte comercial. Cada um desses projetos está de pé sobre os ombros do Debian, e consegue oferecer uma experiência mais especializada e bem-acabada ao usuário. O que eu percebi foi que, depois de instalado e configurado, o Debian oferece uma experiência muito satisfatória – estável, útil, veloz, acessível – mas que acaba sendo genérico e universal demais, sem se destacar em nenhum aspecto específico.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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