A AMD irá desenvolver plataformas baseadas na arquitetura ARM?

A AMD irá desenvolver plataformas baseadas na arquitetura ARM?

Eis, mais uma das minhas previsões mirabolantes, que nem todos os leitores do GdH gostam (e adoram questionar): Dada a crescente adoção da arquitetura ARM em outros dispositivos móveis além dos celulares e smartphones, pessoalmente acredito que a AMD deveria pensar seriamente em desenvolver soluções baseadas na arquitetura ARM. À primeira vista, a ideia pode parecer um pouco exagerada; no entanto, ao longo deste artigo nós iremos perceber que certos aspectos estratégicos trarão vantagens muito interessantes (para a AMD), se a proposta for considerada seriamente.

Logotipo da AMD

A AMD está em cima do muro? Sim, literalmente! 😉

De um lado, temos a plataforma x86, baseada especialmente no legado da computação pessoal e centrada na imagem do clássico PC desktop, mas que deseja estender seus domínios para os dispositivos móveis. Do outro lado, temos a promissora plataforma ARM, que está no centro de todo o atual ecossistema de dispositivos móveis. Ambas duelam vigorosamente, para marcar a presença em um novo mercado em crescente ascensão: a computação móvel. E em cada front da batalha, estão as duas grandes concorrentes da AMD, que são as sua velhas conhecidas: A Intel e a nVidia.

Por longos anos, a Intel dominou o mercado de PCs desktops através da consolidação de sua arquitetura x86. Já a nVidia, se tornou a fabricante número 1 em soluções gráficas para a alta performance, embora tenha perdido recentemente o posto para a AMD/ATI. Embora tais empresas tenham se mostrado fortes adversárias em suas áreas de atual, a aquisição da ATI trouxe para a AMD, a capacidade de criar uma solução única, capaz de integrar tanto a capacidade de processamento de dados (CPU) quanto a criação de gráficos tridimensionais (IGP). Tal solução, a conhecemos como APU (Aceleration Processor Unit), sob o nome comercial Fusion.

Graças à compra da ATI, AMD dispõe de uma vantagem estratégica muito interessante com o desenvolvimento das APUs, dada a necessidade de manter uma concorrência acirrada por parte de seus adversários. Por outro lado, ela forçou a Intel e a nVidia a criarem as suas soluções em plataformas integradas. A Intel já oferece uma nova arquitetura x86 híbrida chamada Sandy Bridge, onde a CPU e o IGP compartilham o mesmo die, mas ainda não compõem uma unidade coesa, como a solução da AMD. Para variar, é considerada uma solução “desequilibrada”: ao mesmo tempo em que as CPUs são mais poderosas, os IGPs são bem modestos. Para variar, esta plataforma ainda é voltada para o segmento de alta performance, como os PCs desktops, servidores e workstations, enquanto que a AMD oferece o Bobcat, o qual é feito exclusivamente para o ramo dos portáteis.

Já a nVidia, impossibilitada de contar com uma licença da arquitetura x86, há tempos vem desenvolvendo a plataforma nVidia Tegra. Antes, ela se diferenciava da Intel e AMD por disponibilizar de apenas um chipset, dotado de todos os recursos necessários, além de um IGP GeForce relativamente poderoso. Assim, uma simples e modesta CPU Intel Atom poderia contar com uma ampla gama de recursos, desbancando o famigerado chipset NM10 e seu medíocre IGP Intel GMA 3150 (que sequer suporta decodificação de vídeos em alta definição). Porém, sabemos que com o tempo, as futuras revisões do Intel Atom irão integrar todos os componentes essenciais de um sistema em um único SoC (tal como acontece com as soluções da ARM), enterrando o Tegra para a plataforma x86. O resto da história, vocês já conhecem: o Tegra 2 e o Tegra 3 são exclusivos da plataforma ARM.

Diferente da arquitetura x86, a arquitetura ARM sempre foi focada em dispositivos móveis, onde a autonomia do sistema de energia (aka. bateria) e (consequentemente) o baixo consumo, são os seus principais requisitos. Suas CPUs são baseadas na arquitetura RISC, com instruções simples e curtos estágios de pipeline, o que garante aos seus produtos uma relação performance vs consumo muito interessante: embora não tenhamos tanto poder de processamento (se comparado à arquitetura x86), as CPUs ARM geralmente consomem algo inferior a 2 watts! Só para ter ideia, um SoC baseado no moderno ARM Cortex-A9 dual-core, consegue rivalizar em desempenho com o Intel Atom, rodando sob uma velocidade menor e consumindo bem menos. A plataforma Pine Trail da Intel consome algo em torno de 7 Watts, já considerando o IGP e os chipsets.

Se a ótima relação desempenho vs consumo já apontava o favoritismo para a ARM, agora temos um outro mercado em franca expansão, que também colocam as soluções baseadas em SoCs ARM em grande vantagem: os jogos em dispositivos portáteis. Foi se o tempo em que os joguinhos casuais eram versões de clássicos como o Snake, o Pacman e o Tetris! Nos dias de hoje, os smartphones estão bem equipados com IGPs relativamente poderosos, como o Adreno e o PowerVR, com a capacidade de rodar jogos que até antes eram concebíveis em apenas PCs desktops de anos atrás, dotados de placas de vídeo 3D poderosas em suas épocas. Para variar, as soluções gráficas de uma velha conhecida da AMD, já se encontra disponível no mercado, oferecendo poder gráfico ligeiramente maior que as demais: o nVidia Tegra.

O potencial das soluções baseadas na arquitetura ARM é tão grande, que a Apple – através dos iPhone, iPad e iPod – já comercializa bons títulos de jogos, em sua App Store. Em destaque, o jogo Infinity Blade e a demonstração Epic Citadel, ambos baseados na badalada engine Unreal 3. Enquanto isso, a Sony já se antecipou ao anunciar o sucessor do PSP: o NGP, baseado em um SoC ARM, com 4 CPUs ARM Cortex-A9 e o poderoso IGP PowerVR SGX543MP4+. Tal é a sua capacidade de processamento, que a Sony prometeu converter alguns títulos de jogos para rodar diretamente no portátil, estes feitos originalmente para o PlayStation 3. Por fim, a própria nVidia lançará a terceira versão da plataforma Tegra, que será baseada em um SoC ARM Cortex quad-core (e um IGP GeForce) e que virá para rivalizar com os demais concorrentes, além de uma engine chamada Unity que, otimizada para o Tegra, rivalizará com a engine Unreal 3. Ainda assim, haverá bastante espaço para os jogos casuais, tal como demonstrou o excelente e viciante Angry Birds! 😉

Embora o seu foco também seja o desenvolvimento de processadores (assim como a Intel), a ARM Holdings possui práticas comerciais bem diferenciadas: ela optou por adotar o licenciamento democrático da sua arquitetura, possibilitando diferentes fabricantes a produzirem suas próprias CPUs baseadas em suas arquiteturas. Enquanto que os processadores x86 são desenvolvidos apenas pela Intel e AMD (como uma insignificante participação da VIA), existem várias empresas que produzem CPUs ARM: Broadcom, DEC, Freescale, Marvell, nVidia, Qualcomm, Samsung e Texas Instrument, sem contar as outras empresas de menor porte. Apenas por curiosidade, até mesmo a própria Intel já fabricou CPUs ARM, apesar de já ter se desfeito da a linha Xscale, vendendo-a para a Marvell.

A expertise no desenvolvimento de CPUs com baixíssimo consumo e as práticas comerciais mais democráticas, deixaram as CPUs ARM em uma condição extremamente favorável no mercado da computação móvel, se comparadas com as CPUs x86: mais de 90% dos smartphones, além de uma grande parte dos tablets, são baseados em sua arquitetura! Para variar, com a popularização do sistema operacional Android (voltado especialmente para CPUs ARM) e a força da Apple (embora monopolista), a ARM garante um lugar especial neste novo ecossistema que será formado e em que anos anos, já se fazia presente. Lugar este, em que dificilmente será desocupada para dar lugar ao x86, uma arquitetura de processadores que se mostra complexa e energeticamente ineficiente, além de ser patrocinada por uma empresa com práticas monopolistas bastante conhecida…

Eis, os cenários atual e futuro da computação móvel. E analisando cuidadosamente todas as possibilidades imagináveis, pergunto: até que ponto será viável continuar a desenvolver soluções baseadas na ineficiente arquitetura x86 para os dispositivos móveis? Ela deveria permitir a nVidia entrar “sozinha” no interessante mundo dos jogos casuais para dispositivos móveis? O quanto ela aguentará concorrer com a poderosa e desleal Intel? Com o iminente “fim” dos PCs desktops e o crescimento dos jogos para consoles, qual será o futuro do mercado de placas 3D dedicadas? O que será das placas 3D de entrada e mainstream, assim que as APUs disporem de performance suficiente para substituí-las (lembrem-se de que 80% do mercado é da Intel)?

Por estas e outras questões, acredito seriamente que a AMD deveria também fazer parte deste novo ecossistema da computação móvel, através das soluções baseadas na arquitetura ARM e IGPs Radeon, com todas as ofertas de serviços e recursos pertinentes. Ao menos, não que esta investida deva se tornar o principal caminho para os seus novos rumos, mas pelo menos se posicionar melhor estrategicamente entre os seus concorrentes.

E vocês, caros leitores: o que acham? &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at]gmail.com>

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