Instalando o CentOS 5.3 em um netbook

Instalando o CentOS 5.3 em um netbook

Installing CentOS 5.3 on a Netbook – A Cautionary Tale
Autor original: Caitlyn Martin
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

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Por muitos anos, a minha carreira foi focada no Linux – em uma distribuição, em particular: o Red Hat Enterprise Linux (RHEL). Quando eu era consultora da Red Hat, em 2004 e 2005 e por mais algum tempo depois disso, eu tinha o RHEL 4 instalado no meu velho laptop Toshiba Satellite, e ele funcionava razoavelmente bem.

No mês passado, Radu-Cristian Fotescu, que escreve para o blog Planète Béranger, postou sobre o uso do CentOS 5.3 no desktop, descrevendo suas experiências como “simples prazeres”. Fotescu conquistou uma merecida reputação de ser negativo, particularmente no que tange às distribuições Linux. Ele foi realmente efusivo quanto ao CentOS 5.3, chegando a criar e a compartilhar com a comunidade seu próprio repositório de software extra e atualizado para desktops com o CentOS e o Red Hat Enterprise Linux 5.x. Com isso, eu comecei a brincar com a ideia de rodar o CentOS no meu netbook Sylvania g Meso. O CentOS é uma compilação 100% compatível do Red Hat Enterprise Linux, só que sem o suporte e o preço.

Pela experiência que eu tive usando o RHEL 4.x e o 5.x no meu laptop Toshiba, eu já sabia que a coisa não seria muito simples. Ninguém nunca disse que o CentOS e o Red Hat Enterprise Linux são fáceis de instalar e configurar. Os motivos para que a Red Hat tenha capturado a maior parte do mercado de servidores corporativos e de workstations Linux são a confiabilidade, a estabilidade, a segurança e o suporte. É um sistema operacional profissional, voltado para profissionais do Linux. Geralmente as empresas de maior porte seguem algum tipo de instalação personalizada em rede. Fazer uma instalação individual do CentOS em um hardware um pouco mais exótico dá algum trabalho.

No caso do meu netbook, esse “algum trabalho” é um eufemismo. O CentOS 5.x é em grande parte baseado no Fedora 6, que já tem mais de dois anos e meio de vida e é considerado obsoleto pelo grande público. A equipe da Red Hat, como todos sabem, adiciona suporte a hardware mais recente em seus lançamentos corporativos, e por sua vez, esse suporte aparece no CentOS, portanto eu estava esperando por resultados muitos bons na minha máquina virtual. Embora seja verdade que os netbooks e nettops (minidesktops) tenham chegado ao mundo corporativo, parece que de um modo geral eles ainda não têm um suporte muito bom no CentOS. De certa forma, posso dizer que botar o CentOS para funcionar aqui foi como encaixar uma peça quadrada em um buraco redondo. A verdade é que eu estava tentando fazer uma coisa para a qual o CentOS não foi feito.

Este artigo não deve ser encarado como uma crítica ao CentOS ou ao Red Hat Enterprise Linux. Os dois são muito, muito bons no que se propõem a fazer, que é oferecer um ambiente extremamente seguro e estável, com software testado e aprovado (ou seja, antigo). O artigo é um aviso para que você saiba o que acontece quando se tentar usar essa distro de uma forma para a qual ela não foi planejada. Afinal de contas, quando o CentOS 5 surgiu nem havia netbooks no mercado. Mesmo quando o Asus EeePC se tornou popular, ninguém imaginava encontrar netbooks no meio corporativo. Foi necessária uma combinação das características técnicas dos netbooks e uma grave crise econômica mundial para que isso acontecesse, mesmo que em pequena escala. O suporte a netbooks simplesmente não era visto como algo importante a ser incluído em um sistema operacional corporativo.

Embora seja possível fazer o CentOS rodar em um netbook, a tarefa não é das mais fáceis. Decidi documentar e compartilhar um pouco da minha experiência.

Instalação

O CentOS 5.3 usa o venerável instalador Anaconda, do Red Hat. Como minha intenção era a de instalar o CentOS no disco rígido, usei a imagem ISO de DVD, e não a versão Live em DVD. Em termos práticos, o que eu estava instalando era idêntico ao produto oferecido pela Red Hat.

O primeiro sinal de que as coisas não iam ser fáceis surgiu assim que a parte gráfica do instalador foi carregada. O Anaconda não tem suporte à resolução de 1024×600, popular em netbooks com telas de 8,9” e 10”. Em vez disso, o instalador rodou a 800×600, mas em vez de esticar a imagem para que se adequasse à tela, como algumas distros fazem, ele deixou um grande espaço negro na parte direita da tela. Isso, por si só, não chegava a ser um problema.

Fui seguindo o processo normal de instalação, respondendo às perguntas habituais. Eu preferi fazer uma instalação altamente personalizada, reutilizando uma partição existente e escolhendo, aplicativo por aplicativo, o que seria instalado. Enquanto eu escolhia os pacotes, a tela ficou preta. Não, não era o protetor de tela, eu estava trabalhando ativamente com o sistema quando a tela escureceu. Era possível usar CTRL-ALT e as teclas de função para alternar para um dos terminais virtuais e ver que o instalador parecia seguir adiante normalmente, mas por mais que eu tentasse o instalador gráfico não aparecia mais.

Eu até poderia ter tentado começar de novo com o velho instalador em modo texto, que ainda é oferecido como uma alternativa no CentOS 5.3. Em parte porque eu queria intender o motivo disso ter acontecido, e em parte porque às vezes eu sou terrivelmente teimosa, decidi tentar de novo com o Anaconda. Nenhum erro aparecia no log, e na terceira tentativa eu consegui ir até o fim com a instalação. Até agora não sei a causa do problema. Se você pretende instalar o CentOS em um sistema com placa de vídeo Intel Express Graphics 945, eu recomendo o uso do instalador em modo texto.

Configuração Inicial

Depois que botei o CentOS 5.3 para funcionar, decidi instalar alguns patches de segurança e atualizações antes de fazer qualquer coisa. Para mim não faz sentido usar um sistema que não seja seguro, nem mesmo por pouco tempo. Como eu estava pensando em escrever um artigo sobre o CentOS para o DistroWatch Weekly (na verdade, uma análise do CentOS 5.3 no desktop, em vez deste que estou publicando hoje) achei melhor fazer as coisas da forma mais amigável e usar o Pirut, a ferramenta gráfica de atualização do sistema, em vez de partir para o Yum na linha de comando. Só que acho que essa decisão não foi lá muito acertada.

Eu nunca tinha visto o meu netbook rodando devagar antes. Após a instalação inicial, tudo nele se arrastava. Até para desenhar os ícones do menu Aplicativos do GNOME ele demorava. Essa foi a primeira coisa que tentei resolver. O Pirut funcionou, ainda que de forma dolorosamente lenta. Ele mostrou uma extensa lista de atualizações necessárias. Fui em frente e cliquei no botão para baixar e instalar as atualizações. O resultado parecia uma mosca presa em âmbar: o sistema estava tentando se mover, mas não conseguia. Eu saí, fiz um cafezinho, e quando voltei a coisa tinha andado muito pouco. Abri o monitor do sistema e ficou claro que parte do problema era uma conexão ruim do CentOS com o repositório ou mirror, que apresentava um tráfego de rede intermitente. Mesmo quando os downloads eram concluídos, o Pirut rodava incrivelmente lento. O processo de atualização foi até o fim mais de três horas depois. Uma recomendação: não repitam o meu erro. Configurem tudo primeiro e apliquem os patches depois. Sei que a turma paranoica não vai aprovar o que eu disse, e com bons motivos. Mas se tiver que aplicar patches, pelo menos use o Yum em vez do Pirut.

Agora que eu tinha aplicado os patches no meu sistema e que ele continuava rodando terrivelmente lento, decidi procurar pela causa do problema. Fui ao menu Sistema e dei uma olhada nos serviços que estavam em execução. Por padrão, o CentOS inicia um monte de coisas que fazem sentido em um grande ambiente corporativo, mas que não são lá muito necessárias em um netbook. Eu já esperava ter que desabilitar alguns serviços, e que o desempenho melhoraria depois que eu fizesse isso. O que eu não esperava era que tudo o que eu desmarquei durante a instalação tivesse sido selecionado automaticamente mais uma vez pelo Anaconda. Havia uma longa lista de serviços rodando como daemons, e eu tinha tentado deliberadamente não instalá-los.

A melhor explicação que eu tenho para a causa disso foi a de que o Anaconda achou que os pacotes que eu havia desmarcado seriam dependências de outros e acabou tendo que instalar tudo. Os pacotes do CentOS são compilados para oferecerem um máximo de recursos e funcionalidades, e não para serem elegantes e eficientes. É uma escolha filosófica, que faz sentido para o público-alvo: consumidores corporativos com redes grandes e variadas. O resultado fora de um ambiente corporativo é um monte de tralhas.

Primeiro eu parei e desabilitei todos os serviços dos quais eu não precisava. O ganho de desempenho foi óbvio e imediato. Meu sistema já não estava mais lento. Uma olhada mais cuidadosa sobre os serviços que ainda rodavam me permitiu excluir mais alguns deles, e o resultado final foi um sistema que respondia bem.

Drivers ausentes e outros problemas

Ao analisar os serviços, acabei acrescentando um: o Network Manager. Assim que eu iniciei o serviço, ficou claro que a rede WiFi não funcionava. O CentOS é a primeira distro atual que eu testo no meu netbook que não reconhece minha placa de rede sem fio RaLink e não carrega o driver rt73. O driver não era parte do kernel 2.6.18, e ainda não foi adaptado como backport para o kernel do CentOS. Visitei todos os repositórios de terceiros que eu conhecia para o RHEL/CentOS, e não achei nenhum pacote do driver. A única solução foi pegar o código fonte antigo do CVS no SourceForge e compilá-lo.

Minha webcam também não estava funcionando, mais uma vez por conta da falta de um driver. Sem falar que o Anaconda achou que seria interessante instalar o software para conferência de vídeo que eu havia desmarcado na instalação. O software é inútil sem a webcam. Mais uma vez, minha única alternativa era baixar e compilar o código fonte. Não tive tempo para isso.

Outro problema meio chato é a forma como o CentOS lida com meus cartões SD. Em vez de um ícone no desktop, apareceram dois quando eu inseri o cartão. Além disso, não consigo desmontar o cartão sem ser como root, pela linha de comando. Clicar com o botão direito em um dos ícones e selecionar a desmontagem não funcionou. Um ícone desapareceu, mas o cartão continuava montado e o sistema achava que o cartão ainda estava em uso. Tentar desmontar o segundo ícone clicando com o botão direito não resolveu o problema. Nada acontecia. Também não tive tempo de resolver esse problema.

Conclusões

Botar o CentOS para funcionar direito no meu netbook foi uma longa e árdua tarefa. Felizmente eu estou muito, muito familiarizada com a distro, e estou disposta a abrir o capô e consertar tudo. Todos os problemas que eu descrevi podem ser resolvidos, e se eu não fosse tão teimosa e tivesse tomado algumas decisões melhores provavelmente já teria resolvido tudo. Acredito que, no fim das contas, o CentOS vai funcionar direito no meu sistema. Só preciso trabalhar um pouco em cima disso.

Com certeza, vocês devem estar perguntando por que eu não volto a usar uma distro que simplesmente funcione no meu hardware. A maioria das distros funciona. A minha determinação em fazer o CentOS funcionar (e funcionar bem) em um sistema no qual o Windows XP se arrastaria pode impressionar a alguns, e deve servir como uma boa propaganda da distro. Também é uma boa poder replicar com sucesso boa parte do meu ambiente operacional corporativo no meu pequeno laptop, especialmente quando estou viajando. Para o típico usuário doméstico ou amante do Linux, provavelmente não vale muito a pena passar por isso tudo.

Mesmo nas melhores condições, tornar o CentOS em um ambiente de desktop desejável para o usuário doméstico dá um trabalho razoável, e exige visitas constantes a repositórios de terceiros e a pacotes de código fonte para a obtenção de pacotes e atualizações adicionais. O CentOS não conta com a seleção de software com a qual outras distros populares contam. Embora eu não tenha objeções a aplicativos bem testados e confiáveis, ainda que um pouco antigos, eu tenho objeções a aplicativos com vulnerabilidades de segurança sérias e conhecidas, mesmo após a aplicação de patches. Vocês devem se lembrar de que eu reclamei sobre o trabalho que eu tive depois da instalação inicial do Slackware. O Slackware é moleza perto do que eu tenho que fazer no CentOS, e meu trabalho ainda não acabou.

Por outro lado, se a ideia é levar um netbook ou qualquer notebook a um ambiente corporativo no qual a segurança é a principal preocupação, fica difícil achar uma alternativa melhor do que o CentOS. Quase todos os métodos de autenticação encontrados por aí são suportados nativamente, assim como o SELinux. A estabilidade e a confiabilidade são fenomenais.

Não há uma distribuição Linux que sirva para tudo. Para o uso em netbooks, o CentOS exige uma bela mexida. Achei que seria interessante compartilhar com vocês a quantidade de trabalho necessária.

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CentOS 5.3 rodando o GNOME no meu netbook, com algumas personalizações

Créditos a Caitlyn Martin http://distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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